Capítulo 2 - Traição

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Narrado por Ben

A casa onde minha avó, Lucas e Art moram agora é aconchegante e a pequena chama que queima ininterruptamente na lareira deixa o lugar ainda mais calmo e agradável, e sei que, como em todos os outros dias, o fogo que aquece esse pequeno paraíso no meio das Terras Altas está queimando, pois enquanto Eric e eu nos aproximamos da casa, vejo a fumaça branca subindo pela chaminé. Sinto, em alguns momentos, o olhar de Eric, do meu lado em seu cavalo, e ele espera por uma resposta sobre o que aconteceu ontem à noite; resposta que ainda não tenho e que, infelizmente, ficarei devendo para ele por enquanto. Mas admito que a sensação de não saber o que aconteceu e, pior, de não poder falar com ele sobre isso não é boa. Espero, apenas, que tudo isso não passe de sintomas dos surtos que tenho tido por estar ficando com um futuro rei.

Quando chegamos, Art corre de onde está e vai na direção de Eric antes mesmo de simplesmente olhar para mim (fui covardemente traído e trocado pelo príncipe) e ensaia uma solene saudação, enquanto Eric faz uns trejeitos exagerados de nobreza. O príncipe sorri para o garotinho traidor e desfaz toda a imagem de nobre que é, agachando, pegando Art no colo e o jogando de um lado para o outro, como pode, considerando o tamanho já considerável de Art. Enfim, tudo isso é uma falta de respeito total comigo.

— Como você está, meu pequeno príncipe? — Eric diz, ainda numa exagerada demonstração de afeto ao garoto que me trocou tão insensivelmente.

Art não consegue responder, pois está rindo demais para conseguir fazer alguma coisa ao invés de sorrir. Minha avó se aproxima de nós, e ela me encara de um jeito que conheço bastante. "Não tem nada de estranho", me preparo para responder para ela quando ela der a deixa, mas sei que tudo isso não vai adiantar, pois ela consegue fazer, com suas habilidades de avó, com que eu fale tudo sem nem ao menos ter a capacidade de tentar esconder as coisas.

— Certo, certo, acabou o grude, não é? — digo e os dois traidores olham para mim, ainda sorrindo como uns bobos.

Eric finge cochichar alguma coisa para Art, ainda nos seus braços. Faço a cara mais próxima de desaprovação que consigo fazer.

— Desculpe-me Art, depois a gente continua nossa conversa. — Eric fala, olhando de canto de olho para mim e dizendo "Desculpe-me" com o pronome no lugar certo como ele sempre faz — Tem alguém aqui com ciúmes...

Art entra no personagem e concorda. Eric desce o menino dos braços e cumprimenta minha avó, que também sorri para o príncipe, desfazendo completamente a cara de desconfiança com a qual estava olhando para mim. E nesse momento, Bruce relincha de uma forma que só eu sei o que está acontecendo. De longe, vejo Lucas chegando em seu cavalo. Ele apeia e, antes mesmo de olhar para mim, vai direto em Bruce.

Eric olha para mim e gargalha.

— Eu realmente tenho que me contentar em ser o menos amado daqui. — digo e Eric continua sorrindo e o maior problema é que não consigo fingir estar irritado por muito tempo, pois ver Eric sorrindo dessa forma, depois de conhecê-lo assustado e sério, é a melhor sensação do mundo.

— Isso é drama demais — Lucas diz, me dando um leve soco no ombro.

— Venha, Vossa Alteza, fiz uns biscoitinhos...

Eric se vira para a avó Maria.

— Desculpe-me, mas estou realmente com pressa hoje...

— São aqueles com açúcar — Art interrompe, sorrindo e esticando a mão para o príncipe.

— Mas que mal fará de eu comer um, não é? — completa Eric, pegando na mãozinha de Art e indo para dentro com ele. — Com licença — diz à minha avó, com sua irritante educação.

A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora