Estava um clima tão bom, não havia nenhum outro barulho além das folhas das árvores oscilando, até um barulhinho vir do corredor que leva ao estabulo, agora não tão úmido, e nem escuro.
Por um momento, achei que fosse Otto, ele ama ficar brincando de caçar borboletas no jardim.
_Otto! Vem aqui seu danadinho!
Fui andando até o arbusto de onde estava vindo o barulho, mas Otto não estava lá, o que eu vi era uma espécie de livro, bem velho.
Era um livro que aparentava ser muito antigo, não tinha nada escrito na capa, era uma capa de couro velho, com os cantos da capa com um pigmento mais avermelhado. Mas pensando bem, pode ser só porque está velho.
Não vou mentir, fiquei com um pouquinho de receio de pegar aquele livro, mas eu ja disse que eu sou muito curiosa?! É. eu sou.
Foi bem difícil de soltar ele daquele monte de cipós que o envolviam, mas eu consegui. Agora estava eu, segurando um livro todo velho e esquisito no meio do corredor do estabulo.
Abri aquele livro, mas não consegui enxergar nada, parecia que as páginas estavam completamente em branco, pensei que pudesse ser só porque o sol já estava quase completamente desaparecido do horizonte e por isso não desse para ler, o levei para o meu quarto e acendi uma vela, mesmo assim, não tinha nem marcas de que alguém em algum momento escreveu naquele papel.
Meus dedos deslizaram pelas páginas, no mínimo até eu perder a paciência de ficar encarando as páginas completamente virgens do livro e o jogar na cama
_livro inútil! - exclamei com tom de irritação.
Tudo naquele momento me irritava, pensar no meu aniversário, pensar que meu pai me usou como um peão em uma mesa de xadrez, pensar que agora eu vou ter que me casar com o príncipe, esse livro. Tudo.
Passei um tempo na biblioteca, lendo para tentar esquecer aquele sentimento e afastar pensamentos intrusivos, até o sono chegar.
(...)
Estava já arrumando minha cama para dormir, não gosto de deixar as criadas fazerem isso por mim, sem ofensas, mas elas não arrumam do jeito que eu sou acostumada e por isso eu mesma faço.
Coloquei o livro inútil na minha penteadeira com um pouquinho de força a mais doque o necessário, fazendo o livro se abrir. Achei um tanto quanto estranho quando vi alguns rabiscos na primeira página. Peguei o livro novamente e havia uma dedicatória curta e direta:
"Diário de pesquisa Eduard Dazzo, Mithorya"
"neste diário retratarei o processo de estudos de como um ser não mágico como eu, um ser humano. Pode praticar magia."
Eu tenho certeza de que já li sobre essa pessoa em algum lugar, só não me lembro onde e nem sei quem é Eduard, muito menos Mithorya. Eu tenho que aprender a controlar minha curiosidade, mas não agora, agora preciso de respostas.
Virei a página, e o espaço que antes estava completamente em branco, agora estava completamente cheia de escritas e letras embaralhadas.
"iniciando a pesquisa, vou usar como teste quatro pixies que Rasbo, o gnomo que resgatei na floresta nevada de Molihous trouxe..."
_o que é isso?!
Eu realmente não faço ideia doque seja esse diário, e porque isso está aqui, em Aquiles. Mas simplesmente continuei lendo, apesar de não entender a situação ali descrita.
"... tá bom, eu devia ter ouvido Rasbo antes, os testes funcionam muito melhor nas terras geladas, achamos uma pequena caverna a oeste da travessia da ponte Arcana que funcionaram perfeitamente para a nossa pesquisa..."
Eu fiquei encarando esse parágrafo por um tempo tentando me lembrar de algum lugar com esses nomes ou características nos reinos, falhando miseravelmente nisso, e por isso voltei a ler.
"teste um: um tufo de pelo de um Pixie amassado com um pouco de menta e água."
A frente dessa anotação estava escrita com uma letra quase ilegível e tudo maiúsculo:
"FALHA"
Fui folheando algumas páginas que também tinham vários testes como "urina e fezes de pixies com ervas, garra de dragões derretidas em lava ardente em um lago de lava cujo autor chamou de Clape" dentre várias outras tentativas malucas como usar pó de chifre de unicórnio diluído em sangue de vampiro...
"já perdi as contas de quantas tentativas eu ja fiz, mas acabei de descobrir que a menta é um ótimo instigante, e que facilita muito na prática da magia no corpo humano"
Essa parte estava escrita de vermelho, em destaque. Continuei lendo aquele diário.
"eu percebi que ainda não tinha tentado desvendar a pergunta 'como e porque os seres místicos já nascem com essas habilidades sobrenaturais' e por isso dediquei alguns dias a isso. Tentei achar formas menos agressivas, mas tivemos que apelar para a última opção abrir um ser desses para ver como seu corpo funciona. E assim fizemos"
Eu fiquei encarando a página enquanto minha boca se abria em um "O" perfeito, hesitando em virar a página desacreditada que isso estava acontecendo. Mesmo assim o fiz.
"para examinar melhor, optei por uma fada no lugar dos pixies por ser maior, seria mais fácil de examinar"
Apesar de estar muito curiosa para saber o que aconteceria a seguir, qual seria o próximo passo, decidi que era melhor deixar o diário de lado e ir dormir, e assim o fiz, deixando o livro na mesa de cabeceira e apagando o lampião.
Fechei os olhos tentando dormir, porém minha curiosidade me fazia olhar para o velho livro ao meu lado.
Mas eu cheguei à conclusão de que já ouvi ela muitas vezes esses dias, por isso me virei para o outro lado expulsando todos aqueles pensamentos intrusivos que me mandavam ler "só mais um pouco" e me forcei a fechar os olhos e dormir.
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Mithorya
FantasyUm povo que por orgulho foram separados, tentando se reunir novamente a partir de um casamento arranjado com a princesa Eleonor e o príncipe Cyrius. Mas apesar de Eleonor saber dos seus deveres como princesa de seu reino, ela tenta achar alguma outr...