What You're Thinking Of ? [You've Seen Me Bare] (tradução)

capítulo 2

Não há nada que Kocho Shinobu odiasse mais do que problemas insolúveis.

O tipo de problema que, não importa quais soluções fossem tentadas, permanecia tão enigmático e misterioso como no primeiro dia.

Tomioka Giyuu, o Hashira da Água, era exatamente esse tipo de problema.

A questão com Tomioka é que inicialmente ele nem era um problema dela. Não, originalmente ele era apenas um problema "passageiro", um dos pacientes de sua irmã que voluntariamente comparecia para suas consultas a cada vez que retornava de uma missão, como uma máquina bem ajustada. Naquela época, ela não pensava muito nele: ele era apenas aquele Beta estranho, sombrio e silencioso que às vezes encontrava nos corredores.

Mas Kanae... Bem, Kanae estava estranhamente envolvida com esse cara. Não de forma romântica - felizmente - mas com um interesse feito de curiosidade, misturado com preocupação e talvez até um pouco de irritação. O que, conhecendo Kanae, era raro o suficiente para ser notado. Talvez seja por isso que Shinobu começou a desgostar de Tomioka desde o início, por causa das dores de cabeça que ele dava a Kanae e da expressão de frustração que ela sempre tinha quando ele saía do prédio.

Mas então, Kanae morreu e Shinobu teve que assumir o seu lugar, à frente da Mansão Borboleta, bem como entre os Hashiras. Tomioka o acompanhou silenciosamente de volta à Mansão Borboleta após sua reunião introdutória, e a única razão pela qual Shinobu não pôde mandá-lo embora para continuar lamentando Kanae foi que ele estava ferido e precisava de tratamento.

Pela primeira vez, ela teve que pegar o prontuário médico de Tomioka, que estava trancado em um armário ao qual nunca teve acesso, com Kanae guardando a única chave ferozmente. A mesma chave que ela havia lhe legado, juntamente com seu haori, antes de expirar.

E quando ela começou a ler, tudo começou a perder qualquer semelhança com a lógica.

Porque Tomioka Giyuu não era um Beta, não.

"Você é um Ômega", ela se pegou balbuciando, completamente atônita, os olhos pregados em seu prontuário. Como se olhar para as palavras escritas na delicada caligrafia de Kanae pudesse milagrosamente transformá-las em algo mais lógico do que esse completo absurdo.

Shinobu era uma das coisas mais próximas de uma médica totalmente treinada entre os principais líderes do Corpo de Matadores de Demônios, apesar de sua pouca idade. Além de desenvolver poderosos venenos para destruir demônios, ela se interessou pela medicina, seguindo os passos de Kanae. Durante seu aprendizado, estudará dinâmicas secundárias para ser o mais eficiente possível no tratamento de seus pacientes.

Os clichês que circulavam entre os civis sobre os instintos comportamentais das dinâmicas secundárias tinham, afinal, raízes biológicas inconfundíveis.

Os Alfas eram potências, centrados na pura força muscular e nos instintos mais primitivos de agressão e territorialidade. Constantemente elevados em adrenalina, eram muito resistentes à dor, mas suas personalidades e instintos sofriam muito, necessitando de um controle sólido para não se tornarem Furiosos ou Feral por causa dos menores aborrecimentos.

Os Betas eram honestamente os mais fáceis de lidar. Seus instintos eram menos proeminentes do que os das outras dinâmicas e seus sentidos, em particular o olfato, eram atenuados, o que de fato reduzia suas reações instintivas aos feromônios Alfa e Ômega. Por essa razão, eram conhecidos como mediadores e pacificadores.

Os Ômegas eram mais emocionais, isso era um fato. Mais empáticos, mais propensos a mudanças de humor. Delicados, diriam os mais tolos. Os Ômegas eram sociais por natureza, e se os Alfas lideravam as alcateias, os Ômegas as criavam. Onde os Alfas tinham a força, os Ômegas tinham a agilidade e a velocidade, mais feitos para esquivar do que para o ataque frontal. Mas não para a fuga, oh não. Porque em tempos de perigo, os níveis de adrenalina de um Ômega poderiam atingir até três vezes o nível médio de um Alfa.