Capítulo 6

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CAPÍTULO 6

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Já faz uma semana que os dois acontecimentos se abateram sobre mim. Descobrir que foi uma armação que me separou do Mauro dói muito, principalmente porque agora tenho certeza de que pisei em seus sentimentos e ele estava sendo sincero.

Tenho tentado ligar para o celular dele, mas está sempre fora de área. Não sei se ele me bloqueou ou se trocou de número agora que mudou de cidade. Já pensei em procurar o telefone da agência bancária para onde ele foi, mas não sei qual será sua reação. Primeiro eu pisei demais nele e, por causa disso, ele mudou toda a sua vida e trocou de cidade. E, agora, que ele está se adaptando, eu simplesmente reapareço pedindo desculpas. Não sei se ele merece uma mulher complicada como eu para atormentá-lo ainda mais...

Outra coisa que está me tirando do sério é o sumiço de Anderson. Há uma semana, desde aquele último telefonema, que ele não dá notícias. Tenho tentado ligar para ele, mas, também, só dá fora de área. Estou sentindo-me tão perdida e sozinha...

Não tenho ninguém para desabafar ou espairecer. Leona é uma pessoa legal, mas não a considero exatamente como uma amiga, uma confidente, não como o Anderson.

"Cris, você me ouviu?" - indaga Leona me tirando de meus pensamentos.

"Ãhnn...? Ah, não... Desculpe-me Leona. O que você disse?"

"Eu falei que o representante das roupinhas para cachorro quer mostrar a nova coleção e quer saber se pode agendar uma visita para amanhã à tarde." - fala enquanto segura o telefone aguardando minha resposta para dá-la à pessoa que está na linha.

"Ah, pode sim. Marque para as 15 horas."

"Tudo bem."

Ela termina o atendimento telefônico e eu fico no balcão atendendo aos poucos clientes que estão na loja. Hoje o movimento está fraco. Comércio é assim, tem dias que não podemos nem respirar, mas tem dias em que ficamos entregues às moscas.

Chega a hora do almoço e procuro um self service novo que abriu essa semana, o Mafuá Brasileiro. É sempre bom prestigiarmos e dar oportunidade aos novos estabelecimentos. Sei o quanto é difícil abrir e manter um negócio próprio.

Mal entro e vejo a tal namorada do Mauro que não era. Ela almoça sozinha. Faço meu prato e me dirijo à mesa em que ela está.

"Bom dia! Eu lhe desagrado se sentar aqui?" - pergunto temerosa.

"Não. De jeito nenhum!" - sorri amigavelmente.

Começo a comer sentindo-me desconfortável porque quero puxar uma conversa. Acho que ela percebe e me chama num diálogo:

"Como você está, Cris?"

Engraçado, ela sabe o meu nome e eu nem sei o dela!

"Bem. Qual o seu nome?" - questiono.

"Débora."

"Tentei ligar para ele, mas não consigo." - ela me olha e eu continuo - "Pensei em procurá-lo no banco, mas acho que não tenho esse direito..."

Ela se remexe na cadeira.

"É, Cris, me desculpe a franqueza, mas não tem mesmo. Você fez o Mauro sofrer demais. Se o gerente fosse outra pessoa, ele teria sido demitido. Mauro ficou tão desnorteado que cometeu erros graves dentro do banco. Só para você ter uma ideia, transferiu as economias de uma cliente para a conta errada. Isso quase custou ao banco um processo. Consegui reverter o quadro e segurar a situação porque a cliente me conhece há anos..."

Fico chocada com o que ela me conta. Realmente, fiz muito mal ao Mauro e não posso mais atrapalhar sua vida. Pensando assim, não consigo segurar as lágrimas.

Olha Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora