O ronco do motor V8 cessou assim que o Maverick, ano 1974, cinza com faixas pretas no capô e nas laterais, parou em sua vaga na garagem do edifício. O modelo personalizado chamava bastante a atenção em qualquer ocasião. O rádio Pionner foi desligado silenciando as dez músicas internacionais mais pedidas na semana. O jornal dobrado no banco do passageiro foi apanhado antes do veículo ser fechado. Uma visita às caixas de correspondências, garantiu o recolhimento das contas de água e luz, além de um comunicado sobre o reajuste na cobrança na assinatura de sua revista de Direito Administrativo.
Quando o elevador abriu suas portas, Heitor entrou em um espaço cercado por espelhos em quase todos os lados. Apertou o botão de seu andar e mirou seu reflexo. Gostou do que viu, estava perto de completar sua terceira década de vida. Olhos verdes escuros que contrastavam com seus cabelos castanhos claros, repicados e desfiados, que com um pouco de gel mantinham os fios espetadinhos. Bochecha rosada e boca carnuda bem definida que harmonizava muito bem em sua face. Não era um aficionado por academias, contudo mantinha uma rotina de exercícios que deixava seu corpo, com seus um metro e oitenta e dois, bem apresentável. Físico esse que se ajustava de forma impecável à sua camisa branca, com os dois botões superiores abertos e a calça social cinza que terminava em seus sapatos pretos de couro. A fragrância clássica e sofisticada que exalava o Eternity for Men, da Calvin Klein, se mostrava apropriada para qualquer ocasião. E por fim o relógio análogico clássico, com mostradores redondos, bem perceptível em seu pulso esquerdo, fechava seu visual vistoso.
Sorriu, mas ao mirar para seu pescoço teve um leve desagrado ao observar a gola de sua camisa suja de batom marrom.
— Não acredito, será que isso sai quando lavar?
Ao colocar a mão livre no bolso, sentiu um pedaço de plástico, tirou o objeto e se deparou com a embalagem de um preservativo rasgada. Imediatamente, sua mente retrocedeu para um momento que vivera horas atrás em um ritmo normal, mas que agora passava como um filme em alta rotação enquanto o elevador o encaminhava para seu destino.
As duas aberturas laterais continuavam a jorrar água. Uma quente e a outra fria, promovendo ao líquido uma temperatura aconchegante e uma altura de aproximadamente uns trinta centímetros que continuava a subir. No interior da banheira dois corpos eretos e nus, se comprimiam em abraços acalorados, as bocas se buscavam em beijos fervorosos, e as mãos percorriam as costas agressivamente. E se externamente desfrutavam de um ambiente ameno, interiormente eram consumidos por um fogo abrasador que incendiava-lhes as almas.
Uma mão mais ousada percorreria uma parte íntima, uma boca enérgica se desgrudava momentaneamente da outra e buscava um pescoço ou uma orelha desprotegida para logo em seguida voltar a se conectar com os lábios de sua companhia. As respirações ofegantes, ora em forma de suspiros, ora em forma de gemidos, explicitavam a tensão envolvida.
Ele pressionou um pouco seu corpo para frente, forçando-a a se afastar, ela obedeceu, e quando chegou na borda da banheira, dobrou os joelhos e sentou sobre a beirada. Suas mãos foram automaticamente para trás e se apoiaram no piso. Os olhos cheios de expectativas, admiravam sua companhia. Ele deu alguns passos curtos e se ajoelhou. Ela levantou as pernas e usou como apoio os ombros dele. A excitação estimulava-lhe os sentidos. Ele tomou-lhe as coxas, ampliou um pouco sua abertura e abaixou o rosto rumo aquela maravilha que se desabrochava diante de si.
Ela por sua vez aguardava ansiosa, só conseguia ver os cabelos dele, sua visão era privada de tudo mais. Não sabia quando o contato viria, só tinha consciência que estava prestes a acontecer, um frio percorreu seu estômago e quando sentiu o beijo dele em sua intimidade, não teve como resistir.
A sensação foi tão incontrolável que sua cabeça arqueou-se para trás, seus olhos se fecharam involuntariamente e os dedos de seus pés se contraíram.
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O Veredicto (O conto virou livro)
AléatoireAtendendo aos pedidos dos leitores, 'O Veredicto', que começou modestamente como um conto de 69 páginas (número sugestivo, não?), agora se transformou em um livro 'corpulento', com 569 páginas. Os 12 capítulos originais se multiplicaram em 48. Agrad...