Capítulo 4

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                          Vittoria

- Você não pode estar falando sério - ela rosnou.
- Você disse, prometeu, novamente...
- Sinto, Dite.
- Pô, não! Não preciso que sinta, preciso de ajuda. Solto um suspiro e aperto mais minha bolsa. Estamos nessa já a uns bons dez minutos.
- Eu sei e acredite em mim, eu prefiriria mil vezes ir com você que nesse compromisso - minto, preferiria estar sozinha, escondida em alguma ilha deserta bem longínqua tomando um coquetel - mas é importante, prometi aos pais da garota.
- Mas você nem gosta dela, diz que é uma burguesa burra, fadada a chafurdar em merda graças ao seu cérebro de galinha.
Sorri para ela, Dite parecia um gravador, ela era incrível repetindo o que os outros dizem e usar a seu favor.
- É, e por isso mesmo eu não posso dever nada a esse tipo de gente...
- prefere antes dever para uma princesa da máfia? Ergueu uma sobrancelha loira perfeita, não me amedrontou.
- Não, prefiro antes dever a minha melhor amiga maravilhosa que me entende.
- Ok, eu sou perfeita mesmo mas...
- e nada modesta - murmurei antes de concordar.
- Você não precisa de mim para te atrapalhar, sei que esse seu nervosismo se deve a ansiedade e só. Não há nada que uma Di Castiglione não consiga fazer. Vá falar com essa organizadora e expresse suas ideias, mostre a ela como fazer coisas estupendas. Ela respirou fundo estufando o peito, endireitou os ombros e empinou o queixo - tá certo. Mas você ainda me deve, e Vittoria... - me olhou seria - um Di Castiglione sempre cobra suas dividas. Disse num tom sombrio mas logo seus olhos bonitos brilharam de animação.
- Vou sair agora para deixar no ar um clima de intimidação bem potente, disse sorrindo.
- Você estragou tudo. Falei e seus ombros caíram, - estraguei não foi? Apenas assenti.
- Boa sorte com a garota, me deu um abraço. - Para você também... Digo quando ela se vira para sair.
- Não preciso de sorte, querida, eu sou tudo de que preciso, me soprou um beijo e correu. Esperei mais um pouco e minha mãe finalmente chegou, ela que me daria carona.
- Vamos? Perguntou como se eu que a estivesse atrasando, me levantei de imediato..- Quando a senhora quiser, mãe. Ela saiu na frente e a segui, andamos até a garagem onde ela destravou sua SUV, um presente do meu padrinho. O senhor Di Castiglione pode ter os defeitos que disserem mas avareza não é um deles. Pagou a auto-escola para minha mãe depois de lhe ter dado o carro, se ofereceu para pagar meus estudos, graças a ele tenho uma mesada gorda que considero como salário mas que mesmo se eu decidisse parar de trabalhar eu a receberia. Só que minha consciência não me deixa pegar no dinheiro assim, sem ao menos suar, então conversei com meu padrinho e pedi que me deixasse trabalhar como ajudante da minha mãe, que além de governanta é a cozinheira da casa. Nossa conversa foi apavorante para mim, mas o homem apenas me mandou traçar horários e pegar actividades que não atrapalhariam meus estudos e no fim me disse algo lindo e maravilhoso, disse algo que até agora custo a entender mas em sua voz rouca e retumbante soou como um elogio. Disse que eu e minha mãe éramos jóias, jóias que não tinham medo da lama, jóias que brilhavam até mesmo na lama.
- Então, que horas vai chegar em casa?
Minha mãe pergunta depois de sairmos da propriedade.
- Não sei, antes das sete. Quanto mais cedo a garota entender a matéria mais cedo poderei voltar.
- E você acredita que ela vai se sair bem?
- Se ela quiser se sair bem, sim, ela vai.
- como assim, criança?
- Mãe, essa garota é uma criatura mimada e preguiçosa. Se seus pais não tivessem conversado comigo pessoalmente para ajudá-la com os estudos eu não moveria meus dedos por sua bunda...- ei! Olha língua.
- Desculpe. Senti meu rosto esquentar, suspirei. - Lilian simplismente nunca quis aprender, prefere ir a todas as festas que puder antes de ler uma frase sequer de alguma coisa ou completar algum cálculo de adição. Minha mãe sorriu.
- Só não mostre todo esse seu amor por ela ou a garota se assusta. Bufei,
- eu não estou nada feliz, tive de dispensar Dite por isso, e o pior é que sei que vou dar o meu melhor mas a garota não vai retribuir uma fração do meu empenho.
- Querida,- minha mãe começa ao parar na frente do belo casarão, seus olhos em mim.
- As vezes temos de trabalhar o dobro por coisas que valem a pena, seus olhos verdes como o mato me fitam com intensidade, sua testa franzida em concentração. Ela sempre faz isso quando está falando algo sério, algo em que acredita.
- Existem coisas pelas quais é preciso se entregar sem reservas ou espera de reciprocidade. Isso não significa que somos tolos ou que não nos amamos e temos baixa autoestima, muitas vezes isso significa exatamente o oposto. Isso significa que somos autosuficientes, capacitados o suficiente para batalhar mesmo que sozinhos por um fim que realizara a dois. Olhei bem para minha mãe, ela sempre foi uma mulher tão bonita. Seus olhos verdes como o mato eram fascinantes mesmo que eu não os tenha herdado, seus cabelos castanhos avermelhados eram outra coisa que eu invejava logo asseguir a sua pele dourada e limpinha, sem sardas, tão diferente da minha pálida e decoradas com pontinhos de continuação. Ela era uma mulher no auge da sua feminilidade e muitas vezes eu me sentia culpada por sua vida amorosa ter acabado tão cedo. Depois que meu pai morreu, duas semanas depois do seu casamento, ela descobriu que estava grávida de mim. Perdeu seu soldado ( meu pai era um soldado, trabalhava para o meu padrinho) e teve de seguir em frente por mim, teve de deixar sua vida de lado para cuidar de mim, e agora, aos 41 anos ela ainda está fazendo isso. E eu não sei como fazer para empurrar ela em direção a vida que ela merece, ela merece uma nova paixão, um novo amor, uma família para os tempos de velhice, um companheiro que irá cuida-la, respeita-la e venera-la como a rainha que é.
- Ti amo mama. E foi assim, simplismente saiu, como um murmúrio da alma, como se meu coração falasse por conta própria, nem me apercebi de ter aberto a boca. Ela ficou surpresa mas acabou apenas por sorrir.
- Também amo você, meu bebê grande. Se inclinou beijando minha bochecha, abri a porta para sair mas antes tentei:
- quando você chegar ao mercado, não se faça de surda ou fuja das cantadas que com certeza irá receber. A senhora está linda, merece um jantar com algum príncipe por aí.

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