Um novo acordo solo

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  Os sentimentos são como uma enxurrada raivosa provocada por uma tempestade, intensas, grandes e assustadoras.

  Quando eu era pequena perdia horas de sono ouvindo minha mãe chorar no quarto ao lado, as vezes eu gostava de pensar que talvez sua angústia fosse só pelo dia cansativo em dois empregos, mas no fundo eu sabia que muitas das suas lágrimas eram por culpa do meu pai, sei que ela se preocupava em não conseguir dar conta de tudo sozinha e que fazia tudo que podia, isso a fez perder muitas coisas importantes em meu crescimento, eu nunca a culpei. Me perguntava se o sentimento que ela tinha por meu pai sumiu tão rápido, se a dor que ele a causou ajudou em esquecê-lo, como ela teve forças pra deixar de amar alguém a qual um dia iniciou uma família e o quão forte foi por conseguir seguir em frente sem transparecer a dor que a matava por dentro.

Queria tanto ser forte como você mãe.

{...}

   Suspirei sentando sobre a cama de Riley em seu dormitório, com preguiça e cuidado eu me levantei vendo minha amiga perdida em seus sonhos, o relógio da cômoda marcava sete da manhã, uma pessoa normal voltaria a dormir mas eu não me sentia bem para aquilo então apenas me dirigi ao banheiro do quarto para usar a escova reserva que ela guardava para mim e me preparar mentalmente para voltar ao meu quarto.

   Não posso dizer que tive uma boa noite de sono, depois que Riley me encontrou e me ouviu chorar por um bom tempo ela me convenceu a subir e fazer companhia a ela, sua colega de quarto estava fora, podíamos conversar sozinhas, depois de tanta reluta eu aceitei. Não conversamos durante a noite, por mais que meu coração implorasse por aquilo eu jamais faria ela sentir algum ruim pelo tio, Riley derrubaria o mundo por mim e eu por ela, deixá-la longe desse conflito era a decisão mais madura que eu poderia tomar pela nossa amizade, ela parecia aceitar porque nem mesmo forçou pra que eu falasse, apenas aceitou e me acompanhou em um sono profundo.

   Na verdade, foi um sono profundo pelos primeiros 30 minutos, depois meus sonhos me atormentaram, revivi durante a madrugada inteira o maldito dia que Josh me fez amá-lo ainda mais, o dia que fizemos um trato "vive sua vida e eu vou viver a minha" "sei que você vai estar por aí e eu também " "essa é a sua oferta?" "Essa é a minha oferta" "algum dia?" "Algum dia!". Acho que ele levou mais a sério a parte do "eu vou viver a minha" porque ele realmente estava vivendo sua vida. Odiava pensar nisso tanto assim, mas havia decidido que não iria me martirizar por muito tempo, eu iria esquecê-lo de alguma forma. Acho que a faculdade é o lugar perfeito para esquecer dos antigos amores.

   Quando deixei o quarto de Riley silenciosamente para não acordar ela eu me vi rezado para que sábado de manhã não fosse o dia preferido de todos estarem pelos corredores. Com o rosto inchado pelo choro é uma noite pessima de sono eu atravessei o campus em direção ao edifício Twen do meu dormitório, meus pés machucados por andar sem proteção na noite passada me alertavam que eu estava acordada porque doíam o suficiente para que não me perdesse no mundo da lua. Ignorei todos os olhares curiosos dos poucos alunos que vi e subi as escadas o mais rápido que eu consegui doida para me jogar sobre minha cama e levantar somente na hora de ir embora, afinal era dia de passar o final de semana em casa, Matthews nos buscaria em algumas horas mas precisava me recompor antes.

   Murmurei baixo uma música qualquer enquanto me aproximava da porta que eu tanto ansiei, mas fui detida quando um semblante preocupado e alto se enfiou na minha frente. Ele novamente, odiava que sua simples presença mexia comigo de formas incontroláveis. Eu apenas parei e demorei até olhá-lo novamente mesmo não conseguido sustentar o olhar por mais de 15 segundos, ainda doía.

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