Beyond the Blood - Conspiração - Livro 1

9. Treinamento em Dupla

O dia de ontem já tinha sido uma experiência estranha o suficiente sem que eu tivesse que me preocupar em treinar junto com outra pessoa aleatória que eu mal conhecia. Claro, não foi tão ruim quanto eu pensei que seria. Na verdade, até que foi bem divertido. Mas isso não significa que eu gostava de ter que me juntar a alguém que eu mal conhecia só para fazer a droga de treino em dupla idiota.

O dia até que começou meio tranquilo, mas eu não me sentia lá muito tranquilo. Tudo isso por culpa daquela... Tá, ok, tecnicamente, a culpa era minha. E, tá, no fim, nem tinha sido uma experiência tão horrível, mas ainda assim...

Honestamente, a ideia de ter que passar meu tempo livre treinando com aquela garota ainda me deixava um pouco ansioso. Agora, não me entenda mal, o problema não era exatamente ela em si. Ok, talvez fosse um pouco ela ou, sendo mais específico, o jeito dela, eu ainda tinha quase certeza que ela devia ter algum desvio de caráter.

Mas, o que realmente me deixava meio tenso, era a situação como um todo que eu tinha criado para mim. Tinha que admitir que estava achando aquilo tudo bem legal, eu realmente curti muito aquele tipo de treino. Mas, sempre que eu começava a pensar demais sobre isso, eu começava a me sentir bem menos confortável naquela situação. Afinal, eu ainda estava literalmente deixando que uma total estranha me usasse como um saco de pancada, basicamente. Isso não era normal, independente do contexto em que você colocasse.

Ninguém deveria se expor a esse tipo de vulnerabilidade sem ter certeza de que podia confiar 100% na outra pessoa. E eu meio que sabia que estava sendo irresponsável em admitir que estava começando a gostar daquilo, não conseguia evitar.

E aí, olhando pra trás agora, soa até meio bizarro pensar que toda essa loucura só começou porque eu resolvi dar uma volta fora da escola no meio da madrugada, com um objeto que podia literalmente jogar pra outro lado do mundo, só porque eu tava meio frustrado e queria dar uma pequena mudança de ares. Eu já tinha feito muitas coisas estupidas no calor do momento, não sou lá de pensar muito antes de agir, mas essa foi de longe a mais insana, até pra mim. Essa, com certeza, merece o segundo lugar no ranking das decisões mais questionáveis que eu já tomei na vida. Sim, segundo, porque a primeira sem dúvida foi eu ter aceitado uma sugestão de uma total estranha que já tinha apontado um objeto afiado pro meu peito duas vezes em menos uma hora.

É eu sei, muitas decisões ruins que me jogaram numa enrascada da qual eu nem sabia como sair, mas que também não tinha certeza se queria mesmo sair...

Ok, acho que eu já fugi demais do do assunto... Então, onde é que estávamos mesmo?

Ah, sim, estávamos falando sobre eu ter de treinar com alguém que mal conheço. De novo. Mas pelo menos dessa vez não foi numa situação tão bizarra quanto foi com a Eva. Mesmo assim, aquilo me deixou meio estressado no começo. Acontece que Simas sempre me pareceu ser aquele tipo de cara que não liga pra nada e que é meio sem jeito, sabe? Mas, como eu estava prestes a descobrir, essa primeira impressão não era exatamente precisa, embora também não fosse totalmente infundada.

A coisa toda começou na Academia, quando chegamos a sala onde aconteceria nossa segunda aula daquele dia, sendo guiados pela nossa professora de Demonologia. O espaço, assim como a maioria das salas daquela instituição, era uma sala imensa, toda protegida com paredes acolchoadas e com um grande fosso circular bem no meio. Assim que a gente entrou, eu já fui logo me aproximando na beirada do fosso, só de curiosidade mesmo, mas já me arrependendo logo em seguida.

A sensação de arrependimento surgiu quando, ao me inclinar para ver melhor, quase caí de cara lá embaixo na hora em que uma grande sombra surgiu de repente no meu campo de visão, e dois pares de olhos brilhantes me encararam.