20 - Foda se as diferenças!

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( Onze horas da manhã)

- Essa ai é quente, aumenta ai, aumenta ai - falo pro Ninja, sentado no banco do carona.

- Essa música é estranha, braço... já viu a tradução? - ele argumenta, acendendo um cigarro.

- Ou, fumando pra caralho, hein? Não joga essa fumaça fedida na minha cara não, assopra pra fora ai! - brigo, aumentando eu mesmo o volume.

Bazuca tá quietão lá atrás, no contato com a novinha que comeu ontem. Não larga o celular.

Tamo de giro no Onix novo, placa fria, mas o dia hoje tá é muito quente, portanto tirei a regata. Ninja também.

Pretendemos jogar uma sinuca e tomar um bagulho ali no seu Alcides. Outro dia, né? Amanheci novo em folha.

- "Estou me perguntando por que sai da cama, tarárá, tarará... tudo seria cinza..." - O hashi recitou a tradução da letra bem alto, pra que sua voz ultrapassasse a música. - é obscuro, cara.

Não tô acreditando que ele perdeu tempo da vida dele pesquisando essa porra.

- Eu curto o bagulho, pô... Se manca! - falei, cara de puto bolado, e me inclinei para ver se eu estava enxergando direito.

Tava sim... Era ela mesmo.

A princesinha do mercado falando com o pai na calçada. Paro de olhar, procuro pensar em outras coisas, mas ai Bazuca bota a cabeça entre os bancos:

- Não é a novinha lá? Gostosinha ela, hein. - empurra meu ombro com uma batida, risinho de tralha na boca.

Mudo o enfoque pro outro lado da rua, descreditado desses caras...

- Ela mermo - Ouvi a voz do resto de yakisoba confirmando.

Quero nem ver, tô de boa. Essa aí deve ser um nojo.

Diminui a velocidade, esperando os seguranças ultrapassarem. No que percebi pelo canto do olho o Ninja fazendo um movimento, virei para olhar novamente. Curiosidade venceu, foda se.

A mina tava com a mão em posição de continência na cabeça, cena hilária. Virou uma estátua ao ver o carro, mas a mão permaneceu na posição, como se ela estivesse tão atônita que tivesse esquecido de tirar.

Ninja, para implicar a garota, repetiu o gesto, a imitando e rindo sem vergonha.

Pai dela cumprimentou, e nós três retribuímos. Mas ela parecia querer se enterrar, nitidamente embaraçada com a situação.

Meus moleques estacionaram em frente ao bar e eu parei o carro também, logo atrás.

- Tu brinca mais que a brincadeira, menor - eu disse em tom reprovativo pro Ninja, meio que não gostando muito dele ter tirado essa onda com a cara da mina. Me pareceu que ela se sentiu insultada.

Tem horas que ele exagera.

- Não resisti, cara!

Abaixei o som e desliguei o motor antes de saltarmos. Murmurei um "fé" pra morador sentado nas mesas e imbicamos bar adentro.

Pedi uma coca e me recostei. Ninja veio arrumando a aba do boné preto em cima da cama de cabelos escorridos, e rindo.

- Tadinha, ficou mó sem graça, ela... - escorou os braços também, à minha direita. Bazuca colou pela esquerda, pedindo uma garrafa da mais nevada que tivesse.

- Na moral, vi umas colega ai falando que ela era metida, mas não acho que seja não... Parece gente boa a beça - continuou.

- Caralho, ele não para de falar, não? - perguntei pro Bazuca.

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