Capítulo 25

288 37 12
                                    

CAPÍTULO 25

<<Cris>>

Se já gosto de ver as manobras dos surfistas em Itacoatiara, imagina agora que sei que aquele corpo torneado é o de Gustavo! Fico ali olhando para ele e pensando na minha vida. Está tudo uma confusão. Gustavo é um tesão e me desperta um desejo louco. Mas, ainda aqui, ainda agora, fecho os meus olhos e desejo que nada tivesse acontecido para eu poder estar nos braços de Anderson.

Seria tudo mais fácil se eu não tivesse descoberto nada. Se Anderson tivesse esperado um pouco mais, ele teria tudo de mim sem me trair. Teria a mim, à loja e ao meu apartamento... E eu seria feliz...

Esse pensamento idiota me desperta para o fato de que Anderson me faz tão mal, que chego a acreditar que eu gostaria de viver uma mentira. Decido ir embora. Está quase totalmente noite. No céu algumas estrelas reluzem no tapete que vai do preto, passa pelo grafite, cinza e chega ao tom alaranjado do azul que se despede juntamente com o sol. O mar é um grande gigante verde musgo quase cinza, enfeitado pela espuma branca das ondas que quebram.

Estou quase dentro da mansão quando meu celular toca. Atendo.

"Cris, me diz onde você está! Você sumiu de casa e da padaria..."

"Anderson, eu não vou voltar mais." - falo enquanto me sento na grama do jardim.

"Você me entendeu errado. Eu fiz tudo o que fiz por amor!"

"Ah, tá, você me fez acreditar que meus namorados eram desonestos, traidores e falsos porque você me amava? Ridículo isso, Anderson! Daqui a pouco vai querer que eu acredite que você não se sentiria capaz de competir com eles!"

"De verdade? Claro que não! Mas, eu tinha medo."

Gustavo abre o portão e vem entrando com sua prancha. Quando o vejo, me despeço de Anderson.

"Vou desligar. Não perca mais seu tempo comigo."

"Espere... Me dá uma chance..."

Desligo. Gustavo passa com sua prancha direto para a garagem, sem me olhar. Levanto, vou para a cozinha e coloco a lasanha que preparei para assar no forno. Enquanto isso, Gustavo está em seu quarto tomando banho.

Dessa vez, não pergunto. Preparo a mesa para ele na cozinha. Espero tempo suficiente para ele já ter tomado banho e bato na porta de seu quarto. De fora mesmo aviso que seu jantar está pronto.

Ele desce, eu o sirvo e ele come em silêncio. Quando acaba, se retira e arrumo a cozinha. Vou para a edícula e tomo um banho para dormir, mas o sono não vem. Já é tarde, a mansão está às escuras e Gustavo deve estar dormindo. Vou para a beira da piscina e sento-me ali olhando para o imenso nada à minha frente. Dessa vez, não levo nem o celular, nem os fones. Não quero música. Quero o silêncio da noite para contrastar com o barulho dos meus pensamentos descontrolados.

"Será que fiz a escolha certa? Amanhã precisarei pedir demissão da padaria, mas, será que devo continuar aqui? Será que vou aguentar mais esse clima de hostilidade?" - penso.

Sou retirada de meus pensamentos pela velha e conhecida sensação. Gustavo está aqui. Do nada, sinto que senta atrás de mim com as pernas abertas de modo que seu corpo envolva o meu. Estou tão cansada que apenas recosto minha cabeça em seu tórax. Ele me abraça. Ficamos assim sem dizer palavra nenhuma e eu adormeço.

Acordo sentindo um leve solavanco. Abro os olhos e percebo que estamos na edícula e ele me coloca na cama. Me assusto. Ele percebe, pois passa os dedos em minha testa e diz:

"Shiiiii....! Durma! Apenas durma."

Me sentindo segura, obedeço à sua ordem, viro para o lado e, depois que ele me cobre com um lençol, durmo.

Olha Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora