Prefácio

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Narrado por Ben

Tudo é escuridão e um quase silêncio, e fico bastante desorientado enquanto dou alguns passos, devagar, à frente. Chove, eu sei que chove. Ouço barulhos de trovões, apesar de não conseguir enxergar a luz dos raios aqui, na escuridão que toma conta de tudo – e de mim. Sinto a chuva sobre mim, mas ela não me atinge, apenas ouço o barulho da água pingando em algum lugar; de alguma das muitas goteiras desses túneis. E ouço sussurros. Muitos sussurros, mas não sei o que me dizem. Não são pra mim, eu acho, mesmo tendo a perfeita noção que saber disso é algo que eu, definitivamente, não deveria saber.

Ouço o barulho dos meus pés quando eles passam por uma poça d'água, mas desconsidero isso e sigo em frente. É um corredor como muitos que tenho passado desde que tudo aconteceu, quero dizer, desde que Eric aconteceu, mas aqui, ao contrário de quando estou com Eric, sinto um sentimento estranho, como se eu não devesse estar aqui. Sinto uma sensação de vazio e de urgência, de que algo deve ser feito o mais rápido possível, mas um desespero que me machuca me atrapalha a enxergar com clareza exatamente o que deve acontecer, o que devo fazer, como devo agir.

Ainda no meio da escuridão, vejo uma luz fraca a alguns metros na minha frente e caminho na direção da luz, que balança na medida em que a brisa fraca assopra o fogo; é uma tocha. A pego e continuo andando pelo corredor que não parece ter fim e, agora, a cada passo, meu coração parece estar mais e mais acelerado. Tenho vontade de voltar, de sair daqui, mas parece que algo me faz mover para a frente, parece que sei que preciso continuar, mesmo querendo fazer o contrário.

Então, duas coisas acontecem repentinamente, e de uma só vez, me deixando ainda mais desnorteado. Ainda na escuridão, amenizada apenas pela tocha que eu seguro em uma das mãos, vejo, no final do corredor, a uma distância considerável de onde estou, a silhueta dele. Eu sei que é ele, e sinto certo alívio. A segunda coisa: sinto, na minha mão livre, o aparecimento de algo gelado entre meus dedos. Quando Eric se vira para me observar, olho para baixo e vejo minha mão segurando uma faca brilhante.

Olho para Eric.

— Benjamin? — Ele diz, olhando para a faca.

No instante seguinte eu avanço...

A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora