Capítulo 4 - Aproveite bem seu reinado, criança.

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[Anteriormente]

Joseph olha para mim e sinto algo estranho. Ele caminha na minha direção, junto com os homens que o seguem. Espero encontrar raiva em seu olhar, mas, pelo contrário, ele sorri.

— Aproveite seu reinado, Eric. — Ele diz e sai, me deixando de pé dentro da sala de reuniões tentando pensar no que isso que ele disse quer dizer.

[Narrado por Eric]

Meus passos ecoam junto com o som dos passos de Enrique e de Tamara. Nos últimos dias, temos estado mais grudados do que já estivemos antes e, desde a reunião, tenho tido ainda mais certeza sobre uma escolha que eu pretendia fazer desde que a ideia de reinado se instalou na minha mente. Ela sempre foi minha melhor amiga e a melhor de nossa turma em luta; ele sempre foi o racional do nosso grupo: e é isso que quero que sejam, a chefe da Guarda do Rei e o Conselheiro Real.

Eles estão juntos agora, embora já estivessem há algum tempo, e talvez eu tenha a noção de que minha decisão de escolher os dois como as pessoas mais próximas de mim durante o reinado também esteja levando em consideração a possibilidade de poderem, finalmente, estarem juntos. Aprendi, da melhor forma possível, que compartilhar algumas coisas com alguém é melhor que vivê-las sozinho; eles merecem ter essa possibilidade.

Então, desde a longa conversa que tive com minha mãe, quando realmente aceitei assumir o reino, os dois e eu temos andado de um lado para o outro no reino, resolvendo pendências que, de uma forma ou de outra, se referem a mim. E isso faz com que, no fim das contas, eu veja Ben menos que gostaria e, nas vezes que nos encontramos, mais rápido que o necessário.

— Nunca imaginei que minhas pernas poderiam doer tanto quanto estão doendo agora — Enrique comenta, enquanto caminhamos pelo corredor iluminado por tochas. — É bem provável que durante as duas últimas semanas a gente tenha percorrido todo o reino a pé.

— E isso é apenas o começo de tudo. — Tamara diz. E, de fato, as reuniões que tivemos durante esta última semana e os preparativos da cerimônia de Coroação são apenas uma amostra do que vem por aí.

— Já disse a vocês o que pretendo fazer, a equipe que pretendo formar com vocês dois. É bom se acostumarem — sorrio.

— Ainda temos chance de negar sua convocação, Sua Futura Majestade? — Tamara diz, fazendo uma reverência ridiculamente exagerada.

— Só se quiserem sofrer com a fúria do Rei.

— Bem, estou muito assustado com essa possibilidade — Enrique fala.

— Mas tenho que admitir que vocês dois foram ótimos na reunião com Joseph. — Tamara diz, depois de alguns segundos.

— Se eu levar em consideração que consegui me conter e não avançar em cima dele, realmente fiz um ótimo trabalho. — Enrique diz e sorri. Eu dou de ombros.

— E agora estamos aqui... — Digo, virando em uma das bifurcações do longo corredor de pedra.

Na nossa frente, surgem duas fileiras de guardas, uma de cada lado do corredor. Eles fazem reverência e avanço entre as fileiras, na direção do portão gradeado no final do corredor. Enrique e Tamara permanecem na ponta da fileira. No fundo da cela, uma Luna menos prepotente e, definitivamente, menos elegante do que quando a encontrei em Montero, me encara. Seus olhos já não brilham tanto quanto brilhavam quando tentou atacar minha mãe.

Ela não esboça nenhuma reação à minha chegada, então, peço que os dois primeiros guardas das filas abram a cela. Eles abrem-na. Aqui, com eles, sinto a pressão do silêncio sobre mim. Bloqueiam minha conexão com o céu e, apesar de ter passado grande parte da vida com medo do que eu era, sinto uma sensação ruim ao perceber que, aqui, sob influência dos dois bloqueadores que impedem Luna de colocar fogo em Aurora, algo me falta. Pergunto-me se ela também sente essa falta; se sentiu essa necessidade de queimar durante todos esses dias em que esteve aqui.

Entro na cela e a voz da rainha ecoa pelo lugar, arranhando as paredes de pedra.

— Desculpe-me, Vossa Alteza, por não recebê-lo como deveria. Sinto-me um pouco... sufocada, aqui.

— Pensei que sim — respondo. Ela balança a cabeça de uma forma aparentemente dolorosa.

— Desculpe-me. Também estou um pouco tonta.

— Bem, garanto à senhora que logo estará vendo a imensidão do céu sobre sua cabeça.

Se ela percebeu a provocação velada, não sei. Só sei que finge um sorriso e diz:

— Assim espero.

— Enfim, considerando que Sua Majestade não estava exercendo seus poderes legais como a rainha de Victoria, seu reino, por meio de representantes, e eu chegamos a um acordo, já assinado e selado pelo seu filho, segundo o qual decidimos liberá-la, mediante algumas determinações que fizemos, as quais, penso eu, Sua Majestade tomará conhecimento em breve.

A rainha dá um passo para a frente e esboça um sorriso cínico.

— Como as coisas estão?

— Melhores.

Ela passa por mim.

— Assim espero.

Respiro fundo e tento não parecer tão aturdido quanto de fato estou.

— Meus guardas lhe escoltarão até Montero, onde uma comitiva de seu reino estará lhe esperando. Espero que sua impulsividade compartilhada com seu filho seja melhor controlada.

Ela olha para mim.

— Agradeço. — E então ela continua, baixo, como se quisesse que apenas eu ouvisse. — Aproveite seu reinado, criança. — Meu corpo arrepia, lembrando das mesmas palavras ditas por Joseph na reunião.

— O que você quis dizer?

Ela sorri, um sorriso sério.

— São muitas responsabilidades e desafios.

— Estou ciente disso.

— E sua cabeça sempre está por aí sendo alvo de alguém. — Não respondo, por parte porque não sei o que dizer, mas coloco na minha cabeça que a falta de palavras é uma forma de não entrar no jogo da rainha. Ela se aproxima de mim ainda mais. — Manter-me aqui, presa como um rato, talvez não tenha sido a melhor escolha que vossa alteza tenha feito, mas espero que as próximas sejam mais acertadas.

Olho em seus olhos e espero que meu olhar esteja tão incisivo quanto o seu.

— E espero que não precisemos chegar a tanto novamente. — Digo, querendo ter forças o suficiente para não parecer como um cão acuado, mas tudo acontece tão rápido que me desestabilizo por completo.

A rainha se afasta, fingindo sorrir, e sai da cela. Sigo-a, junto de Tamara e Enrique, sabendo que as coisas não se resolverão tão facilmente como poderiam se resolver. A Rainha e Joseph poderiam simplesmente aceitar o acordo que fizemos, mas a situação é mais complicada que isso: esse não é um problema diplomático como parece ser. É um problema pessoal.

***

É isso, galera. Os problemas entre Aurora e Victoria nunca foram diplomáticos. Agora, sabendo disso, o que fazer? rsrsrs

Caso estejam gostando, não se esqueçam de dar a estrelinha :) E só pensando na possibilidade (por enquanto), o que vocês achariam de reler A Canção do Rei com um livro FÍSICO e bonitoo??? (enfim, to pensando pensamentos sobre isso ksksksksk espero o apoio de vcs)

A Profecia do Plebeu - Livro 2 - A Canção do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora