Capítulo 9 - A Maldição do Rei

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[Narrado por Eric]

Os preparativos para uma segunda coroação começaram logo após o fiasco da primeira tentativa. Em meio à correria de gente indo e vindo pelos jardins, pelos salões e corredores, em meio à preparação de mais um grande evento; em meio a tudo isso, luto para que as vozes em minha cabeça se silenciem, pelo menos por um pouco de tempo. Às vezes, dá certo. Às vezes até me esqueço que elas existem, mas, em outros momentos, elas são mais fortes que eu e de um minuto a outro me perco por pensamentos estranhos e por impulsos perversos e, em certos momentos, tento não pensar muito neles; quanto mais penso no que posso fazer quando estou perdido nesse embaralhamento de minha mente mais sinto medo de me transformar na sombra de um eu que poderia ter sido se não fosse a maldição que vai e vem em minha cabeça.

Quando penso nisso, sinto uma pontada na cabeça. Sombra, ouço. Sombra para sempre. E me desvencilho desse pensamento. Minhas mãos estão geladas e tremem. Vejo Ben se aproximando, mas... , a voz diz e saio. Não olho para trás. E isso faz meu coração doer.

— Vossa Alteza, estás bien?

Na minha fuga inconsciente, não percebo quando Julio se aproxima. Minha cabeça parece explodir.

— Sim — digo, e sinto até minha voz tremer.

Julio sorri. Ele veste um terno azul claro e seu cabelo loiro grande está preso em um coque.

— Eu provavelmente não deveria falar assim con usted, pero, sabias que és un terrível mentiroso? — As vozes se aquietam por um momento.

— Desculpe-me, minha... — paro por um instante.

— Cabeça anda cheia?

Algumas pessoas passam por nós pelo corredor. Espero que nos cumprimentem e se afastem para que eu afirme com a cabeça dolorida.

— Eric, se me permite... te conozco desde que eras un bebé extraño que gostava de subir e descer escadas, como se fossem o mejor brinquedo del mundo. Recuerdo daquele señor que siempre estaba con usted, pero no me recordó su nombre...

— Sebastian...

Ele sorri, como se as lembranças estivessem voltando à sua mente.

— Ele passava el día todo tentando prevenir algum ferimento mais grave que os ralados comuns de seus joelhos. Yo vinha muito para o palácio naqueles dias e meses e anos que sucederam a guerra e tudo lo que vi foi una criança feliz, sorridente...

Suspiro.

— Não sou mais essa criança sorridente há algum tempo.

E ele me olha com um olhar de amparo.

— Receio que isso seja verdade, pero isso não significa que usted não possa pegar um pouco daquela felicidad de outrora para te dar um pouquinho mas de força nesses tempos difíceis, garoto.

Não respondo nada, porque não sei o que responder. Sei que ele está certo, mas não sei o que fazer com essa informação. Na falta de uma resposta, ele sorri e me abraça por um instante.

— Pero isso não és fácil, mi niño, não vou mentir — ele diz, ainda me abraçando. — E lembre-se, usted no estás sozinho. — Ele se afasta. Seus olhos brilham, como sempre brilham — Te vi crescer feliz y quiero verte feliz como o rei que deve ser.

Sorrio em meio ao ardor nos olhos.

— Obrigado, Julio.

— Yo me importo con pocas personas nesse mundo, y usted eres una delas — Sorrio. — Na verdade, acho que não quiero que aconteça con usted o que aconteceu comigo.

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⏰ Última atualização: Jul 05 ⏰

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