PARA ONDE IR?

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A investigadora Cassandra acompanhou Marínia até o hospital, cumprindo com as obrigações referentes aos seus papéis de mulher da lei e boa vizinha. Fez também a orientação sobre o processo burocrático e pediu o contato de Vigílio, para avisar sobre a mãe e o triste ocorrido. Descobriu que o filho da senhora ainda estava em casa quando precisou bater no portão porque ele não tinha atendido o telefone.

— Não é possível que você não ouviu o grito, Vigílio. Não tem base. — Cassandra murmurou para o portão de aço enquanto batia com mais força, quase o derrubando porque não tinha campainha. Naquela altura a vizinhança toda já tinha ouvido as batidas.

O animal já fora retirado da calçada e o sol começava a arder na pele. Um cheiro acre passou a entrar nas narinas de Cassandra porque o sangue seco ainda estava no passeio, como um lembrete macabro que refrescava a memória da mulher toda vez que ela passava o olhar por ele.

Vigílio abriu o portão, finalmente, vestindo apenas uma bermuda de tecido fino. Tinha o rosto inchado, com olhos semicerrados e expressão irritada. Quando viu quem o chamava, sua expressão mudou para dúvida.

— Bom dia, Vigílio. Trago notícias desagradáveis. — A mulher anunciou já com um objetivo.

Fubá estava dentro de casa na madrugada, quando os outros dois moradores estavam com ele. Ela tinha visto com os próprios olhos a última entrada do animal. O único jeito de o cachorro sair seria se alguém abrisse o portão. Dificilmente a própria dona o deixaria vazar outra vez sem que houvesse necessidade, sendo que tinha a paciência de esperar ele correr até a esquina e voltar toda vez. Restava apenas uma opção.

— Sim, vizinha... — O homem falou sem muita disposição.

Cassandra tirou o moletom preto que tinha vestido mais cedo, deixando seu uniforme à mostra.

— Fubá amanheceu morto e a sua mãe está no hospital. Eu sei que você tem alguma relação com a morte de Fubá, então colabore e será melhor para todos nós. — Cassandra falou as palavras com calma e clareza, para que Vigílio absorvesse. — Por favor.

— Eu conheço os meus direitos! E a minha presunção de inocência?! Você não tem como provar que eu matei ele! — A reação do vizinho foi explosiva, raivosa, enquanto ele apontava o dedo indicador para o rosto da investigadora, cuspindo as palavras com afobação. — Só pode estar louca! Eu vou te processar por danos morais, calúnia, difamação!

— Eu nunca disse que você matou o cachorro, Vigílio... Eu disse que você tem alguma relação com a morte dele. — A mulher ergueu uma sobrancelha mantendo seu olhar fixo no dele, os braços cruzados na frente do peito e o corpo imóvel..

Vigílio murchou, dando conta de que tinha se denunciado.

— Eu só deixei ele sair de madrugada, quando recebi a minha namorada. A minha mãe não gosta dela e o Fubá não parava de latir, mas eu não matei ele. — Confessou enquanto olhava para a calçada manchada. Não parecia arrependido ou abalado, porém a culpa exalava em seu tom de voz, rouco e falho. Ao menos parecia que ele desejava transmitir o sentimento de culpa.

— Entendo. — Cassandra tirou os óculos escuros do bolso do moletom e os colocou no rosto. — Vamos colher o seu depoimento, pois vai nos ajudar nesse caso. Sua mãe está no Centro Médico. Colabore conosco para que a gente possa fechar esse caso da melhor maneira possível. É uma resposta que a sua mãe precisa ter de algum jeito e eu não devo me furtar da justiça.

Vigílio anuiu com a cabeça.

A mulher entrou na própria casa e guardou o moletom enquanto esperava o vizinho vestir uma roupa adequada e pegar os documentos. Quando saiu da casa viu que Vigílio estava tirando a moto da garagem. Analisou as casas nos arredores e viu que somente uma tinha câmera. Talvez conseguisse a colaboração da proprietária. No geral, as pessoas costumam ser amistosas com as autoridades, pois elas genuinamente desejam ajudar a solucionar os problemas da sociedade. Cassandra sabia disso, por esse motivo sempre tentava as vias simples em primeiro lugar.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora