Ventitre

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Edith andava de um lado para o outro segurando um pequeno envelope branco, o barulho dos seus saltos no chão de mármore ecoava pela enorme casa. Robin observava a cena enquanto mordia uma torrada – quase – queimada, a mesa do café estava bem servida como sempre, mas ela era a única sentada a mesa, Edith não havia dito uma palavra a manhã toda.

A mais velha finalmente se sentou, cedendo a dor nos calcanhares por pisar tão forte, mas suas unhas roubaram a cena assim que ela começou a batê-las na mesa.

— Céus, Edith! — Robin finalmente falou sentindo sua cabeça começar a doer — O que houve?

Os olhos de Edith estavam vermelhos, o cabelo sempre tão bem alinhado estava bagunçado e escondido em um chapéu grande e extravagante, não havia maquiagem em seu rosto e Robin finalmente viu que os anos de estresse também afetavam a empresária.

Ela estalou os lábios e pinçou o canto dos olhos, respirando fundo — Nada. — Disse simples.

— Nada? Eu nunca te vi assim antes. — Murmurou limpando os dedos das migalhas da torrada — Você está um caco, se eu não te conhecesse tão bem diria até que está de... Ressaca.

Edith reagiu como se tivesse ouvido a maior barbaridade saindo dos lábios da garota, colocou a mão no peito e a olhou de cima a baixo com horror no olhar.

— Não me confunda com você, Roberta! — Gritou batendo a palma de sua mão na mesa — Eu não sou nenhuma irresponsável para aparecer de ressaca em uma quarta-feira. Ressaca... Onde já se viu? — Resmungou se levantando e alinhando a saia.

— Então você só acordou com o pé esquerdo hoje? Oh, o que houve pobre Edith? Teve pesadelos? — Robin falou segurando o riso, tentando esconder seu sorriso com um guardanapo.

Na verdade Edith havia passado a noite acordada discutindo com Damiano.

O roqueiro decidiu que a mais velha não poderia mais se intrometer na música que lançaria com Roberta, o que resultou em horas agoniantes de discussão – onde Damiano começava a discutir em italiano e Edith o pressionava ameaçando contar tudo à Robin.

Edith sentia sua autoridade indo embora na medida em que o italiano se aproximava mais de Robin, sentia as coisas fora de seu controle e aquilo não a agradava nem um pouco. Ao menos com Roberta, ela sabia exatamente o que usar para conseguir o que quisesse da garota – mais calmantes? Ameaçar a colocar na reabilitação novamente? Mas agora... Nada mais era forte o suficiente, principalmente quando se tratava de Damiano. O que ela poderia usar para o ter em rédeas também?

Ela pensou em apelar e tentar arrancar algo de Tiago, mas ela via o olhar dócil e inofensivo do empresário e sabia que não conseguiria nada ali.

E como se já não fosse o suficiente... Sim, ela havia tido pesadelos. Pesadelos realistas que mais pareciam memorias escondidas e trancafiadas no fundo do consciente de Edith, memorias com Marcus no dia de seu casamento e logo após com o dia que ele as abandonou. Memorias com Robin agonizando na reabilitação e em como ela havia simplesmente deixado de ser mãe, mesmo ainda tendo uma filha.

— Assuntos burocráticos, Roberta. — Murmurou inclinando o bule de água fervendo em sua xícara — Você não entenderia.

E com isso, o resto da manhã se prolongou em um enorme silencio e olhares vazios.

Robin se apressou para o quarto assim que Edith se despediu, estava desesperada por um banho e para encontrar o namorado.



Damiano se revirava na cama, o cinzeiro já transbordava e os lençóis estavam completamente bagunçados, entregando sua falta de sono durante a noite. A culpa o consumia, as exigências de Edith e o medo de que ela se cansaria e não iria pensar duas vezes antes de o entregar para Robin da forma mais cruel possível.

UNÍSSONO  ↳ Damiano David ↰Onde histórias criam vida. Descubra agora