Capítulo Nove, Flocos de Neve Mentais.

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— Está quieto depois que vocês dois se foram. Os professores chiques que vieram por causa de vocês já foram embora, agora a Academia parece normal, como era ano passado. — A voz de Spencer era tão nevoada quanto o lugar em que estávamos. Neblina por todo o lado, céu azul escuro como se uma tempestade estivesse prestes a chegar, sentados sobre a água daquele mar infinito. Estávamos dentro da zona onírica de Spencer, isso eu sabia, não voltava aqui desde Jason. Talvez algo tenha acontecido antes de eu vir parar aqui, eu somente não ...

Eu não me lembro.

Eu não me lembro de muita coisa, sendo honesto. Não me lembro quanto tempo estou aqui, ou como vim parar aqui. Sei que estou sonhando, só posso estar aqui sonhando, mas não me lembro de ter dormido, nem de acordar, era como se essa fosse minha vida, ficar aqui, sentado, com ela. Era legal, talvez eu prefira desse jeito. Não há problemas, há Spencer. Eu gosto dela, gosto de estar aqui, de a ouvir falar. Também percebi que não falo nada a algum tempo, ela também percebeu isso, está me encarando fixamente daquele jeito que ela sabe fazer, do jeito que parece que está lendo meus pensamentos, como se estivesse lendo um livro, concentrada.

— Nathan, como você ainda está aqui? — Ela finalmente quebrou o silêncio e perguntou. Spencer não era alguém que perguntava as coisas, ela não era curiosa, talvez complacente fosse a palavra certa para dizer sobre ela, mas parecia ruim a classificar dessa maneira. Eu acabei desviando o olhar de seus olhos verdes, não sabia a responder, não sabia como estava aqui.

— Eu não sei. — Eu a respondi, minha voz um pouco mais silenciosa que o normal, agora, eu me parecia com ela, silencioso, incerto. — Talvez você tenha me contatado.

— Eu não sou tão poderosa assim, Nathan. Não posso simplesmente contatar você quando você está do outro lado do país... — Ela encolheu os ombros ao dizer, insegura. Eu sabia que era impossível, eu mal conseguia entrar aqui até quando estava dormindo do lado dela. Eu preciso saber o que aconteceu antes de eu dormir, aonde eu estou. Talvez eu esteja morto e minha consciência de alguma forma tenha ficado presa aqui, para sempre, no campo onírico dela. Eu sabia que estava falando com ela a algum tempo, eu só não sabia quanto tempo. Era difícil ter noção do tempo neste lugar, não há mudanças, há Spencer. Eu olhei para baixo, para mim mesmo, estava usando uma calça moletom e estava sem camisa, a mesma calça que eu usei na última vez que estive aqui, eu não dormia com ela mais, isso eu sei, desde que eu ...

A Academia. Algo aconteceu nela.

— Há quanto tempo eu estou aqui, Spencer? — Eu franzi a testa ao perguntar para ela, talvez ela soubesse de algo, eu estava preso aqui, mas ela ainda tinha conexão com a vida lá fora, suas memórias eram menos confusas que as minha, eu espero.

— Algumas semanas? Eu não sei. Eu consigo sentir você mesmo quando estou acordada, algumas vezes, quando vou dormir, você não aparece aqui dentro. Outras vezes você aparece. Eu não quis perguntar antes, estava feliz de podermos ter contato um com o outro de novo. Só que ... agora está começando a me preocupar, Nathan. Não era para você estar aqui, a Academia tem barreiras e a distância é muito grande. Mesmo os mais poderosos do ramo onírico não conseguiriam te deixar na minha cabeça por tanto tempo... — Ela dizia e o nó que era minha mente apenas se enrolava cada vez mais e mais. Eu não sabia acordar, não sabia sair daqui. Spencer era boa, estar aqui era bom, mas estava começando a parecer uma prisão. Não posso ficar aqui como eu queria, não posso viver aqui, eu sou o Caçador. Precisam de mim. Anastasia precisa de mim.

— Você consegue me acordar? Expulsar minha consciência? — Eu tentei bolar alguma coisa, qualquer plano.

— Não funciona assim ... Era para você sair assim que eu acordasse. Eu não sei expulsar você, ninguém nunca entrou sem permissão antes. Também tenho medo do que pode acontecer se eu só fechar as portas... — Seus ombros moviam e sua boca se torcia, as sobrancelhas dela se franziam e eu percebia os olhos dela trabalharem, sua face fazendo perguntas e se respondendo. Eu sentia uma dor no meu peito por estar colocando ela nessa situação, mesmo distante, ela ainda era pega na minha confusão. — Eu posso pedir ajuda para algum professor...

His Darkest Creatures Of Magic.Onde histórias criam vida. Descubra agora