Capítulo 1

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                          Vittoria

   
     Ok, ninguém irá me culpar. Passei toda noite me virando de um lado para o outro correndo atrás dele mas o que eu poderia fazer? Amarra-lo a minha cama? Não, claro que não. O sono não me quis, e estava ansiosa demais para dar bola nisso, agora estou frustrada olhando para um rosto pálido, com sardas nas bochechas e ponte do nariz, lábios rosados e bem preenchidos ressecados e olhos marrons redondos inchados e com bolsinhas escuras. Os cabelos castanhos claros dando-me a aparência de uma esfregona suja.
Estou parecendo um pequeno monstro aqui, fiquei o tempo todo da noite que deveria ter aproveitado até ao último segundo, tendo um sono de beleza, pensando nele. Sim, nele, no amor da minha vida, a razão da minha existência. Ares Di Castiglione.
     Depois de três meses nos Estados Unidos ele acaba de regressar a Itália, nesta casa, e ao mesmo tempo em que me sinto eufórica, uma fina camada de nostalgia me domina. Ele não gosta muito de mim, nunca me disse isso, na verdade, ele nunca falou mais do que alguns monossílabos para mim. Aplico uma compressa fria nos olhos e depois faço minha higiene matinal incluindo um banho ao pacote. Visto meu melhor vestido, um vestido azul clarinho ombro-a-ombro acinturado e apertado até os quadris se soltando até um pouco acima dos joelhos, presente de Afrodite. Nos pés calço meus tênis all star brancos, arrumo meus cabelos jogando-os nas costas e prendendo-os a alguns grampos  para não ficarem caindo no rosto, boto meu crucifixo cravejado de pedras semipreciosas e brincos condizentes, presentes de Apolo. Um pouco de brilho nos lábios e uma borrifada do meu perfume francês, um presente de Atena e pronto!
Me vejo no espelho por mais um tempo antes de pegar o avental verde e sair para começar meu dia de trabalho.

    Chego a cozinha e encontro aquela correria costumeira, as meninas estão correndo de um lado para o outro enquanto a cozinheira está postada na frente do fogão, mexendo em algo. Caminho até ela e a abraço por trás, dando-lhe um beijo na bochecha:
Bongiorno, madre!
— Bom dia, filha. Você tem aula em algumas horas, porquê só agora? Ela me encarou e depois franziu o cenho se virando para mim.
— Uau, como você está bonita hoje! Vai a algum lugar?
— Quê isso mãe! Não posso mais me arrumar um pouquinho? Ela me encara mais um pouco até que algo brilha em seus olhos, memeia a cabeça e suspira.
— Tome cuidado criança... murmura se virando para o fogão novamente.
— como?
— Você chegou tarde, vai ficar até mais tarde para organizar aqui enquanto as outras vão pegar os outros cómodos da casa, tem uma aula importante hoje não é?
— Ah, é só Educação Física, mãe.
— Claro, a aula que você detesta. Murcho um pouco mas rapidamente me recupero ao avistar Isabelle, digo algo inteligível a minha mãe e caminho até minha companheira de trabalho,
— Belle-Belle, cantarolei animada mas seu olhar queimou meu sorriso exagerado.
— Tudo bem?
— Diz o que quer, Vittoria, por favor e logo. Eu poderia me sentir ofendida, na verdade eu estou ofendida, mas fazer uma birra vai me fazer perder muito tempo e o mau humor dela já estava me envenenando.
— Tá. Está vindo da sala de jantar, quais dos irmãos já está na mesa? Ela me dá um olhar impaciente e fala,
— senhor Ares não está lá e pelo que ouvi dos outros empregados não estará lá tão cedo... Disse e se aproximou do balcão pegando uma travessa com bolo de cenoura e chocolate. Tudo bem, melhor eu ignorar o facto dela estar sendo uma grosseirona e me concentrar nas informações precisas que me estávam sendo fornecidas, e afinal de contas como ela sabe que é de Ares que eu quero saber? Não importa agora, foco garota, aproveite que a cobra está tão mais interessada em silvar que em dar o bote e ouça seu doce canto.
— E o que você ouviu dos outros empregados? Suspirando como se carregasse o peso do mundo em suas costas e ainda tivesse que lidar com a birra de uma adolescente, eu, ela me encara, nem dou bola para sua expressão de sofredora e aguardo como a doce menina que sou.
— Olha Vittoria, vou te falar isso como uma camarada que também tem vagina, afinal, a sororidade é importante. Você vai se machucar se continuar babando pelo chefe número três, tudo bem que ele é mais quente que muitos dos vulcões existentes, e tudo bem se quiser só sexo com ele mas se essa sua cabecinha imatura estiver tecendo um conto de fadas com aliança, vestido branco e bebés fofinhos é melhor começar a se estapiar a cada vez que isso — aponta para minha cabeça — te levar por aí. Vai ser menos doloroso que se deixar levar. Sorrio docemente, — você acabou de vomitar um monte de coisas que eu não entendi ou pedi para ouvir, agora, Belle-Belle, me conte sobre Ares. Ela poderia me dar as costas ou só me mostrar o dedo médio mas nós duas sabemos que ela me deve. Quando costuma se esgueirar com Apolo pelos milhares de cantos desta fortaleza eu que costumo dar cobertura e me converto em uma estátua cega, muda e surda, então ainda que esteja se doendo por alguma porcaria que Apolo aprontou com ela, ela apenas revira os olhos e cospe:
— Seu deus chegou nas madrugadas, caindo de bêbado, arrastando três mulheres com ele para seu quarto de foda. Duvido que tenha sobrado algo dele, além, é claro, de algo fodido, amassado e ressacado... Isabelle cobriu a boca ao se dar conta de que estava falando de um dos patrões, e não qualquer um deles mas do mais temperamental. Nem sinto a satisfação que a reacção dela deveria me causar quando meu coração se afunda no peito. Mulheres. Ele passou a noite com três mulheres. É claro que eu já repreendi tudo em mim por causa dessa reacção patética que tenho sempre que ouço algo assim sobre Ares mas pergunte-me se eu consigo resistir e eu te direi não caramba, não! Eu só sinto que doi, sei que ele nunca me deu razões para sentir algo assim, que ele não é meu, que talvez nem me conheça e que nunca me dirigiu muito mais do que meia dúzia de palavras em um dia bom, num dia normal ele só me dá um aceno, mas meus sentimentos por esse homem sempre pairaram para lá do que é racional. Eu o quero desde que me entendo por gente.

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