A Raposa no Jardim

03. O retorno da raposa I

Em um piscar de olhos cinco anos se passaram, pelo menos para seres imortais, então, Shen segurou a ficha de passagem que recebeu de presente e sorriu pequeno, saindo de casa. Os colegas de trabalho olharam ele fugindo mais uma vez do trabalho, alguns achavam uma perda de tempo em mante-lo em uma posição de prestígio, outros cochichavam pelos cantos que era melhor exila-lo de uma vez para o reino mortal á que ele gostava tanto de ficar por lá, mas quem mais desaprovava sua conduta era seu irmão gêmeo mais velho, Shen Jiu, toda vez que descobria que seu irmãozinho correu para o mundo mortal faltava cuspir fogo.

"Espero que o pequeno Liu não tenha se sentido muito sozinho sem mim", pensou Shen, cantarolando baixo a medida que andava pela estrada.

Como chegou um dia antes, ele decidiu ver as pequenas mudanças que aconteceram nos cinco anos, começando pela pequena e discreta modernização da cidade que antes era de estrada de terra começava a ser asfaltada, isso facilitaria o comércio em muitos níveis, Shen se perguntava em quanto tempo mais demoraria para a modernidade avançar e se seria possível alcançar o templo do pequeno Liu.

— O que está olhando, tio? — perguntou uma garotinha, parada ao lado dele e olhando na direção que ele olha.

— Hm? Apenas a paisagem...

— Ah, pensei que a criança fantasma roubou você também.

— Fantasma?

— Mn! Dizem que tempo atrás teve muitos desaparecimentos e mortes, todo mundo dizia que tinha um monstro malvado lá dentro, mas agora só desaparece brinquedos e comida, então, agora todos dizem que o monstro mau foi morto e agora só tem um fantasma brincalhão.

— Ele roubou algo seu? — perguntou Shen, segurando um riso, tinha certeza que era o pequeno Liu que ficou entediado.

— Meu brinquedo de dragão, deixei na janela e sumiu! — respondeu ela, arregalando os olhos. — Eu juro juradinho que não perdi!

Shen lembrou que entre as várias visitas que fez durante as décadas a raposa Liu mostrou uma extrema antipatia a dragões, falando que dragões são perigosos, capazes de matar deuses e intimidam todos, mas agem como bobos que confiam em qualquer pessoa que julgam bons, culpava os dragões por um dele ter deixado sua escama cortante cair em mãos egoístas que levavam Liu Qingge a perder seu corpo físico, não duvidava que aquele dragão de brinquedo estaria enterrado até o pescoço no jardim do templo, graças a brincadeira misturada com vingança contra o dragão dono da escama daquela faca. 

— Acho que é hora de subir, vai ser uma boa surpresa chegar mais cedo — sussurrou Shen, comprando um pãozinho no vapor para si e outro para a pequena raposa. — Ele deve sentir falta de comer, mas estou com pouco dinheiro, ele que se contente com uns pão.

Com a chave na cintura, ele subiu a escadaria, para quem olhasse da estrada ou até logo atrás dele pensaria que estava entrando em mata fechada, mas Shen conseguia ver por trás do ocultamento a escadaria graças a chave, que para sua surpresa não se deteriorou nem um pouco, tinha apenas algumas folhas no caminho que deixava um pouco escorregadio.

"Parece estar no tempo chuvoso", pensou Shen, olhando para o céu já escuro, "Melhor eu me apressar"

Shen subiu correndo, com o chapéu de bambu na cabeça para proteger da chuva e o leque preso na cintura por uma cordinha, quando se aproximou do topo da escadaria o portal de entrada surgiu de entre a névoa e olhou surpreso ao ver que parecia novo, sem o musgo e plantas se agarrando nele, no tom vermelho intenso e lanternas penduradas.

Ele entrou e ficou sem palavras, tudo estava novo, ocorreu cinco anos exaustivos de reforma, com gasto de energia além do que qualquer ser humano poderia ser capaz, o motivo dos roubos era que Liu descia as escondidas e pegava materiais necessários para consertar tudo, mas por ser uma criança curiosa acabava por pegar também brinquedos e outros objetos que atraia sua atenção, o fato de se afastar do templo também causou estresse no corpo do pequeno.