III

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Primeiramente boa noite, né? Ao clube de 5 leitores de 'Medusa' peço humildes desculpas pela demora, não foi por querer, juro a vocês. Sem mais delongas, playlist atualizada no meu perfil, a música pode ser escutada durante todo o capítulo.

Até lá embaixo!

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Play on: Hymn to the muse - Professor Chill, Stef Conner

O rapaz desconhecido para ela não a via, como se fosse um espectro observando tudo de perto, mas ao mesmo tempo, distante. Seu corpo ainda estava desacordado entre os braços preocupados de Autolycus, enquanto ela viajava naquela visão que lutava para compreender o porquê de estar tendo. Como uma águia habilidosa, o jovem despencou, seu corpo cortando as nuvens como um raio de encontro ao chão. O bebê, por sua vez, permanecia tranquilo como se toda aquela turbulência não fosse grande coisa. Uma leve luminescência dourada emanava do pequeno ser adormecido.

O monte estava um pouco diferente do que recordava, menos neve do que costumara a ver. Entretanto, tinha certeza, era ele. E o templo tão reconhecível estava intocado, aparentava até mais imponente. Menos marcas do tempo em suas colunas majestosas.

Lauren então percebeu que após descerem alguns bons metros em direção ao chão, que no mundo dos mortais ainda era noite, provavelmente madrugada, os tons em púrpura e um laranja clarinho anunciavam que em breve a carruagem de Hélio passaria por ali.

Quando pousaram, quer dizer, o ser alado pousou, se dirigiu vagarosamente às escadas, subindo e trocando palavras com a criança que abria seus olhinhos inocentes e puros com dificuldade, ainda mal sabia como era enxergar o mundo. O templo não possuía portas, então entraram despreocupadamente, sabendo que pelo horário não haveria ninguém, como o rapaz gostaria que estivesse. Dentro da bolsa que estava o pequeno, estavam as peles necessárias e macias que o manteriam protegido até que a ajuda chegasse. Sua luminescência esvaía à medida que o mais velho lhe dirigia palavras que Lauren não compreendia. Não era grego. A tranquilidade do pequeno se foi após isso, e seu protetor nada fez a não ser deixá-lo iniciar o choro que perduraria ainda por poucas horas. Sua nova protetora não demoraria a chegar.

Uma vez com seus pés no chão, seu espectro não acompanhou o alçar do ser encantador de olhos ametistas.

Agora era ela e o bebê.

Ela, consigo mesma.

Olhou atentamente para a pequena figura chorosa, e deixou seu corpo plasmático deslizar pela coluna até estar sentada no chão, sem se importar com o ruidoso barulho do desespero que sentia quando nem entendia nada sobre o mundo ou sobre si. Quando não tinha sentido esmagar os ombros o peso amargo da verdade acerca de sua existência. Da existência que não deveria nunca ter tido um começo.

A única coisa capaz de fazê-la deixar de encarar o nada entre o ar gélido do templo foram os passos largos de uma jovem mulher de vestido longo e tecido claro, e apesar de tão mais nova, Lauren reconheceria aquele rosto de qualquer lugar que estivesse. Agnes. A única que poderia chamar de mãe e a única que faria alguma questão de chamar por aquele nome.

Da mesma maneira que lhe contara, Lauren assistiu a cena que havia imaginado centenas de vezes em sua própria cabeça. Agnes a apanhando do chão próxima ao altar, vermelha como pimenta. A mulher afastou o embrulho, mas não se demorou, o que quer que tivesse passado por sua cabeça tratou de mandar embora e aninhou a pequena em seus braços, emitindo um chiado entre os lábios, acalentando e acalmando uma versão de si tão minúscula e adorável.

Medusa (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora