Capítulo 8: A Caverna do Dragão

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— Bem-vindos onde até os unicórnios têm problemas com o aluguel — anunciou Edmundo

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— Bem-vindos onde até os unicórnios têm problemas com o aluguel — anunciou Edmundo.
— Nenhum narniano vive aqui?
— É claro que não — rosnou Brambrewick. — É um povo pagão. Eles nem acreditam em Aslam.
— E no que eles acreditam? — insisti.
O anão trocou um olhar cúmplice com Edmundo, como se perguntasse para o rei se devia ou não me contar.
— O chamam de Tash, o Imutável. Mas todos sabemos que é uma divindade maligna que eles adoram.
— Ouvimos falar muito sobre ele enquanto reinamos. Dizem até que... ele é associado a práticas sombrias e sacrifícios humanos. — concluiu Edmundo.
— Então na época em que estamos, Donovan é um de seus adoradores. — presumi.
— Provável. — concordou Edmundo.
As ruas de Tashbaan pareciam veias antigas, estreitas e barulhentas.
Os mercadores vestiam túnicas coloridas e turbantes maiores que a própria cabeça, se aglomerando nas calçadas e oferecendo seus tesouros exóticos em barracas repletas de especiarias aromáticas.
— É dia de feira — observou Brambrewick, com um sorriso.
— As roupas que eles usam são tão horríveis quanto as da tia Alberta. — riu Edmundo.
Ele já havia se despedido das roupas do baile há muito tempo, muito antes de entrarmos na cidade. Claro que, continuava usando a camisa bufante que antes estava por baixo do sobretudo do baile e a calça que trocou em algum momento da noite passada.
Graças à Susana, consegui um vestido novo. Bem mais confortável, sem a necessidade de usar espartilho.
— Não quero ficar aqui por muito tempo, será que podemos ser mais rápidos?
— É claro. — respondeu Edmundo, voltando-se para Brambrewick. — Espero que no endereço que recebemos, consigamos alguma informação.
— Tenho certeza de que vamos, senhor. Enquanto o rei Pedro procura a estrela, o que vossa majestade precisa fazer é procurar um exército. Conheço alguém que pode nos ajudar.
— Pensei que estivéssemos aqui para descobrir a verdadeira história por trás dessa tal pedra, afinal, o meu exército já está sendo preparado na Arquelândia.
— Você é ambicioso demais para um garoto de dezessete. Dois exércitos? Por acaso você pensou “Quanto mais, melhor” ? — disse eu, já esperando os olhos revirados, mas ao contrário disso, Edmundo abriu um sorriso sincero e continuou a caminhada.
Os soldados da tropa de Edmundo que estavam sendo preparados pela Arquelândia chegariam em Cair Paravel em breve, era empolgante.
Enquanto caminhávamos lado a lado, Edmundo pigarreou empurrando meu ombro levemente. Eu sorri e retribuí o gesto, empurrando-o de volta. Nossos olhares se encontraram e por um momento, me perguntei o que se passava em sua mente.
— Acha que estamos... fazendo a coisa certa? — Ele perguntou.
— Acho que nos separar de Pedro e suas irmãs foi uma completa idiotice. — respondi, séria. — Mas você tem a mim, então temos grandes de chances de conseguirmos mais sucesso do que eles.
— Você tá certa. — Ele voltou a olhar para frente. — Só... Fica perto. Precisamos voltar juntos.
— É claro.
E aquela mínima troca de olhares foi o suficiente para me fazer sorrir e continuar a caminhada assim. — o que não era aceitável.
Corre, Gael! — gritava um garotinho de pele escura e cabelos loiros, enquanto corria com a menina mais velha que implorada para ele parar.
Não prestou atenção por onde estava correndo e tropeçou bem na frente de Edmundo, que estendeu a mão e segurou a garota, evitando que ela caísse.
O garoto que corria na frente, logo parou ao perceber a falta de presença da garota.
— Posso saber o motivo da pressa? — perguntou Edmundo.
— Desculpe, senhor. Estávamos indo... indo visitar a elfa Lucinda. — gaguejou a menina, ofegante.
— “Qual é o seu nome?” “Existem elfos aqui?” — Edmundo e eu perguntamos em uníssono.
— Shhh... — interrompeu o menino, com o dedo indicador na frente dos lábios. — Se eles descobrem, estamos mortos.
A garota então, não tirava os olhos do brasão de Aslam na espada de Edmundo.
— Vocês não são daqui. — disse ela.
— É verdade — concordou o loirinho. — Nunca vi vocês.
A garota espreitou os olhos, me encarando.
— Você é uma princesa? — perguntou, me fazendo gargalhar. Edmundo sendo o estraga prazeres, pigarreou, chamando a minha atenção.
— Não. — respondi, seca. — Não sou uma princesa.
— Bem, mas parece. — ela se afastou, dando de ombros.
— Acho que essa é a hora em que eu agradeço. — minhas bochechas queimavam.
— Vocês são de Cair Paravel, não são? — perguntou o loirinho.
— Hã? Não, nós...
— Estou vendo o brasão de Aslam na espada dele. São amigos do rei, são sim!
— Vocês são amigos do rei Caspian? — a garotinha arregalou os olhos. — Eu sou a Gael e esse é meu irmão Jhonny, fale sobre nós para ele.
— Minha mãe diz que eu tenho cabelos tão bonitos como os do grande rei Pedro. — disse o garotinho, Jhonny, com tamanha empolgação.
— É — sorri. — Com certeza você tem.
— Um dia, quero ter um conjunto de flechas como o seu. — disse Gael.
— E eu quero uma espada como a sua!
— Vocês terão. — respondeu Edmundo. — Se nos deixarem ir agora, posso providenciar
Tentei sorrir para tranquilizá-las, embora por dentro estivesse surpresa com toda aquela situação.
— Tudo bem, tudo bem — murmurou Jhonny.
— Não vão nem mesmo falar seus nomes? — perguntou Gael.
— Eu sou o Edmundo. Essa é minha amiga, Elle.
Gael arqueou as sombrancelhas, pareceu pensar por um momento. No final, apenas sorriu e se despediu, puxando Jhonny.
Descemos uma encosta e caminhamos em direção aos arbustos empoeirados. O que nos esperava era uma casa de pedras, que parecia estar abandonada há muito tempo.
— Parece uma casa assombrada, eu sei. — disse Brambrewick. — Mas fiquem tranquilos. O máximo que podemos encontrar aqui são ratos que não falam e poeira. Muita poeira.
Voltei o olhar para Edmundo, que inclinou levemente a cabeça para o lado, me forçando a olhar para sua mão esquerda, segurando a espada quase pronto para sacar.
— Quem mora aqui? — perguntei.
— Costumava ser Harbek, um grande amigo meu, mas ele já se foi.
— Sinto muito. — murmurei.
Entramos na casa, Brambrewick tinha razão, tinha muita poeira. Da cozinha, vinha um cheiro estranho, futuramente, eu saberia que era de rum.
— Pelo visto, Harbek também era alcoólatra — sussurrou Edmundo.
— Viemos procurar respostas... aqui?
— Senhorita Elle, Harbek tinha as respostas. — resmungou Brambrewick.
— E como saberemos que é o que estamos procurando? — perguntou Edmundo.
— Saberemos, majestade. Agora vamos, revirem tudo!
Dito isso, Brambrewick passou boa parte do tempo procurando nas gavetas empoeiradas, Edmundo foi para a cozinha, ver nos armários. Minha única opção foi procurar nos quartos, todos guardam coisas de valor em baixo de suas camas.
Me deparei com livros e papéis espalhados pela mesa ao lado da cama.
Os papéis estavam sujos por um frasco de tinta aberto, e uma pena de escrever estava jogada no chão. Ao pegar a pena, notei imediatamente que a tinta já havia secado há muito tempo, deixando a ponta endurecida. Aquilo não era usado há anos.
Uma carta empoeirada, destinada “A quem de fato serve ao dono dos bosques” , estava em meio à aquela bagunça.
— Hã... Ed, acho que encontrei algo.
Não demorou um segundo, ele já estava entrando no quartinho, seguido por Brambrewick.
A carta revelou alguns papéis brancos e outros amarelados.
Há milhares de anos atrás, Tisroc, pai de Rabadash, era o governante da Calormânia. Sua ambição era expandir seu poder e influência sobre as terras vizinhas. Enquanto seu filho perturbava os reis e rainhas de Cair Paravel, Tisroc costumava observar as estrelas, e sabendo que, elas possuíam vida e poderes mágicos, partiu em busca de uma dessas estrelas, com o desejo de que a estrela lhe concederia poder e glória. Sua esposa já envelhecia, pediu a Tisroc que trouxesse com a estrela, a beleza infinita.”
Convencido de que isso lhe garantiria domínio absoluto sobre as regiões circundantes, Tisroc empreendeu uma busca incansável por uma das estrelas de Ramandu. A estrela que era, na verdade, um ser celestial. Tisroc encontrou a estrela após 15 dias velejando. O imperador pediu à estrela, que sua energia fosse incorporada em uma forma que ele pudesse usar. Então, todo o poder da estrela foi direcionado à pedra, que se tornou no que chamamos de Pedra da Eternidade. A pedra era dita possuir o poder da beleza eterna, a vida sem fim e conceder imenso poder àquele que a controlasse.”
— Tudo isso aconteceu diante de meus olhos? — resmungou Edmundo.
— Me deixe ver as outras páginas — pedi.
— Drakorath?! — repetiu Edmundo, ao ler uma das páginas. — Antigo guardião das estrelas de Ramandu, ciatura que voa pelos céus em busca de estrelas perdidas e desgarradas...
“Foi capturado por soldados Calormanos, permanecendo cativo até a pedra enfraquecer e perder seu poder.”
Passei os olhos por cada uma das linhas, até focar em uma específica.
A única incompleta.
Tisroc desejava um dia, contar a história ao grande rei Pedro. Desistiu logo após descobrir que o rei havia desaparecido há vinte dias, junto de seu irmão e irmãs. Tisroc manteve o dragão Drakorath cativo, e nunca seria solto.”
A pedra foi jogada no mar, e nunca foi encontrada.”
— A pedra foi jogada no mar — repeti, respirando fundo. — Toda essa busca é irrelevante.
— O dragão está vivo. — balbuciou Edmundo.
— Talvez eu devesse avisar que já está anoitecendo... — disse Brambrewick, tentando chamar nossa atenção, sem nenhum sucesso, pois Edmundo logo continuou:
— Quem cuidava do dragão enquanto estava aprisionado?
— Os anões?! — dei de ombros.
— Harbek era um anão? — Edmundo, voltou-se para Brambrewick.
— Hã... era, mas...
Touché! — exclamou o rei, voltando para a sala.
Brambrewick e eu o seguimos.
— Se eu me lembro bem, Harbek sempre demorava para atender. Sempre achei que ele estava no...
— Ele aprisionava o dragão em troca do quê? — interrompi.
— Olha isso — Edmundo se aproximou, ficando em minha frente. — É o que foi escrito por último.
— Sob os pés de quem lê, onde a terra guarda os antigos segredos mais perigosos, o fogo repousa em uma caverna oculta.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, que foi quebrado por Brambrewick.
— Caverna oculta? Quer dizer... uma passagem? — Ele deu de ombros. — Talvez no porão.

Entre Dois Mundos: Os Reis e a Garota de Londres (Edmundo Pevensie)Onde histórias criam vida. Descubra agora