Em Little Women, conta-se a história de quatro irmãs Meg, Jo, Beth e Amy March, que enfrentam seu primeiro Natal sem o pai, que serve na Guerra Civil. É o marco inicial da jornada de formação das quatro garotas, e neste livro as acompanhará nesse pr...
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Surpresas
JO ESTAVA SOZINHA, no crepúsculo, deitada no velho sofá, olhando para o fogo e pensando. Era sua maneira preferida de passar a hora do anoitecer. Ninguém a incomodava, e ela costumava se deitar no pequeno travesseiro vermelho de Beth, planejando histórias, sonhando sonhos ou pensando doces pensamentos sobre a irmã que nunca parecia muito distante.
Tinha o rosto cansado, sério e bastante triste; pois o dia seguinte era seu aniversário, e refletia sobre a rapidez com que passavam os anos, no avançar de sua idade e em quão pouco parecia ter realizado. Quase vinte e cinco, e nada para mostrar por tê-los vivido – Jo se enganava neste ponto; havia muito a mostrar, e logo ela o viu, e ficou grata por isso.
– Uma solteirona… eis o que serei. Uma solteirona literata, com uma pena por esposa, uma família de histórias no lugar de filhos e, daqui a vinte anos, talvez um pouco de fama, quando, como o pobre Johnson, for velha e não puder apreciá-la...solitária e sem ter com quem dividi-la, independente e sem precisar disso. Bom, não preciso ser uma santa azeda, nem uma pecadora egoísta; e, é possível dizer, as solteironas têm uma vida muito confortável quando se acostumam à solteirice, mas… – e aqui Jo suspirou, como se a perspectiva não fosse convidativa.
Raramente é, a princípio; e, para quem tem vinte e cinco anos, os trinta soam como o fim de todas as coisas; mas não é tão ruim quanto parece, e é possível seguir muito feliz caso se tenha algo em si para recorrer. Aos vinte e cinco anos, as moças começam a falar sobre serem solteironas, mas no íntimo decidem que nunca serão. Aos trinta anos, nada dizem a respeito, mas aceitam tranquilamente o fato; e, se forem sensatas, consolam-se lembrando que têm mais vinte anos úteis e felizes, nos quais podem aprender a envelhecer graciosamente.
Não riam das solteironas, garotas queridas, pois romances muito delicados e trágicos escondem-se nos corações que batem tão silenciosamente sob os vestidos sóbrios, e muitos sacrifícios mudos de juventude, saúde, ambição e do próprio amor fazem os rostos sem viço serem bonitos aos olhos de Deus. Até mesmo as irmãs tristes e azedas devem ser tratadas com gentileza, nem que seja porque perderam a parte mais doce da vida; e olhando para elas com compaixão, não desprezo, as moças na flor da idade devem lembrar que também podem perder o tempo de desabrochar; que as bochechas rosadas não duram para sempre, que os fios de prata chegarão ao cabelo castanho bonito, e que, cedo ou tarde, gentileza e respeito serão tão doces quanto amor e encantamento.
Cavalheiros, isto é, meninos, sejam corteses com as solteironas, não importa quão pobres, simples e decorosas sejam, pois o único cavalheirismo que vale a pena ter é o mais disposto a prestar deferência aos velhos, proteger os fracos e servir às mulheres, independentemente de classe, idade ou cor. Lembrem-se das boas tias que, mais do que dar sermões e se queixarem, cuidaram e deram carinho, muitas vezes sem um agradecimento em troca – as situações difíceis de que os tiraram, os “dinheirinhos” que lhes deram de sua lojinha, os pontos de linha com que seus dedos pacientes costuraram suas roupas, os passos que os pés velhos e dispostos caminharam, e ofertem com gratidão às velhas senhoras as pequenas atenções que as mulheres adoram receber enquanto vivem.