Sobre as Nossas Mentiras e Vitórias - Livro 1 da Série Elite Fight

Capítulo 10

Capítulo 10

Ava Lincoln

Lucas, desde sempre, era uma bomba relógio prestes a explodir e ferrar com tudo ao seu redor.

Soube disso lá no primeiro campeonato de lutas que ele perdeu o direito de participar por ter sido pego em uma briga na saída da escola; ou quando foi denunciado por participar de lutas clandestinas; sem falar do extinto Fight Gladiators, que anos atrás era um dos principais eventos do MMA nos EUA, Gualtieri foi convidado para a luta principal e teve a brilhante ideia de, semanas antes, sair com a filha do dono. O idiota aparentemente só queria sexo e a garota foi reclamar com o papai. Pronto, em um estalar de dedos ele foi desconvidado.

A cada derrota que ele sofria fora do octógono, meu pai ficava arrasado.

Mas não tanto quanto hoje.

A minha fé em Lucas era no nível de não imaginar que um dia ele amadureceria o suficiente para conseguir sustentar um contrato com o UFC. Bem, ele conquistou o vínculo, era um campeão e queridinho do Dana White, mas lá estava ele ferrando com tudo novamente.

Eu detestava ver meu pai chateado. E tinha motivos de sobra para odiar aquele lutador idiota.

A Elite parecia estar de luto, estranhamente ele era muito amado na academia e todo mundo sabia que aquela bomba com a qual amanhecemos poderia fazer um estrago ainda maior do que já estava conseguindo.

Tamborilei os nós dos dedos no tampo da minha mesa, havia tentado trabalhar, mas não conseguia me concentrar. Queria conversar com papai, ver como estava, mas ele havia entrado em reunião com Lucas e sua equipe que mais pareciam bombeiros, pois os coitados eram pagos para diariamente apagar incêndios.

Dei uma volta pela academia, até ser chamada por Kely, que era a responsável pelo nosso marketing.

— Não me diga que tem notícias ruins. — Ela ocupava uma sala ao lado da minha e trabalhava com um estagiário, que havia saído para nos dar privacidade.

— Boas que não são... — A mulher me estendeu seu tablete. — Veja, fiz um pequeno compilado. — Passei atenta pelas notícias sobre o caso do Gualtieri, meu sangue fervia a cada vez que o nome da academia do meu pai era mencionado de forma negativa.

Soltei um suspiro e devolvi-lhe o aparelho, nada do que Lucas já aprontou tinha sido tão ruim quanto dessa vez. O que explicava que hoje até uma representante do UFC veio pessoalmente acabar com a raça dele.

— Ele vai ter que se pronunciar. Não sei qual estratégia pretende seguir, mas o silêncio não é uma opção — pontuei.

— Não é mesmo — Kely concordou. — Bom, posso conversar com a equipe dele, já tenho algumas ideias e neste caso o nome da Elite está envolvido.

E, se envolvia a imagem da academia, nossa funcionária precisava agir.

— Certo, sugiro olhar primeiro com o Thomas... — Ele sempre era o mais sensato e um dos poucos que conseguia controlar Lucas.

As reuniões perduraram por todo o dia e a notícia não parava de pipocar na mídia. Papai conversou rapidamente comigo, pediu para que não me metesse e garantiu que tudo ficaria bem.

Já era quase seis da tarde, o clima na academia ainda era fúnebre, fui até a cozinha pegar um lanche que havia trazido de casa, quando o vi sozinho. Lucas socava um saco de pancadas com tanta força que, por um momento, temi que se lesionasse.

Mesmo que o cara fosse um lutador profissional e completamente acostumado com socos e chutes, não me lembro de vê-lo tão transtornado.

Sem planejar, estava paralisada, observando-o. O ódio escorria pelo seu rosto misturado ao suor, em um determinado momento, ele parou e apoiou as mãos sobre as coxas, inclinando um pouco o corpo para frente. Tentei me forçar a correr dali, não queria ser surpreendida, mas não consegui.