Capítulo 11

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CAPÍTULO 11

<<Cris>>

Na sexta feira, chego para trabalhar e Matilde, a caixa do meu turno, vem logo falar comigo cheia de sorrisos:

"Oi, Cristine! Quem é o Alemão?"

"De que alemão você está falando?"

"Do bonitão que veio aqui ontem te procurar."

"Me procurar?" - tomo um susto - "Qual era o nome dele?"

"Ah, isso eu não consegui descobrir porque logo que ele disse que estava te procurando, seu Celso tratou de puxá-lo na conversa e depois o despachou sem dizer nada a ninguém." - ela diz denotando tristeza por não saber a fofoca toda.

Fico atordoada. Não pode ser! Será que foi Anderson que esteve aqui? O que ele ainda pode querer comigo?

"Meu Deus, será que ele é um psicopata e eu nunca percebi?" - penso assustada.

Pela primeira vez estou começando a ficar com medo de alguém. Quero saber de tudo, mas seu Celso só chega mais tarde. Por isso, arrumo o balcão e começo com os atendimentos.

Há um senhor que sempre toma um cafezinho e que, depois encomenda e leva salada de frutas, brioches, bolo e salgados para viagem. Ele sempre senta em uma das mesas para esperar que eu embrulhe tudo. Mas, hoje, ele decide esperar tomando seu café em pé no balcão. É um senhor alto, jeito de ser simpático, magro, deve ter mais de sessenta anos e está sempre de terno e gravata pretos. Vem à padaria todos os dias, até aos domingos e sempre trajando a mesma roupa.

"Bom dia, senhorita!" - ele sorri.

"Bom dia, senhor." - retribuo o cumprimento.

"Meu nome é Joaldo. Posso lhe fazer uma pergunta, senhorita?"

Fico intrigada com sua curiosidade e aquiesço com a cabeça.

"Eu tenho a observado há algum tempo. A senhorita não se mistura com os outros funcionários, não é chegada a ficar de brincadeirinhas, está sempre séria, tirando os sorrisos que dá aos clientes por pura educação e tem modos finos demais. Hoje, noto que está nervosa. Será que os conselhos de um velho poderiam ajudar"

"Nossa! Uau..." - consigo articular quase deixando sua salada de frutas entornar enquanto a embrulho, depois do homem pronunciar esse exame clínico tão detalhado da minha pessoa.

"Espero que eu não a tenha assustado!"

"Ah, não. Não assustou, digamos que surpreendeu. Pelo visto o senhor me observa bastante."

"Sim, mas não me entenda mal. Sou um velho, não a observo com intenção obscura nenhuma. A observo porque suas maneiras me chamaram a atenção. Balconista sei que a senhorita é, mas não parece."

" Por que, minhas maneiras parecem a de uma dondoca?" - indago divertida.

"Hum... Digamos que sim." - rimos os dois.

"Não senhor. Sou trabalhadora e procuro cumprir retamente com minhas obrigações."

"Está vendo? É disso que estou falando. Sua linguagem não é de uma mera balconista. Você me parece uma mulher muito culta."

"Estudei, senhor. Apenas isso." - se ele soubesse que sou formada em administração, que conheço Europa, Oceania e América do Norte iria entender minhas maneiras e vocabulários. Mas, não. Minha vida é essa que levo agora. Sou apenas balconista.

"Desculpe-me, senhorita...?

"Cristine. Desculpe-me a indelicadeza de não ter dito meu nome antes, senhor Joaldo."

Olha Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora