07. Doze Noites de Inverno

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O casal chegou no dia seguinte, Shen Qingqiu dormiu o caminho todo, encostado no namorado, já Luo Binghe ficou lendo ou mexendo no celular, ambos não precisavam dormir muito, mas Qingqiu apreciava tal prática e gostava de garantir suas oito horas de sono como todo ser humano, tanto que depois de tantas décadas dormindo se tornou algo que se acostumou e sentia necessidade.

Luo Binghe abriu na galeria as fotos que tirou do diário da família Liu, havia conseguido decifrar algumas das anotações e conseguiu informações interessantes sobre a personalidade da raposa traiçoeira e o que gostava de comer, achava que isso seria útil no futuro.

— Binghe, o que está fazendo? — perguntou Qingqiu

— Analisando o diário. Consegui coisas interessantes, mas acho que shizun sabe.

Agora que não estavam mais na sociedade moderna, podia usar o termo shizun invés de mestre, apesar de ter significados semelhantes, as pessoas achavam estranho usar um termo tão formal, mas quando começou a ser cuidado por Shen Qingqiu sempre o chamava de shizun e gostava da sonoridade e respeito que tal palavra carregava.

— Sério? Deixa eu ver — pediu Shen Qingqiu, bocejando.

— Achei um trecho que parece uma colagem de outro mais antigo, está em uma caligrafia clássica e tem palavras que já entraram em desuso, acho que a escritora do diário encontrou outro diário, mais antigo que o dela e fez uma colagem das partes que achou interessante — comentou Binghe,

"Qingge parece um pouco mau humorado, ele não aceitou comer as frutas dele e até a carne ele apenas afastou com a pata. Ele sumiu faz um tempo, mas o nosso líder nos disse que nesse dia do ano ele sempre ficava dessa forma e se isola próximo do rio onde ele apareceu. Acho que esse dia é muito importante, devo perguntar ao líder na próxima oportunidade"

"Consegui escutar a conversa dos anciões, eles estavam falando sobre Qingge, já pedi perdão ao deus por escutar as escondidas, então estou limpa da culpa. Escutei que Qingge era humano, isso é tão estranho, sei bem que o surgimento de seres espirituais é ainda um mistério e cheio de variáveis, mas nunca soube de um que surgiu de um humano"

"Escutei outra conversa, mas agora foi Qingge com o mestre, não tenho culpa dessa vez, eu estava fazendo meu serviço e acabei por escutar um pouco da conversa, eles estavam distraídos sentados debaixo de uma árvore e no começo eles cantavam juntos, mas depois ficou estranho. Começaram a falar sobre guerra ou algo assim, Qingge ficou irritado quando citou um príncipe, acho que se chamava o príncipe sem cabeça e faltou morder o mestre quando ele falou algo sobre o cavaleiro das mil lutas, talvez sejam fantasmas que Qingge tem medo. Nunca pensei que um ser espiritual teria medo"

— Parece que ele tem um passado bem longo e que ele gosta de frutas — falou Luo Binghe, bloqueando o celular onde tinha as anotações.

— O pequeno Liu nunca me disse sobre isso.

— Shizun chegou a perguntar? 

— Bem... não... Nunca imaginaria que um ser espiritual veio de um humano, além disso, as montanhas são um berço de energia espiritual e tem o templo formado por mágica divina. Como poderia imaginar que ele não foi criado pelas mãos do próprio deus ou pelo fluxo alto de energia espiritual?

Luo Binghe achou justo tal justificativa, de fato não teria como adivinhar e se a raposa não contou tais informações seria por não saber ou desencadeava memórias desagradáveis, mas talvez Liu Qingge em sua forma completa fosse capaz de falar algo para sanar as dúvidas.

— Shizun, eu vi em um livro quando era pequeno que fantasmas humanos podem ficar presos no mundo mortal por terem assuntos inacabados. Será que esse é o caso dele?

A Raposa no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora