ANNELIZ COLLEMAN
A luz do sol invadiu o quarto pela fresta da cortina sem pedir permissão, fazendo-me fechar os olhos de imediato assim que acordei. Um gemido escapa dos meus lábios enquanto tento compreender a intensidade da dor que pulsa na minha cabeça. Ah, a clássica ressaca, companhia indesejada que sempre chega sem aviso prévio.
Reabro os olhos lentamente, observando o teto como se pudesse encontrar respostas para a minha condição matinal. A sensação de ter exagerado nos drinks da noite anterior começa a se materializar.
Mas, esse não é o meu quarto. Onde estou? Onde vim parar, meu Deus?
A boca seca e o gosto amargo são os únicos lembretes da noite de ontem. Como saí daquela danceteria?
Tateio a mesa de cabeceira em busca de um analgésico, ansiosa para libertar minha cabeça do aperto insistente.
— É isso que está procurando?
Pulo na cama de susto e puxo o lençol cobrindo meu corpo nu.
— Senhor ... Latarge?
— Bom dia, AnneLiz. Acho que já temos intimidade suficiente para eliminar esse tratamento formal.
Olho ao redor apavorada com o coração na boca. A mão estendida com a cartela de analgésicos e um copo d’água. Seu rosto impassível sem nenhuma reação aparente me deixa muito envergonhada.
— Eu... Nós... Onde estou?
— Na minha suíte no hotel Sutter. Beba o analgésico, estou te esperando para o café da manhã na sala, precisamos conversar.
Engulo o nó da garganta seca e pego a salvação da minha enxaqueca vendo o homem me dar as costas.
Droga! Droga! Droga! Merda! O que foi que eu fiz?
Após beber o comprimido, levanto-me com cautela, como se cada movimento desencadeasse uma sinfonia de marteladas no meu crânio. O simples ato de ficar em pé se torna uma tarefa difícil. Lentamente ando até o banheiro.
O espelho à minha frente revela os vestígios da noite anterior. O batom vermelho, outrora uma obra-prima, agora é uma lembrança borrada da minha falta de juízo. Não devia ter usado.
Preciso de um banho rápido para orientar meus pensamentos. Como pude fazer essa loucura? Dar para o chefe, AnneLiz! O que sua filha vai pensar se souber que a mãe é maluca dessa maneira?
O chuveiro quente é um bálsamo para a ressaca. Enquanto a água escorre, uma reflexão dolorosa do que poderia ter sido uma noite perfeita se mistura com o som das gotas batendo no chão do box. Era só ir para casa e não beber tanto. Lembro de ver aquele traste e entornar uma dose atrás da outra. Devo ter pulado sobre Sebastian e me oferecido, até ele não ter escolha a não ser me trazer para cá. Que vergonha!
Com uma toalha ao redor do corpo e a esperança fracassada de que o calor do chuveiro trouxesse redenção, enfrento o reflexo no espelho novamente. Não acredito que fez essa besteira!
Visto-me com cuidado, tentando abafar as queixas do meu corpo protestante.
Enquanto me preparo para enfrentar minha vergonha na mesa do café, a promessa silenciosa de juízo no próximo evento que eu for ecoa em minha mente.
Se é que haverá outro evento com a ilustre bêbada convidada.
Na sala adjacente da suíte, nervosa, vejo o meu chefe sorvendo um gole de café.
— Acomode-se — diz ao afastar a cadeira ao seu lado.
Ainda bem que está entretido com a manteiga e a torrada e não olha para o meu rosto.
— Preciso buscar minha filha na casa da avó, elas devem estar preocupadas.
— Vinte minutos para o café não vai mudar a preocupação delas, depois eu mesmo levo você até lá. — Dessa vez ele me encara firme.
Obedeço intimidada e me acomodo ao seu lado.
— Como gosta do seu café. Leite?
— Puro.
— Açúcar?
— Sim, quatro colheres, por favor.
Ele me encara antes de servir.
— O que foi?
— Não acha muito açúcar para começar o dia?
— Toma o seu café amargo?
— Sempre.
— Por quê?
— Não faço uso de substâncias que viciam. E açúcar é altamente viciante.
Bebo um gole, sentindo o prazer do café preparado a meu gosto. O estômago ronca, mas não tenho tempo de me concentrar nele.
— Senhor Sebastian, peço desculpas por qualquer coisa que eu tenha feito ontem. Eu... Não costumo fazer esse tipo de coisa... Ir para a cama de alguém que mal conheço. E... nunca houve outro além de meu ex... Então peço por favor que não me demita por ontem à noite. Preciso muito desse emprego, pelo menos até encontrar outro trabalho.
— Qual a última coisa que lembra daquele coquetel?
Ele prepara uma torrada com uma camada generosa de geleia e coloca no meu prato.
— Lembro de estar dançando no meio de pessoas estranhas, tudo apaga depois dessa cena. Infelizmente se eu beber um pouco demais não demonstro a alteração, mas sofro as amnésias no dia seguinte, na festa do meu casamento foi assim... Enfim. Desculpe pelos meus atos, não faria nada do que fiz se estivesse normal.
— Não?
— Tenho certeza de que não faria.
Envergonhada, foco a atenção na refeição, mesmo sentindo seu olhar em minha direção, ignoro a vontade de encará-lo e mordo o pão.
O silêncio acentuado pelo som da louça fina com os talheres me deixa angustiada. Longos minutos se passam até ele falar:
— Não devia beber se tem lapsos de memória tão graves. Principalmente em um evento do trabalho. Espero que não se repita.
— Claro, certamente, tem toda a razão.
Nervosa, não sei como agir nessa situação e me calo tomando o café.
Meu chefe termina o dele e me encara firme.
— Não se preocupe, você não fez nada demais. Só bebeu além da conta e eu ofereci uma carona, mas como adormeceu assim que se acomodou no veículo, não quis despertar do seu sono para perguntar onde morava.
Confusa, procuro sua expressão, mas ele desvia para seu café, como se não tivesse falado nada.
— Não … transamos?
— Não.
— Mas como acordei nua? Onde você dormiu? Não vejo outra cama aqui!
— Você mesma se despiu achando que estava na sua casa, quando percebi o que fazia vim para a sala e dormi ali no sofá de três lugares. — Aponta para o móvel no canto do cômodo.
— Eu ... Desculpe.
— Está se desculpando por ter tirado a roupa, por não termos ido pra cama ou por não lembrar do que fez?
— Sei que é meu chefe e que cometi um erro em relação à bebida. Não peço que entenda meus motivos, mas por favor, não seja cínico. Não gosto disso! — nos encaramos por alguns segundos até eu quebrar o contato e beber o último gole de café.
— Tem razão, foi rude e peço desculpas. — O tom debochado dá lugar ao profissional gelado e distante. — Se puder não comentar na empresa onde passou a noite, será melhor.
— Certamente, não se preocupe. É melhor eu ir agora.
— Eu levo você.
— Não se incomode. Afinal, a discrição pede que eu chegue em casa em um táxi.
— Muito sensata. Agora preciso me despedir, tenho um compromisso, mas pode terminar o seu desjejum antes de ir. Nos vemos na segunda.
— Certo, obrigada por deixar que eu ficasse aqui.
Com um aceno e sem mais assunto, se despede e sai.
Termino a refeição minutos depois e com minha pequena bolsa saio e pego o primeiro elevador que vejo.
Inconformada, não paro de pensar em como essa situação é absurda. Ainda mais com um homem tão sério feito ele. Oferecer carona a uma funcionária que mal trocou algumas palavras? E se fui eu quem pediu e para não me constranger ele contou outra versão? O que mais ele não contou sobre ontem?
Ao chegar na casa da minha mãe e pagar o táxi, Juju vem correndo me receber na porta.
— Mamãe, que bom que voltou cedo.
— Você está bem, minha princesa?
— Sim, estou melhor. Ajudei a vovó a fazer biscoitos, estão no forno. Fiz um em forma de borboleta para você.
— Hum, ansiosa para provar! Onde está sua avó?
— Na cozinha.
Chegando lá, minha mãe tira o avental e vem me cumprimentar.
— Bom dia filha! Que bom que chegou. Já tomou café com sua amiga? Se não, posso preparar a mesa.
— Amiga? — indago confusa.
— Sim, a que você disse ontem à noite, por mensagem que dormiria lá por ser mais perto do evento.
Pego o meu celular na pequena bolsa e procuro as mensagens enviadas. Uma e sete da manhã, tem um aviso simples e curto para a minha mãe exatamente como ela falou. Não fui eu que escrevi isso.
— Sebastian!
— Quem? — pergunta ela.
— Não, nada. Recebi uma mensagem do meu chefe para não esquecer os relatórios amanhã. Já tomei café na casa da minha amiga, não se preocupe, mãe. Eu e Juju temos que ir para casa.
— Ah, mamãe, podemos esperar os biscoitos ficarem prontos, por favor?
— Podemos, claro. Enquanto isso vou arrumar nossas bolsas.
— Eu fico com a vovó, quero ver como faz a cobertura.
— Tá bom, meu bem.
No quarto, dobrando as roupas de Juliete, medito em como encontrar um jeito de perguntar sobre as coisas que meu chefe não me contou. Por mais vergonhoso que seja, preciso saber a verdade sobre o que fiz naquela maldita festa. Mais que isso, como realmente fui parar no quarto de hotel do meu chefe.
Está decidido, amanhã cedo vou conversar com ele.
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Meu CEO Protetor
RomanceSlow Burn + CEO possessivo + chefe e funcionária + proximidade forçada + criança fofa AnneLiz Colleman, uma mãe jovem e determinada, luta para proporcionar uma vida melhor para sua filha após uma decepção com o marido. Sua vida dá uma reviravolta qu...