𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐨𝐢𝐭𝐨

8 1 0
                                    

Eu não tinha qualquer outra opção a não ser a de simplesmente me calar e aceitar.

Afinal, quem é uma princesa diante de dois reis?

Eu queria contestar, queria gritar, chorar..., mas no final não fiz nada disso.

(...)

Esperei até que todos se retirassem da sala do trono depois de meu pai ter uma de suas reuniões.

Dei duas batidas na porta de madeira cravejada com flores e, sem esperar consentimentos, entrei. Meu pai estava sentado, assinando alguma coisa, mas quando me viu, colou a pena novamente no pote de tinta.

_Por que você não me falou nada antes?! Porque você... você poderia, no mínimo ter me avisado antes, que minha vida, que eu. Sou só um peão, uma peça no seu tabuleiro! - disse sem enrolações e nem paparicos.

_Eleonor, você está fazendo tempestade em copo d'agua minha filha, se casar por barganhas feitas pelo seu reino é, na realidade uma hora. Foi assim que aconteceu comigo e com quase todos os outros grandes reis e rainhas do nosso reino. Se casaram, não por eles, mas pelo seu povo. Esse é o seu dever.

_minha mãe nunca concordaria com isso. - disse com os olhos marejados.

_sua mãe morreu, Eleonor. - Ele praticamente gritou.

Eu e meu pai, inconscientemente nos prometemos a nunca nos referirmos a mamãe assim.

_eu sempre te admirei, pai. Meu sonho era algum dia me tornar uma rainha tão boa quanto o senhor. Mas a última coisa que eu quero é ser ao menos parecida com você. - Eu saí da sala sem ouvir sequer uma resposta e bati a porta com o máximo de força que consegui. E fui para o jardim. Porém, dessa vez eu não chorei. Provavelmente minha cota de lagrimas nos últimos três dias se esgotaram.

Sentei-me num banco de madeira que fica perto da fonte principal do jardim e fiquei olhando para o horizonte de Aquiles, para o reino que se localizava abaixo da colina.

Consegui ver pessoas andando para lá e para cá. Comerciantes e fazendeiros em barracas montadas na praça, cavalos e mulas em grande excesso entre eles.

Hoje chegariam mercadores de peixe do litoral norte da ilha para vender suas pescas. Eu conseguia ver um navio enorme chegando com cargas, ancorado no porto.

Quando Aquiles foi construído, Henry mandou que a cidade e o castelo fossem construídos ao sul da ilha. Ninguém sabe exatamente o porquê, mas a maioria dos estudiosos falam que, pelos pais dele terem morrido em um naufrágio ele desenvolveu uma fissuração no oceano e queria que o castelo fosse perto do litoral.

Não posso reclamar de nada, porque amo a vista que o jardim tem da praia.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de cavalos relinchando. Olhei na direção do barulho, era Hector colocando os cavalos no estábulo depois de levá-los ao pasto.

Da última vez que o vi, no meu aniversário. Foi ele que ajudou a me acalmar, sem saber ele aliviou uma dor que sequer foi ele que causou.

Fui até a porta do estabulo, Hector estava cochichando alguma coisa com um cavalo. Quando me viu, os olhinhos verdes se arregalaram tanto quanto bolinhos de aveia no forno.

_que foi? Tá contando alguma coisa para ele que eu não posso saber?!- cruzei os braços. Segurando o riso

Ele abriu e fechou a boca umas três vezes para falar, mas desistiu em todas elas

O silêncio foi interrompido pelo relinchar do cavalo cujo Hector estava acariciando a crina.

_ah, aí você nos entrega né colega?!- ele disse rindo.

Eu soltei uma risada, mais sincera do que eu achei que poderia naquele dia.

_como eu poderia ajudar a princesa de Aquiles?

Olhei para o cavalo e depois para o chão. Oque eu iria falar?! "nada não, é só que meu pai quer me casar sem qualquer consentimento meu e blábláblá..." claro que não!

_tudo bem? - sua voz e expressão deixavam nítido que ele estava confuso

_tudo sim- dei um sorriso mais falso do que trolls com saias. Infelizmente o único cujo meu rosto foi capaz de esboçar.

_hum...- claramente Hector não estava convencido.

_é sobre o casamento?... - Pera, oque!? Ele sabe, como ele sabe?!

_....eu sei, deve dar um nervosismo enorme, saber que a qualquer momento você pode assumir o lugar de seu pai. Não que já não possa. Mas deve ser muito mais fácil governar junto com um rei. E ainda mais com a pessoa que você ama. No caso o príncipe de Dazzo.- acho que assim que ele falou as duas últimas frases eu dei um suspiro aliviante, no mínimo ninguém (o Hector) não sabia da enormidade e complexidade do meu futuro casamento.

Por algumas vezes me passou vagamente a cabeça que eu deveria contar a alguém isso. A alguém que realmente me entenda E alguém de verdade. Não á aquele quadro na biblioteca. Mas em todos esses momentos eu me neguei a esse luxo.

Se nem eu conseguir lidar comigo mesma e meus problemas, quem mais seria capaz de tal ato?

_talvez não seja isso o que eu desejo. - Não pensei muito ao falar, as palavras voaram como um bocejo antes de uma boa noite de sono.

_Mas e se te perguntarem, o que você desejaria?

Ih! Já deu pra perceber que eu falei de mais.

Oque Eu quero? Bem... eu nunca parei para pensar nisso.

_eu... talvez a paz.- Hector fez uma careta

_oque?!- perguntei.

_Para de falar uma das respostas que você leu em algum livro de fantasia. Oque você deseja?

Pensei por um instante.

_A liberdade, a minha liberdade.

_Mas você é a princesa. Faz oque quer e na hora que quer...

_não. Essa é a visão que o povo tem de uma princesa. - seus olhos verdes estavam fixos nos meus.

_Mas por que...então...- o olhar dele variava entre mim e o chão. Um brilho estranho tomou seus olhos.

_pelo Reino de Aquiles.- pronto. Agora todas as cartas estão sobre mesa. Ou, no mínimo quase todas.

MithoryaOnde histórias criam vida. Descubra agora