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Olá, você decidiu continuar, que bom. Vai ser legal ter companhia enquanto escrevo.

Como eu tenho tido pouco para escrever (e viver) a quantidade de palavras de cada capítulo será mensurada pelo tempo disponível+cansaço, então não estranhe se um capítulo for muito longo ou curto, pode acontecer. 

A espelunca sequer poderia ser classificada como um bar

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A espelunca sequer poderia ser classificada como um bar. Um moquifo de sexta categoria, fedendo a álcool, cigarro e tristeza da classe assalariada. Bem diferente dos estabelecimentos que Katsuki estava acostumado a frequentar. Ali faltava não somente finesse, como o básico da higiene, como pode constatar ao ver um dos clientes esmagar uma barata usando um jornal enrolado. Quem ainda lia notícias em jornais nos dias atuais?

Ele entrou pouco se importando em esconder a carranca de desgosto por estar naquele ambiente lúgubre que mais parecia um cativeiro decorado à moda dos anos cinquenta do século passado. Seu lábio se retorcia em uma careta enquanto buscava uma mesa livre onde se sentar. O lugar tinha poucas, mas ele conseguiu uma próxima ao vidro lateral e o balcão de atendimento.

As garçonetes se dividiam em dois grupos: jovens sem formação, porém belas, e velhacas enrugadas sem educação de qualquer qualidade. Todas usando o uniforme padrão: um vestido ciano coberto por um avental rosa claro com dois bolsos frontais para guardar blocos de anotações, canetas, algum troco ou cigarros.

Katsuki acompanhou com o olhar apenas uma delas. Uma garçonete ruiva de olhar vibrante e sorriso fácil, cujo ventre volumoso tornava seu vestido ainda mais curto. Ela passou por ele equilibrando uma travessa com alguns pedidos e copos de chope estalando de gelado, o que por si só era um absurdo que comprovava que o lugar era uma espelunca. Afinal, quem beberia as sete horas da manhã.

— E lá vem ela, a melhor garçonete desse lugar feio é deprimente. — um dos clientes saudou, gracejando.

O olhar de Bakugou afiou ao ouvir aquela gracinha e ele mastigou a raiva para não deixar tão a vista seu descontentamento.

— Vai fazer o senhor Tenshio se chatear, Yui. — ela repreendeu, sorridente. Parecia muito receptiva aquela cantada.

— Ele tem que saber da verdade. — o cliente continuou, olhando para Eijiro com interesse velado — Esse lugar só ficou bom depois que vc chegou.

A conversa prosseguiu por algum tempo, cavando um poço de desgosto no estômago de Bakugou que exotou todas as garçonetes, se recusando a ser atendido por alguém diferente de Eijiro.

E ela pretendia o ignorar por mais tempo, não fosse a insistência chata dele. Depois de alguns minutos, após se certificar de que ninguém mais o atenderia, ela revirou os olhos e foi até sua mesa.

— O que vai querer?

Em comparação ao tratamento que reservava aos demais clientes, ela o estava tratando como um estorvo entediante.

— O que foi isso? — ele rezingou, insatisfeito — Para os outros você serve simpatia e para mim ignorância?

Ela mudou o peso da perna e esfregou a lateral da barriga em um movimento suave evitando contato visual enquanto expressava sua insatisfação. Parecia a ponto de o ofender, mas acabou apenas relevando. Uma parte do ego de Bakugou se tornou mais ferido ainda. 

— Algum pedido em mente?

— Ainda não, mas...

Eijiro se virou para ir embora, mas foi impedida pelo chamado alterado de Katsuki.

— Ei, eu ainda não acabei de falar, me dá apenas um segundo.

Eijiro se virou e o encarou por alguns momentos, esperando.  Bakugou inspirou, tentando encontrar as melhores palavras. Não queria discutir com ela, mas ainda estava chateado e sentido depois de tudo o que viveram e não sabia ao certo como falar o que se passava em sua mente. Parte por falta de habilidade emocional, parte por conta de seus sentimentos confusos em relação à ela. 

— Eu vim porque preciso conversar com você. — sua voz saiu mais suave. Ele queria transmitir através de sua postura e gestos a humildade que precisava para quebrar as barreiras entre eles. 

Em seu coração, amava Eijiro desesperadamente e estava entrando em surto por não conseguir mais ter acesso à ela. 

— Estou trabalhando, a única conversa que deve acontecer entre nós envolve o meu serviço.

Ela foi dura e enfática em cada palavra. Bakugou se chateou com a indiferença. Sabia, porém, que não tinha muita opção depois do que fez.

Sem perder a postura severa, ele indagou:

— Podemos conversar depois do seu expediente então?

— Não.

A negativa seca machucou fisicamente Bakugou que se viu mordendo a parte interna das bochechas em uma angústia e ansiedade crescentes. Semanas atrás ele tinha toda a atenção de Eijiro. Agora, ela não queria nem mesmo estar no mesmo espaço que ele e conceder o mínimo de interação.

— E como vamos resolver nossa situação?

— Não há nada a ser resolvido já que não temos mais nada em comum.

— Eijiro, por favor...

— Foi você mesmo quem decidiu por nós, estou apenas seguindo em frente. — ela afirmou, enfática — Você deveria fazer o mesmo.

— E como eu posso se você não quer conversar para resolver o que está pendente?

Eijiro suspirou, pegou a caneta e o bloco de anotações reassumindo sua postura. Katsuki soube naquele momento que ela o ignoraria de novo. 

— Algum pedido em mente?

— SIM, DROGA! — Se exasperou, falando entredentes em uma revolta contida — Quero que pare com esse teatro, que converse direito comigo!

— Não existe essa opção no cardápio, senhor.

— Isso não foi engraçado. — resmungou, irritado. As lágrimas se aproximaram.

Sem lhe dedicar mais alguma resposta, Eijiro guardou os itens e se afastou da mesa para atender outros pedidos. Ela estava distante demais para ser alcançada apenas com palavras. Katsuki precisaria de uma nova linha de ação.

No balcão, um dos bartenders mais antigos o encarou ostentando uma semblante desconfiado e observador. O estavam vigiando, deveria ser mais cuidadoso se não quisesse ser colocado para fora. 

Sem muito o que fazer e muito frustrado, ele se levantou e saiu do lugar oferecendo um último olhar para Eijiro que se mantinha ocupada atendendo outras pessoas. 

Ela era, sem dúvida, a mais bonita daquela espelunca. 

Bonita demais para estar naquele lugar. 

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