CAPÍTULO 3

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ANNELIZ COLLEMAN

O meu mundo ruiu diante da afirmação do Sr. Latarge sobre a mulher postada na minha frente. Tudo o que eu menos precisava agora era ter uma rival tão poderosa. Pois sabia que uma mulher como aquela, ainda mais depois de chamá-la de vaca com todas as letras maiúsculas, faria de tudo para se vingar do modo mais cruel possível.
— Bom dia, maninho! Vejo que seu dia está agitado hoje? — Seu sorriso é puro veneno.
— Bom dia, Lili. O que aprontou agora? — Ele soa frio e nervoso, seu maxilar barbado bem projetado retesa visivelmente.
— Eu?! — Se faz ofendida. — Nada!
— Então você pode explicar por que chamou minha irmã de vaca, AnneLiz? — O tamborilar dos seus dedos na mesa me apavora, faz meu sangue gelar e minha testa suar.
Como explicar a situação ridícula que me encontro sem ter minha demissão assinada?
— Bom... — Não posso negar que estou chocada com essa situação. — É que sua irmã...
As palavras não saem, mas a raiva me domina por entender o porquê meu marido aceitou tão fácil assinar os papéis do divórcio. Ele tem uma amante rica. Pior, irmã do meu chefe. Estufo o peito e decido colocar as cartas na mesa. Preciso me libertar desse ciclo vicioso de submissão.
— Na realidade, senhor Latarge… — Começo com voz firme e dureza em meu semblante o encarando. — Sua irmã estava na cama com meu marido ontem à tarde, na minha casa.
Toneladas de peso parecem ter sumido de imediato dos meus ombros. A sensação de bem-estar, mesmo depois de tanta humilhação que me abate, flui dentro de mim como uma benção.
Estou de alma lavada e pronta para qualquer desafio que porventura surja. E certamente as coisas estão apenas começando agora com a revelação da amante de Daniel.
— Sério, Lili? Fez essa merda mesmo?
— Ele não é mais marido dela! Já estão separados faz tempo. — Ela joga os braços para o alto fitando-o. — Ele iria pedir o divórcio a ela ontem e seria um homem livre... — Se aproxima da mesa para se sentar diante do irmão petrificado de terror.
— Nem se atreva a sentar. Quantas vezes já lhe disse para não se envolver com homem casado, porra? Traição eu não admito!
— Por favor, Sebastian! Essa sonsa está aumentando o drama! — Lili revira os olhos e me olha de cima abaixo. — Em quem vai acreditar? Na sua irmãzinha ou nessa desconhecida? Acabei de dizer, já estavam separados há tempos!
— Conheço bem a irmã que tenho. — Sebastian levanta e aponta a direção onde estou parada no meio da sala luxuosa — No mínimo peça desculpas a ela! — ordena irritado.
Ouço uma risada debochada e um resmungo evidente.
— Desculpas? Está maluco? Não vou pedir desculpas a essa mulherzinha por dormir com o meu homem!
— Não vou aceitar uma relação dessas em nossa família, Lili! Perdeu o juízo? — Deixo um sorriso amargo brotar em meus lábios. Finalmente alguém que tem um senso de dignidade nessa família.
Porém o olhar frio do CEO em minha direção demonstra que interpretou meu sorriso erroneamente. Endireito rapidamente minha postura e tento não deixar que veja o quanto estou frágil por dentro com toda essa situação e confronto.
— Quer saber, Sebastian? Já tenho idade para tomar decisões sobre minha vida! Passar bem! — A vaca sai furiosa da sala batendo com força a porta atrás de si.
Não espero para ouvir nenhum sermão de irmão raivoso. Junto os papéis assinados e ando em direção a saída quando sou segurada pelo braço. Senhor Latarge me faz encarar seus olhos gelados, despejando:
— Pode me explicar o que realmente aconteceu? — Sua voz calma e fria, corta a minha alma, pois me faz sentir culpa das coisas que a irmã dele fez.
— Foi exatamente como eu disse. Cheguei em casa e os flagrei na minha cama! — tento me soltar, mas o aperto é firme. Seu perfume caro está exalando próximo a mim como uma áurea de poder e dinheiro.
— Melhor ninguém saber disso, entendeu? — É firme e direto.
— Eu fui traída, humilhada e....
— Se preza pelo seu emprego, seja discreta, dona AnneLiz. — Me solta de sua investida arrumando o nó da gravata.
— Sim senhor... Vou manter a minha vergonha recolhida na gaveta dos humilhados. — Meus olhos marejam, mas de jeito nenhum esse insensível vai ver minha fraqueza.
— AnneLiz, — suspira profundamente — me expressei mal, mas entenda que o nome Latarge em um escândalo desses...
— Não se preocupe, prezo pelo meu emprego e preciso dele neste momento, entendi muito bem a sua ordem, senhor Latarge.
Mesmo com o olhar intenso sobre mim, lhe dou meu desprezo e saio da sala a passos firmes para enterrar minha vergonha em algum lugar longe dali.
Antes de voltar a minha sala, passo pelo banheiro e lavo o rosto alinhando o desastre da minha figura abalada e conto até mil. Ainda bem que segurei as lágrimas, ninguém vai me ver chorar aqui dentro!
Recomponho-me da melhor maneira que posso e retorno para minha mesa de trabalho. O pessoal se junta à minha volta para saber como o CEO Sebastian é de perto. Por um segundo, penso em dizer a geleira insensível que ele é. Do que adiantaria extravasar minha frustração do que houve há minutos atrás? Daria apenas mais munição aos fofoqueiros do meu setor.
Séria e sucinta, apenas o descrevo um chefe como outro qualquer. Alguns insistem em saber se eu já o conhecia, mas céus! De onde eu poderia conhecer um homem como ele? As garotas estão afoitas falando da sua beleza máscula, sua estatura e elegância.
Concordo mentalmente que é um homem incrivelmente bonito, mas qualquer outro atrativo acaba ali. Controlada, aperto com força o lápis em minha mão lembrando que por dentro, ele não é uma pessoa bonita.
— Ok, chega de fofocar e voltem ao trabalho! — meu supervisor bate palmas espalhando o bolinho de gente na minha mesa. — Tenho uma tarefa para você amanhã à noite, AnneLiz.
— Amanhã é sábado, senhor Anderson!
— Sim, eu sei, mas precisa ir a um coquetel importante.
— O que? Por favor, não tenho condições… — tento mirar a tela do computador. Com um mantra interno para que volte às suas tarefas e me deixe em paz.
— Não perguntei se tem condições. Estou apenas informando que vai a um coquetel que faremos para os clientes serem apresentados ao presidente.
— Coquetel? Droga! Não consigo ser sociável. Achei que a fofoca já tivesse caído na sua mesa! — Reviro os olhos vendo seu sorriso de canto, tripudiando minha desgraça. Jason Anderson é um porco!
— Que ganhou um belo par de chifres? Ah, sim, fiquei sabendo. Mas, minha cara, isso era previsto. — A risada machista dele me abala. — Use o seu melhor vestido, seu melhor perfume, faça uma boa maquiagem nesse rosto de vítima e aproveite para dar o troco! É um trabalho, mas poderá se divertir, senhorita AnneLiz. — A ênfase no Senhorita é outra provocação.
— Sério? — Meu Deus, o que esse homem pensa que sou? As outras pessoas também pensam isso de mim? Que triste sina!
— Querida, Daniel não te merece! Na verdade, nunca mereceu! Não se faça de coitada, não combina nada com você. Você é uma mulher jovem, vá caçar alguém que te faça feliz e que você possa fazer as unhas, pelo menos, e não cuidar da casa para um inútil comer outra lá dentro. — Me oferece um sorriso comedido enquanto flerta com a estagiária nova trabalhando perto da impressora.
— Eu tenho uma filha...
— Ele também tem. Mas lembrou disso? AnneLiz, a vida não pede perdão, ela ensina com pregos e dor. — Quebro ao meio o lápis que tenho em minha mão. Verdade! Em nenhum momento ele se lembrou de Juliete.
— Ok. Farei o possível… — Não disfarço o desânimo e a voz arrastada. Não sei se tenho coragem para tanto.
— Boa menina...
Sai transmitindo outras ordens pelo caminho aos empregados entediados, enquanto dentro de mim, suas palavras retumbam feito eco em uma caverna. Curar uma traição com outra é justificável? Não sei a resposta, mas sei que se decidir faltar a esse coquetel estarei na rua e não posso perder esse emprego agora.

                              Ƹ̵̡⁠Ӝ̵̨̄⁠Ʒ

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