𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐭𝐫𝐞̂𝐬

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Me levantei e sequei as lagrimas passando pela porta coberta de folhas e cipós cujo havia passado minutos atrás. Passei pela porta da frente do estábulo, que já estava entreaberta.

_oi? Tem alguém aqui? - depois que falei isso, ouvi um barulho de latas batendo, mesmo assim, segui em frente pelo corredor mal iluminado e cheirando mal até que, no canto de uma parede tinha alguém caído no chão, com baldes em cima de todo o corpo.

Minha primeira reação foi bater duas vezes na lata do balde que eu achei que estava na cabeça.

Se eu me arrependo de não ter no mínimo falado alguma coisa antes de simplesmente bater no balde? Sim. Porque quando eu o fiz, a pessoa protestou:

_Aí! Isso doí! - eu dei um pulo pra trás.

Sinto como se já tivesse ouvido essa voz antes em algum lugar.

_ Desculpa, queria ver se você ainda estava vivo...- tirei o balde que estava na cabeça dele.

Ele ficou parado por um tempo digamos que até considerável.

E quando eu percebi que ele não ia falar nada eu perguntei:

_o que aconteceu? Fez um barulho tão alto que escutei do jardim. Você está bem?

_ não, não, eu estou bem sim. Obrigado princesa.

Ele começou a tentar se levantar, mas ele aparentemente era muito desastrado pra isso, caindo de novo no chão.

_aff...- ele resmungou.

Eu tentei conter minha risada, mas não deu, eu ri, não dele, mas de toda aquela situação completamente alheia.

Porém quando eu percebi que ele estava me olhando eu parei de rir e fiquei com o rosto neutro quase instantaneamente.

Por que eu sempre rio na hora errada?

Mas quando achei que não, ele também começou a rir. Ele claramente não iria conseguir sair de lá, no mínimo até a próxima primavera.

_ deixa, eu te ajudo. - Estendi a mão pra ajudá-lo a se levantar. O garoto não recusa a ajuda e se levanta com minha ajuda.

_ não querendo me intrometer na sua vida, alteza. Mas a senhorita não devia estar lá dentro? Hoje é seu baile de aniversário.

Eu não queria falar sobre isso, muito menos agora que eu tinha conseguido amenizar os sentimentos ruins que aquilo tinha me causado. Então pra evitar entrar no assunto eu suspirei, olhei pra um dos cavalos a minha volta e lhe acariciei a crina.

_provavelmente devia. mas sabe, acho que eles nem notaram que eu saí. - Eu dei de ombros, tentando afastar o assunto. - Mas e você? Eu pensei que o estabulo só ficava com um cavalar... calva...

_Cavalariço.

_isso! Durante o dia, não sabia que tinha gente pra cuidar dos cavalos até a noite.

_Esse é meu primeiro dia por isso a demora, mas normalmente não tem cavalariços a noite, no entanto hoje foi uma exceção, por ser o aniversário da princesa, você. E também pelos Dazzos estarem aqui. - Novamente o assunto dos Dazzo. Do casamento. Tentei disfarçar o máximo que pude o quanto aquele assunto me incomodava.

_eu falei algo errado? Mil perdões vossa majestade. -

Ele acabou de me chamar de "vossa majestade"?!

Eu acho muito estranho as pessoas me chamarem assim, acho que não tem necessidade sabe?! um: "princesa Eleonor" até vai, mas "vossa majestade"?!

Não, só não.

Um sorriso tomou conta do meu rosto.

_ Não precisa de tanta formalidade, pode me chamar de Eleonor. - Estendi a mão pra um possível cumprimento.

_tudo bem, princesa. Prazer, pode me chamar de Hector. - Ele aceitou o cumprimento, apertando minha mão. Meio frouxo.

Conversamos mais um pouco depois disso, descobri que Hector também tinha mania de tratar os animais como amigos. E em um certo momento até contei pra ele que também tinha vontade de aprender Hipismo, mas que meu pai me proibia disso porque uma vez Abigail tinha dito que "uma princesa não deve ser desordenada".

Não tenho o hábito de guardar rancor das pessoas, mas nunca confiei naquela governanta.

Foi muito bom conversar com alguém sem ter que me preocupar em fingir nada.

Mas tudo o que é bom dura pouco.

Ouvi a voz de Amber me chamar vinda do jardim.

_Tenho que ir agora. Foi um prazer te conhecer. Até mais! - disse, quase alcançando a pequena porta dos fundos usada pelos jardineiros para acessar o jardim.

Apesar de quase nunca vir ao estabulo eu o conheço de cabo a rabo pelos mapas do castelo.

Quando eu era pequena eu sempre ia até a sala do general e ficava brincando com os mapas enquanto meu pai e Ronan, o general de Aquiles planejavam novas estradas no reino pra que os mercadores pudessem se locomover mais facilmente.

lembro de uma velha mercadora me dar um par de brincos lindos no meu aniversário de quinze anos, dourado e com perolas brancas, e dizer que eles me faziam ficar mais parecida com minha mãe.

_o prazer foi meu, princesa. - Hector disse pouco antes de eu sair do estabulo

_já disse que é só Eleonor. - O adverti.

_ops!.. Esqueci. - Ele sorriu como se fosse proposital. 

MithoryaOnde histórias criam vida. Descubra agora