A Raposa no Jardim

10. A calamidade vem fria I

Ao voltarem para o templo, Liu Qingge passou a maior parte do tempo em completo silêncio, levando eles até a cozinha como Luo Binghe pediu, o jovem queria preparar uma refeição quente já que a temperatura começava a abaixar, esperava que isso animasse um pouco a raposa que nem mesmo olhava para eles.

— Fiquem a vontade, preciso ficar um pouco sozinho — falou Liu Qingge.

Luo Binghe e Shen Qingqiu até fizeram a ação de chama-lo, mas ele já havia fugido, desaparecendo entre as sombras das árvores, o casal trocou olhares em preocupação, mas resolveram ir até a cozinha e preparar algo para comerem juntos.

— O que shizun quer comer? — perguntou Binghe já na cozinha, explorando os armários, encontrando vasilhas feita de cerâmica e argila bem refinados e em perfeito estado de conservação, eram relíquias de fato. — Veja, shizun, até os utensílios do templo não sofreram ação do tempo!

Shen Qingqiu sorriu de canto com a animação do namorado, sentando em um banco alto próximo do balcão, sabia bem que Binghe adorava cozinhar e encontrar peças tão raras deve ter deixado ele bem animado, ao ponto de deixar um pouco de lado as preocupações, mas logo o mestre suspirou e olhou pela janela, preocupado com tudo que aconteceu.

— Shizun, qual o problema?

— Me preocupo com Liu Qingge. Só de esquecermos alguma coisa ficamos perturbados e preocupados, imagina esquecer tudo do seu passado? O pequeno Liu era de fato uma criança imatura muito velha, ele agiu achando que fez certo, mas não parou para pensar se Liu Qingge queria isso ou quais sequelas poderia gerar — explicou Shen Qingqiu. — Também sabemos que as coisas não vão acabar só nisso, a última fala do invasor dizia tudo, as coisas não terminam aqui, esse problema pode despencar sobre as cabeças de Liu Qingge e ele nem irá saber o motivo ou vai estar preparado para se defender, ele não se lembra do seu oponente e nem suas intenções e habilidades.

Binghe parou de mexer na bolsa cósmica em busca de ingredientes que acabou trazendo com si em caso de precisassem acampar, pensando sobre o assunto, de fato imaginava quão perturbado Liu Qingge ficava a cada memória e sensação que voltava para si.

— Ele sabe de tudo disso, shizun. Acho que antes de shizun ou eu, Liu Qingge é quem está com mais problemas e... medo — comentou Binghe, decidindo preparar uma refeição variada com vegetais e carne, já que sabia que raposas eram onívoras. — Só podemos ficar perto dele, não pretendo deixar nenhum ex ou inimigo ou stalker imundo chegar perto dele.

Shen Qingqiu segurou o riso, achava fofo e engraçado quando Luo Binghe ficava no modo namorado super protetor, as vezes era preocupante quando decidia proteger atrás da violência com altas chances de mortes, mas até então estava tudo sob controle e talvez violência seja necessário.

A porta da cozinha se abriu, Shen Qingqiu não conseguiu ouvir nenhum som de passos, mas Luo Binghe sim já que tinha sentidos muito mais sensíveis, conseguiu escutar com clareza passos de pés descalços, isso dava certeza que era Liu Qingge que havia terminado sua caminhada.

— Como está se sentindo agora? — perguntou Shen Qingqiu preocupado, indo até ele.

— Estou bem... Só não esperava toda essa situação problemática, só precisava de um tempo pra pensar — explicou Liu Qingge, suspirando. — Acho que é melhor vocês irem embora, as coisas podem ficar difíceis, não gostaria que vocês se machucassem.

— Liu shishu está fazendo pouco caso de nós? — falou Luo Binghe, sorrindo de canto, parando de mexer a comida na panela. — Ou shishu acha que é bom demais com a memória toda bagunçada? Não se ache tanto, sim? 

— O que falou? — questionou Liu Qingge, olhando irritado para ele devagar.

— Bom, na situação atual, entre nós três você é o mais fraco — explicou ele, desligando o fogo. — Sua memória te incapacita, o invasor só precisa acionar o gatilho para suas memórias e você perdeu. Deveria pedir para que a gente fique e cuide de tudo.