A Raposa no Jardim

13. Repouso

Liu Qingge abriu os olhos apenas no outro dia, sentindo seu corpo renovado, passando longos minutos na cama macia, lembrando de tudo que aconteceu em menos de uma semana, as memórias que conseguiu se recordar sobre sua vida antes de se tornar um familiar ainda estavam vivas e pulsantes, seu lado mais curioso queria explorar mais o seu passado, entender o que era e qual caminho deveria trilhar, talvez descobrir como entrar em contato com seus criadores, mas havia prometido ao casal que iria se conter nessa tarefa, também não queria sentir aquela dor mais uma vez, estava tudo bem apenas aprender o seu novo presente e explorar ele, o seu futuro agora era mais incerto do que nunca e isso o causava uma aflição nova.

"Onde... eles estão?", pensou Liu Qingge, franzindo as sobrancelhas.

Apesar de não ter paciência como uma grande virtude, ele passou os próximos vinte minutos na cama, esperando os anfitriões aparecerem, mas não escutou qualquer som vindo de fora do quarto, supôs então que haviam saído sem sequer o avisar.

"Eles não tem medo que eu saia correndo?", pensou ele irritado só com a ideia de ter sido deixado para trás, "Quando eles eram meus visitantes eu acompanhei eles pra todo canto e cuidei deles, ingratos!"

Liu Qingge abriu a porta do quarto e colocou apenas metade do corpo para fora, olhando curioso para os lados e então saiu, andando pelo corredor, explorando todos os cômodos, achando tudo estranho, desde a pia até a televisão, chegando no cômodo mais perigoso... a cozinha.

Ele mexeu nas gavetas, olhando os vários utensílios de cozinha, ao abrir da geladeira se arrepiou com o frio e fechou de uma vez, até que olhou para o lado e viu o fogão, começando a tocar no aparelho e assim que ia girar a peça para ligar seu pulso foi segurado.

— Não faça isso, shishu. Se quiser comer algo eu preparo para você.

— Não me assuste! — brigou Liu Qingge se soltando dele e recuando alguns passos.

Binghe estava com uma calça de moletom e uma blusa branca de manga curta, o cabelo escuro e fofo estava bagunçado, havia acabado de se levantar ao escutar alguém zanzando pela casa, até cogitou ser seu shizun que voltou das compras, mas para a sua surpresa era uma raposa curiosa revirando tudo.

— O que é essa coisa? — questionou ele, apontando para o fogão.

— É uma versão moderna do fogão que fica na sua antiga casa — explicou Binghe, indo até o fogão. — Não precisa de lenha e nem uma ignição manual, tudo é tecnológico.

Liu Qingge sentou no balcão ao lado do fogão para ver o que o mais novo estava fazendo, Luo Binghe sorriu de canto e balançou a cabeça negativamente achando divertido ver um guerreiro tão poderoso parecendo tão curioso e interessado, então, acendeu o fogão.

— Não tem fogo... 

— Não. Mas ele esquenta o suficiente para cozinhar.

— Que feitiço interessante — comentou Liu Qingge, colocando a mão na boca do fogão, notando que estava aquecendo devagar.

— Não é um feitiço, é a capacidade humana de evoluir e facilitar as próprias vidas. Se shishu for se surpreender com tudo vai ter dias bem agitados.

— Tanto faz. Duvido que me deixem eu sair sozinho, então mesmo que ache algo incrível vocês não me deixariam mexer.

Luo Binghe soltou um riso soprado, não era completamente mentira, não pretendia deixar Liu Qingge correr sem rumo e acabar se expondo ou se machucando, mas também não tinha planos de mantê-lo preso como se estivesse em uma coleira, queria que seu primeiro contato com o mundo moderno fosse tranquilo e o mais saudável possível, para que assim ele não quisesse deixar eles.