CAPÍTULO 42
<<Cris>>
Entro no Lar e vou direto para o jardim. Marcos já está lá cercado de hóspedes. Ainda não começou a tocar, estão apenas conversando.
"Boa tarde, pessoal!" - digo.
"Boa tarde, Cristine!" - responde Marcos com um sorriso alegre.
"Boa tarde!" - responde dona Adélia.
"Seja bem vinda!" - diz seu Paulo.
O restante dos hóspedes se junta em saudações calorosas também.
"Cristine, em homenagem à sua visita, escolha uma música para começarmos a tarde." - diz Marcos.
"Caramba..." - sou pega de surpresa - "Me deixa pensar..." penso um pouco e todos me olham em expectativa - "... Já sei! As Rosas Não Falam de Cartola.
"Essa é linda!" - exclama Marcos que começa a tocar e cantar e é acompanhado pelo coro dos hóspedes.
"Bate outra vez/ Com esperanças o meu coração/ Pois já vai terminando o verão..."
A música termina e dona Adélia comenta:
"Acho que nossa visitante está apaixonada!"
Sorrio sem graça. Mais uma vez, dona Adélia, a cega, me mostra que consegue enxergar muito mais do que qualquer um de nós que temos o dom da visão. Ela aprendeu a olhar a alma das pessoas.
Marcos imediatamente emenda outra música, Ronda de Paulo Vanzolini.
"De noite, eu rondo a cidade/ A te procurar, sem encontrar..."
É impressionante como essas músicas de seresta estão gravadas na memória de todos! Os hóspedes cantam a todos os pulmões. Eu também. Esse momento de música nesse jardim é uma verdadeira terapia. Parece que as energias ruins à nossa volta vão se dissipando.
"Puxa, tenho que trazer Patrícia aqui numa sexta feira!" - penso - "É só organizar algumas coisas no restaurante e trazê-la para se alegrar um pouco."
E a seresta continua com várias outras músicas. Os homens me tiram para dançar e outros dançam com algumas senhoras também. Todos bailam infinitamente melhor do que eu! Quase uma hora e meia depois, Marcos toca O Mundo é um Moinho de Cartola:
"Ainda é cedo amor/ Mal começaste a conhecer a vida/ Já anuncias a hora da partida..."
É a última música da tarde. Já cantamos, já dançamos e o sorriso não larga de nenhum de nossos rostos.
"Gente, se eu pudesse, viria todas as sextas!" - exclamo.
"E, por que não vem?" - pergunta seu Paulo.
"Larga de ser fofoqueiro, Paulo!" - exclama dona Lúcia, a cadeirante.
"Eu bem que queria, seu Paulo... Mas, preciso trabalhar para me sustentar." - explico.
"Já arrumou um emprego?" - pergunta Marcos.
"Já sim! Daqui a pouco mais te conto."
"Cristine, você tem um minutinho para mim?" - pergunta dona Néia.
"Sim, claro!" - digo curiosa.
Marcos me olha sem entender.
"Marcos, se não puder me esperar, outra hora conversamos." - apresso-me em dizer.
"De jeito nenhum! Claro que eu aguardo." - responde sorridente.
Dona Néia caminha para um canto mais reservado do jardim e eu a sigo.
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Olha Pra Mim
RomanceQuando se tem o sócio perfeito, o amigo fiel e o confidente de todas as horas reunidos num mesmo loiro com olhos verdes irresistíveis, tem como não se apaixonar? Quando chegou ao Rio, depois de abandonar a vida ao lado de sua família no interior de...