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O cheiro de cigarro predomina o espaço, este que é preenchido por pessoas alcoolizadas dançando, em sua maioria, de maneira sensual. Está um verdadeiro caos, e eu amo isso.

Permito-me ser arrastada pela multidão enquanto permaneço carregando o meu copo, não sei o que colocaram na minha bebida, mas foi o suficiente para colocar todo o meu corpo em adrenalina. As fortes luzes coloridas iluminam todo o local, aproveito e bebo o resto da minha bebida em um só gole.

Olho para o copo vazio, suspiro chateada e pego um maço de cigarro na minha bolsa ao mesmo tempo em que me locomovo para o bar. Preciso de outra bebida.

O trajeto em si não era distante, mas a multidão de pessoas acabou atrapalhando um pouco, fazendo com que eu demorasse mais do que deveria. Ao me encostar no balcão, aperto a pequena campainha que fica em cima da superfície, não demora muito e logo sou atendida.

— Em que eu posso ser útil para esta linda moça? — O barman pergunta com um grande sorriso enquanto passa pano em alguns copos. Por mais que o seu sorriso seja cativante, os seus olhos demonstram o cansaço.

Eu estava prestes a responder, mas fui cortada por uma voz grossa e desconhecida atrás de mim.

— Prepare um Whisky Sour para esta dama. — O tal homem desconhecido fala e o barman concorda com a cabeça. — Eu pago.

Viro o meu corpo e encaro melhor a figura atrás de mim. Meus olhos oscilam entre o seu corpo e rosto, o seu cabelo é cortado por camadas e raspado nas laterais, dava-lhe um ar mais jovial, assim como as suas roupas despojadas. Mas o seu rosto marcado e sua barba feita contradiz o meu pensamento anterior. Também não pude deixar de admirar os seus olhos castanhos, tão escuros que eu poderia facilmente me perder por lá.

— Poderia saber o motivo de uma mulher tão linda estar sozinha? — Ele me pergunta à medida em que puxa um banco.

— Apenas aproveitando — respondo, retribuo o sorriso e noto a minha bebida sendo entregue, pego-a e dou pequenos goles nela.

— Então...que tal aproveitarmos juntos? — perguntou enquanto se aproximava ainda mais, firmando o seu aperto em minha cintura. — Afinal, temos uma noite inteira pela frente.

Meu corpo reagiu instantaneamente ao seu toque suave, mas trato de lembrar que não estou aqui para me divertir, pelo menos, não muito.

— Não estou muito afim — coloco a bebida sobre o balcão e afasto as suas mãos de minha cintura.

Seu sorriso desaparece e é substituído por uma carranca, ele se levanta e direciona o seu aperto para as minhas bochechas, apertando-as com uma força imensa.

— Olha aqui, sua puta. Eu nunca levei um "não" e não será dessa vez que eu levarei um. Você entendeu?

Sinto o meu sangue borbulhando de raiva somente por ouvir as asneiras causadas por um homem que não vale nem o ar que respira. Agarro o seu pulso com força, admito que eu não possuo a força de um homem, mas tenho as minhas grandes e afiadas unhas, uso-as ao meu favor e perfuro a sua pele, conseguindo tirar um mínimo filete de sangue. Ouço o seu gemido de dor enquanto ele remove rapidamente as suas mãos das minhas bochechas.

— Sua cadela! — Ele esbraveja. Levanto-me bruscamente e fico bem em frente ao seu rosto.

— Pouco me importa se você já levou um fora ou não, muito menos de seus desejos nojentos. — Vou me aproximando cada vez mais. — Mas saiba que eu não sou mulher de ficar abaixando a cabeça para homem escroto, eu não tenho medo de você. Entendeu?

Pego um grande impulso e acerto o meu joelho em sua intimidade. Ouço seus gritos de dor por causa do ataque repentino.

— Se atreva a direcionar um "a" pra mim novamente e eu juro que arranco o seu pau e amarro ele na sua testa. — cuspo em seu rosto, pego a minha bebida e vou para o outro lado da boate.

Quanto mais eu ando, mais pessoas aparecem na minha frente. Vou ignorando elas e continuo com o meu caminho, dando pequenos goles em minha bebida.
Porém, o meu trajeto acaba sendo interrompido após trombar com uma outra pessoa, o impacto fez com que a bebida do indivíduo fosse toda jogada em minha roupa. Olho para baixo e vejo o meu vestido branco manchado de vermelho. Puta merda.

— Não sabe olhar para onde anda? — A outra voz se pronunciou primeiro, levanto os meus olhos e encaro a figura em minha frente. Não consigo ver muito bem o seu rosto por conta das fortes luzes coloridas, mas isso era o de menos; o meu vestido branco está arruinado.

— Foi você que esbarrou e derramou bebida em minha roupa. Está maluco? — reclamo, ainda tentando desesperadamente achar alguma solução para este vestido. — Merda, eu acho melhor você arrumar a bagunça que fez em meu vestido.

— Por que eu faria isso? Eu te fiz um favor, esse trapo velho não serve nem para ser o pano de chão da minha casa. — O garoto responde com um sorriso arrogante no rosto, porém eu não consigo reparar tanto por causa da minha visão limitada causada pelo ambiente escuro.
Minha paciência já estava no limite e ele estava tirando o resto dela.

— Trapos? Quem você pensa que é?

— Alguém que está pouco se fudendo para você e para esta roupa velha. — Ele me olha com uma cara de desgosto e passa por mim.

Sinto-me humilhada pela forma como tudo isso está levando, a porcaria deste vestido é importante e eu me recuso ficar calada diante tanta humilhação, portanto, pego o resto da minha bebida e acerto em suas costas. Ele se vira e me encara com raiva.

— Que porra você pensa que está fazendo? — Ele fala com a voz alterada e se aproxima de mim. — Endoidou de vez? Espero que pague cada centavo dessa roupa, ouviu bem?

— O que? Eu te fiz um favor! Esse seu trapo aí, até mendigo recusa. — respondo com um sorriso e me viro para a saída da boate. Já fiquei tempo demais por aqui.

𝐇𝐨𝐨𝐤𝐞𝐝 | 𝐌𝐚𝐭𝐭𝐡𝐞𝐨 𝐑𝐢𝐝𝐝𝐥𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora