Uma Questão de Tempo

10 | Palavras Não Ditas

"Entre palavras não ditas, tantas palavras de amor.
Essa paixão é antiga, e o tempo nunca passou" — "A Noite" by Tiê.

Observo minha imagem impecável refletida no espelho, estudando cada detalhe com um olhar crítico.

Visto um terno justo, que ressalta todos os músculos do meu corpo. O contraste entre o tecido escuro e a camisa branca adiciona uma aura de sofisticação. A gravata, mais embolada do que alinhada, pende ao meu colarinho. Não sou muito bom em arrumar gravatas, então acho que vou ter que aceitar estar quase perfeito, exceto por esse pequeno detalhe.

Embora a gravata esteja atrapalhando um pouco meu visual, não posso reclamar do resto. Meus cabelos pretos e levemente úmidos caem sobre minha testa de forma despojada, enquanto eu os arrumo com um toque de desdém calculado. É como se eu tivesse acordado assim, com o cabelo impecável sem nem precisar me esforçar para isso.

Mesmo com um traje impecável, a essência do estilo "bad boy" se faz presente, como uma assinatura indelével que define minha aparência. "BadBoy" é o apelido que Laney, ocasionalmente, usa para me descrever, e essa alcunha acabou se tornando uma forma peculiar de referência ao meu visual externo. Internamente, posso não me identificar com essa imagem rebelde, mas há algo na estética "bad boy" que me agrada. É um equilíbrio entre a sofisticação e a ousadia, uma combinação que, segundo minha melhor amiga, me cai muito bem. Ela sempre diz que essa mistura de elegância com um toque de rebeldia é o que realmente me destaca.

A palavra badboy me lembra da minha personalidade. E eu raramente admito isso voz alta, mas com as mulheres, na maioria das vezes, eu sou um grande canalha.

Não que isso seja proposital, sempre que eu tenho intenções com uma garota, é só fisicamente, e sempre deixo isso bem claro. Mas elas juravam que seria diferente com elas, e depois da foda, quando eu ia embora, meu telefone explodia com chamadas perdidas, vindas tanto da garota que eu acabara de deixar quanto das outras que ainda não tinham desistido. E fala sério, eu deixava as minhas intenções claras desde o início exatamente parar evitar um show de dramas e lágrimas. E acredite, isso já conheceu mais vezes do que eu gostaria.

Consequentemente, ganhei a reputação de ser um dos caras mais babacas da faculdade. E sinceramente? Não me importo, nunca me importei. Tanto eu quanto Matteo, que compartilhava exatamente a mesma fama, nunca nos importamos com isso.

Exceto por Laney, nenhuma outra garota, além de minha mãe e Missy, realmente me importa.

Deixando meus pensamentos de lado, volto a encarar minha própria imagem no espelho. Sei que estou divino, mas isso não vai adiantar muito, já que o lugar para onde estou indo não permitirá que eu seja visto por ninguém.

Estou a caminho de um encontro duplo às cegas, onde quatro pessoas se reunirão em uma mesa para conversar sem poderem se ver, como o nome sugere, no escuro total. Enquanto estiver lá, somente as palavras e as vozes serão nossas únicas ferramentas para conhecermos uns aos outros.