Capítulo 2 - Onde Estou?

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Comecei a abrir meus olhos, mas como ainda estava meio tonta, esse simples movimento se tornou quase impossível. Quando finalmente consegui abri-los notei que não estava no cais nem em nenhum outro lugar daquela praia. Poderia não me lembrar muito da noite anterior, mas tinha certeza de que o local onde me encontrava nesse exato momento não era o mesmo de ontem. Para começar, parecia que eu estava em Nova Iorque, o que é estranho porque até antes de desmaiar eu estava do outro lado do país e, mesmo que aqui fosse Nova Iorque, estava... Diferente. Todos os edifícios, assim como as calçadas, eram brancos com cinza para dar um certo contraste, e não havia carros nem pessoas na rua. Era simplesmente uma cidade clara e vazia, fato que me deixou assustada. Notei então que minhas roupa também estavam diferentes, estava com uma calça branca, um blaser branco com ombreiras retangulares e um salto cinza. Poderia ser um simples sonho, assim como poderia ser algo completamente inesperado. Muitas pessoas me consideram cética, mas eu simplesmente não acredito em coisas óbvias e ridículas, acredito nas coisas mais temidas pelas pessoas, as quais elas evitam falar, acredito no novo e inesperado. Então, quem sabe o que poderia estar acontecendo?
Percebi que desde que havia despertado eu estava sentada na calçada com minhas costas apoiadas em um prédio, este poderia ser o motivo de minha incrível dor muscular que, até então, tinha uma origem misteriosa. Estava observando a cidade, ainda sentada no duro chão de concreto quando notei duas senhoras dentro de uma loja do outro lado da rua. Uma delas tinha cabelo branco como a neve e usava roupas engraçadas que me faziam lembrar as senhoras de filme de época europeu, a outra era um pouco mais alta e tinha um cabelo não tão branco, logo supus que deveria ser mais nova. Ambas estavam batendo no vidro da vitrine da loja; que até então não sabia do que era já que tinha seu nome tampado, assim como todos os outros estabelecimentos que não eram prédios naquela rua; e gritando algo que não pude ouvir, mas sabia que estavam tentando se comunicar comigo já que mantinham contato visual. A senhora que aparentava ser mais velha fez um sinal com a mão, sinalizando que era para eu entrar na loja e, pelo que pude notar, rapidamente.
Fui até a loja e quando entrei percebi que se tratava de uma livraria. As duas senhoras me olhavam com cara de alívio, o que me deixou confusa.
- Menina! O que você estava fazendo lá fora? - disse a que eu suspeitava ser a mais jovem.
- O que houve? Onde estou? - decidi tirar satisfações.
- Pobrezinha... Deves ter alcançado o esquecimento quando soltaram a bomba... - disse a senhora mais velha. Ótimo, além de roupa estranha ela também falava de uma maneira formal. - A senhorita está em East- GateNY.
- Bomba!? Hm... Que lugar é esse? - perguntei, ficando ainda mais confusa com a informação dada pela senhora.
- Mellie, parece que ela realmente não se lembra de nada. - a mais nova disse.
- Verdade, Sallie. Bem, querida, os revoltosos soltaram uma bomba e logo o superior ordenou um toque de recolher. Quando a avistamos ali na calçada, inconsciente, nos preocupamos, mas não podíamos sair. Então, esperamos você acordar e te chamamos para entrar. - informou Mellie.
Revoltosos? Superior? East-GateNY? Não estava entendendo completamente nada. Afinal, que lugar era aquele? Estava ocorrendo uma guerra? Se sim, como não vi ninguém nas ruas? Nem sequer um vestígio de bomba? A cidade parecia perfeitamente intacta para um local em combate. Mais e mais dúvidas surgiam na minha cabeça, mas pude notar preocupação no olhar das senhoras.
- A... A senhorita é de fora, não é!? C-como? - Sallie perguntou, indignada. Pude notar que Mellie estava andando lentamente até o balcão, não sabia o que ela estava prestes a fazer, mas tinha certeza que não resultaria em algo bom, não para mim. Decidi inventar alguma história convincente para me livrar logo daquilo.
- De fora? Claro que não! Mas que pergunta! Eu realmente devo ter batido minha cabeça quando lançaram a bomba, mas aos poucos estou me lembrando de tudo. Não se preocupe.- falei e percebi que Mellie tinha começado a voltar para onde estava antes. Suspirei, aliviada. Não sabia o que estava acontecendo, mas tentaria esclarecer minhas dúvidas mais tarde.
De repente ouvi uma voz grossa e masculina dizer que todos poderiam voltar à suas atividades normais. De onde vinha essa voz?
- Obrigada, superior. - Mellie e Sallie disseram em uníssono e me olharam com cara de espanto. Acho que deveria tê-lo respondido.
- Obrigada, superior. - disse, rapidamente. As duas me olharam com desprezo e logo decidiram voltar para seu negócio, já que possuíam "autorização" de algum ser superior que se denominava Superior. Tenho que afirmar que essa pessoa ou ser ou seja lá o que for é bem confiante e tem um grande ego. Ri com meu pensamento.
Mellie foi para o caixa e Sallie foi tirar a faixa branca que cobria o letreiro da livraria. Decidi sair de lá e dar uma olhada em East-GateNY, agora com suas ruas cheias de carros e pedestres. Era tudo tão colorido naquela cidade, quando estava cheia, claro, se não era apenas um lugar branco e cinza como havia visto antes. Haviam carros de todas as cores e as pessoas se vestiam das formas mais diferentes possíveis, principalmente os jovens, os quais usavam roupas que se baseavam em figuras geométricas. As meninas, em sua maioria, com saias triangulares, blusas com estampas de figuras geométricas e saltos de "bico" quadrado; e os meninos, na maior parte, com calças cinzas, blusas coloridas com figuras geométricas em suas estampas e sapatos quadrados, me perguntava se seria doloroso andar com aqueles sapatos. Os carros, além de bem coloridos, eram achatados e tinham suas "bordas" mais circulares, causando a impressão de um retângulo com quinas esféricas. Além disso, não possuíam pneus, eles flutuavam, e parecia que eram os únicos meios de transporte além de bicicletas, as quais eram comuns, porém todas brancas. Essa era uma das coisas que me deixava confusa naquela cidade, que aparentava ser bem moderna e com tecnologia futurística, o porquê da predominância de branco e cinza. Além disso, notei que de todas as cores nas roupas, carros, lojas e qualquer outro objeto que tivesse cor, não havia preto nem vermelho em nenhum lugar.
Desconhecia o motivo, mas tinha certeza que havia algo naquela cidade. Provavelmente entenderia melhor se soubesse o que é essa cidade, o que está havendo nela, quem são os revoltosos e de onde saiu aquela bomba. As pessoas de lá andavam com o nariz empinado e olhavam com desprezo para as outras pessoas, mas tirando isso, elas aparentavam ser simpáticas. Não sabia quanto tempo ficaria em East-GateNY, porém decidi tirar todas as minhas dúvidas, queria entender melhor esse lugar, mas antes, precisaria achar alguém confiável. Era só questão de tempo e paciência, mas, eventualmente, descobriria os segredos daquele lugar.

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