Capítulo 4 - Anfitriões

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Após minha conversa não muito esclarecedora, decidi continuar andando pela cidade para ver se descobria algo mais sobre a tal, já que o maravilhoso Destino não tinha me falado mais nada. Se houvesse a necessidade, andaria por todas as ruas daquele local só para entendê-lo melhor e poder descobrir coisas não explicadas por aquele misterioso homem mágico intitulado Destino. A sorte era que os dias aparentavam ser longos, o que me daria mais tempo para conhecer a cidade e procurar um lugar para ficar, o problema era que ainda não havia visto nenhum hotel ou pousada por aqui. Por enquanto, tudo que havia visto eram os prédios idênticos, as lojas com suas estruturas externas iguais, as roupas diferentes das quais estava acostumada e os carros futurísticos. Algo que pude perceber depois de caminhar por oito quarteirões era que todos possuíam a mesma quantidade de edifícios e lojas, os quais estavam distribuídos igualmente. Também notei que nenhum apresentava casas, além do estranho fato de ter um hospital a cada quatro quarteirões e uma igreja a cada três, sendo todos esses idênticos.
Foi então na esquina do nono quarteirão; que cruzava com a vazia Rua Values; de minha caminhada, que notei a existência de um estabelecimento que aparentava ser uma loja, mas tinham grandes papéis brancos que cobriam seus vidros, o que impedia a visão de seu interior. Avistei uma porta e dicidi abri-la para ver o que havia neste local misterioso, que diferia dos que havia visto anteriormente. Já havia me dado conta de que as pessoas de East-GateNY confiavam umas nas outras, então elas não utilizavam métodos de segurança, nem sequer os mais simples, como chaves e trancas, então simplesmente entrei no local. Assim que adentrei na loja alguém tampou meus olhos e colocou algo em meu nariz, logo senti um forte cheiro de álcool queimando minhas narinas. Comecei a me debater contra essa pessoa, que estava atrás de mim, porém meu inimigo era forte demais e acabou me segurando de maneira que impedisse meus movimentos. Minhas pernas e meus braços começaram a enfraquecer e, então, fiquei sem forças para sequer tentar lutar. De repente, minha cabeça pendeu para o lado e desmaiei.
Quando despertei estava com meus olhos vendados, mas pude sentir que meus braços e minhas pernas estavam amarrados a uma grande cadeira de madeira. Aparentemente, quem quer que estivesse nesse estabelecimento não tinha a mesma confiança que os outros cidadãos. Eles mantinham sua porta destrancada mas batiam em quem entrasse? Muito espertos. Com certeza seria mais fácil trancar a porta mas, na verdade, nem sabia se sequer existiam portas com trancas e fechaduras nessa cidade. Decidi prestar atenção para saber se havia alguém naquele lugar e logo ouvi pessoas falando.
- Não acredito que você perdeu ela de vista, Greg! Qual o seu problema? - disse uma voz feminina.
- Desculpe, Amber. Ela ia notar que eu a estava seguindo se que ficasse muito próximo, então me distanciei. Mas aí acabou que me distrai em uma rua movimentada na qual passamos e então não a encontrei mais. Decidi voltar para cá e quando cheguei na rua, a vi entrando aqui.- disse um menino que supus ser o tal Greg.
- Ei, já foi feito, então não vamos gritar com ele. Afinal, nós já estávamos pensando em trazê-la para o nosso esconderijo mesmo. Você sabe, ela pode nos ajudar bastante. Se soubéssemos que ela era, o Tony não teria precisado apagá-la, enfim, eu acho que ela já deve estar prestes a acordar.
- Exato! E é tudo culpa desse inútil incompetente que não sabe nem vigiar uma menina! - disse a menina que suspeitava ser Amber.
- Basta! Vamos tirar essa venda dela. - disse o único menino o qual ainda não tinha escutado o nome, que parecia ser o único racional, não estressado, não violento e não disperso de lá.
Ouvi passos em minha direção e decidi fechar meus olhos e fingir que ainda estava desmaiada, ou apagada, ou drogada, ou seja lá o que aquele álcool tenha feito em mim. Senti a venda sendo retirada de meu rosto e alguém bufando na minha frente.
- Que ótimo... Ô MENINA ACORDA! - ouvi a menina estressada gritando.
- Calma, Amber. - disse o menino não identificado.
Fui abrindo meus olhos lentamente e avistei quatro pessoas na sala, porém apenas três delas pareceram se importar com meu despertar.
- Oi. Hm... Desculpe por isso. Nós realmente sentimos muito e - um menino alto, de olhos castanhos, cabelos castanhos e cacheados, usando uma calça cinza normal e uma blusa azul disse, mas foi interrompido.
- Nós!? Esse idiota que deveria se desculpar! - disse uma menina ruiva com cabelos cacheados e não muito alta, que usava um vestido laranja cor de terra.
- Nós já falamos sobre isso! Me desculpe por ela... Eu sou o Jack. - disse o menino que havia sido interrompido. - A nervosinha ali é minha irmã, Amber, e o que está sendo guilhotinado por ela é o Greg - ele disse e um menino japonês alto vestido igual a Jack, mas com uma blusa verde, deu um sorriso tímido - e ele é o Tony - ele apontou para um homem alto e forte com o cabelo raspado, que estava vestindo uma blusa e uma calça cinza e que se encontrava posicionado em pé ao lado da porta, tinha quase certeza que havia tido minha mini luta contra ele.
- Deixe-me soltar você dessa cadeira - disse Greg.
- É o mínimo que você pode-
- AMBER, PARA! JÁ PASSOU! - Jack rapidamente interrompeu sua irmã.
Assim que Greg me soltou da cadeira decidi fazer algumas perguntas básicas.
- Hm... O que está acontecendo aqui..?
- O Greg estava perseguindo você, mas acabou que ele te perdeu de vista e nos ligou informando, então nós falamos para ele voltar para cá que depois nós tentaríamos te encontrar novamente. Mas acabou que você achou o nosso esconderijo, o nosso Q.G., antes que ele pudesse chegar aqui. Como não sabíamos que era você entrando, o Tony ali te apagou, pensando que você fosse alguma pessoa curiosa nos invadindo, o que você não deixa de ser. Enfim, o Greg chegou aqui e assim que ele te viu na cadeira ele te reconheceu, então nós esperamos você acordar para esclarecer algumas coisas. E agora... Você acordou! - Jack me respondeu, o que me deixou mais confusa. Que pessoas eram aquelas? Todo mundo dessa cidade só sabia responder uma pergunta criando mais dúvidas? Que ódio! Quanto mistério!
- Porque eu estava sendo seguida?
- Bom... - os três se olharam e logo Amber fez que sim com a cabeça.
- Porque o Greg te viu na rua hoje mais cedo e percebeu que você olhava para tudo com uma cara de confusa e maravilhada, como se fosse a primeira vez que estivesse presenciando tudo isso. Então, ele nos ligou e nos contou sobre você e nós falamos para ele te seguir porque estávamos curiosos para saber se... - Jack estava falando e fez uma pausa para olhar para os outros.
- Se...?
- SE VOCÊ VEIO DE FORA! - Amber disse e todos olharam para ela com um olhar raivoso. Devo ter ficado com um grande ponto de interrogação em meu rosto. Cada vez mais eu deixava de entender esse lugar. Porque todo esse nervosismo sobre eu ter vindo de fora ou não? Pude notar essa mesma dúvida naquelas duas senhoras, mas havia uma diferença básica: elas pareciam preocupadas e indignadas, enquanto esses três pareciam curiosos e animados. Provavelmente fiquei um bom tempo em silêncio porque logo Amber começou a falar.
- Vou levar esse silêncio como um "sim"! - ela disse num tom estressado e animado ao mesmo tempo. - Como você entrou aqui?
- Eu... Eu... - estava tão nervosa que não sabia o que responder, tudo aquilo era novo demais para mim e ainda estava um pouco lerda pelo ataque que havia sofrido anteriormente.
- Amber, deixa ela descansar. Vamos dar a ela um pouco de espaço, ela deve estar precisando dormir um pouco, ela parece cansada. Você deve estar um pouco confusa no momento, não é... Desculpa, qual o seu nome? - Jack perguntou.
- Mackenzie, Mackenzie Riley.
- Podemos te chamar de Mack? - Greg perguntou um pouco inseguro.
- Apenas meus amigos e parentes me chamam assim. - respondi secamente. Não gostava da ideia de completos estranhos se aproximarem de mim de uma hora para a outra. Nunca havia gostado disso, achava interesseiro e falso. Além disso, como conseguiria deixar que justo ESSES estranhos, que haviam me perseguido e agredido, se aproximassem de mim rapidamente?
- Bom, Mackenzie, como eu estava dizendo, você deve estar querendo descansar. Você pode não ter notado, mas não há nenhum hotel na cidade. Então, se você quiser, pode ficar aqui com a gente. - Jack disse, dando ênfase no meu nome. Deveria perguntá-lo depois o porquê da ausência de hospedagens.
- Eu não sei... - disse enquanto pensava se seria uma boa ideia.
- Ou, você pode se arriscar e dormir nas ruas ou simplesmente pedir para alguém lhe dar abrigo. Se você optar por isso, boa sorte, quero ver como vai terminar. Vão saber que você não tem casa, o que vai deixar bem claro que você não é daqui. Vai ser bem divertido ver o que farão com uma estrangeira. - Amber disse com muita maldade em seu tom de voz.
- Amber! - Jack a repreendeu.
- É a mais pura verdade, maninho. - A ruiva respondeu como se não tivesse dito nada de errado.
- Você pode ficar no meu quarto, Mackenzie. Eu fico no quarto do Greg, ele tem uma cama extra. - Jack disse, solidariamente, provavelmente por ter notado meu espanto pelo comentário de sua irmã, o que deixou claro que ficaria com eles.
- Vocês moram aqui? - perguntei curiosamente.
- Sim... - Greg disse com um ar de dúvida.
- Mas aqui é uma loja! - respondi.
- Apenas um disfarce. - Amber respondeu com um tom de superioridade. Meu santo não batia com o dela, com certeza.
- Então vocês não tem casa? - perguntei, pensando na possibilidade de Amber ter mentindo para mim quando me disse sobre o que as pessoas daquela cidade fariam se soubessem que não tenho casa.
- É claro que temos uma casa! Todos aqui têm uma casa! Nós apenas passamos a maior parte do nosso tempo aqui. - Amber respondeu como se fosse óbvia a resposta para a minha pergunta. Notando minha expressão de dúvida, Jack complementou.
- Nossos pais pensam que dormimos na casa de nossos amigos ou algo do tipo, então eles nem se importam. A confiança das pessoas daqui leva a um nível de ilusão na qual ninguém percebe quando mentimos e pensam que somos sempre honestos.
- Gostaríamos de saber como é do outro lado. - Greg disse
- Outro lado? - Do que ele estava falando?
- É melhor você ir dormir, falamos disso depois. Já está tarde. - Jack disse enquanto os outros me olhavam curiosos.
- Que horas são?
-  Nove e meia. - Greg me respondeu após olhar em seu relógio
- Mas estava claro quando eu entrei!
- O Sol aqui se põe oito horas da noite. Os dias aqui são mais longo, temos catorze horas de luz todos os dias. Você entrou quando eram sete da noite e ficou desacordada por duas horas. -Jack esclareceu o tempo de luz solar daquela cidade.- Vamos? Vou te mostrar onde fica o meu quarto.
Levantei da cadeira e fui andando atrás do menino alto. Saímos da sala de entrada e dobramos a esquerda entrando em um mini corredor. Passamos por uma porta à esquerda e duas à direita quando ele finalmente parou em frente à uma porta na esquerda, no fundo do corredor.
- Bom, é aqui. A cozinha é na porta ao lado, a porta em frente à ela é do quarto da Amber, ao lado do quarto dela é o banheiro de todo mundo, e aquela porta ali na frente é a do quarto do Greg. Se precisar de alguma coisa é só me chamar, eu vou estar logo ali. Desculpa por ser tudo tão apertado, foi o máximo que deu para fazer no espaço de uma loja. - Jack disse e sorriu timidamente.
- Está bem, obrigada. O Tony dorme aonde? - perguntei por simples curiosidade. Afinal, não parecia ter mais nenhum quarto aqui.
- Tem uma porta na cozinha que desce para o porão, é lá que ele dorme. É onde fica o estoque da loja, ou pelo menos onde ficaria se isso realmente fosse uma loja.
- Ah, entendi. Vocês fizeram um bom trabalho aqui... Deu para montar uma casa. Vocês invadiram esse lugar? - perguntei, curiosa.
- Invadir? Não! Nós compramos. É melhor eu te contar sobre isso outro dia, é meio complicado.
- Bom, melhor eu ir então. Boa noite - disse e entrei no quarto, fechando a porta rapidamente.
Estava em uma espécie de casa com pessoas completamente desconhecidas que não sabia se poderia confiar ou não. Além disso, não sabia o que eles queriam de mim. Jack havia dito que Greg havia me perseguido para eles poderem esclarecer algumas coisas, mas eles só haviam perguntado se eu era de fora da cidade, o que já foi estranho o suficiente. Por mais esquisito que fosse ficar nessa casa, parecia ser o local mais seguro, ainda mais se o que Amber me disse for verdade. Me perguntava o que fariam se soubessem que eu sou de fora, principalmente o porquê de tomar alguma medida por eu ser de fora. Depois descobriria isso, estava muito cansada para pensar.
Decidi dar uma olhada no quarto do Jack, já que só havia olhado para o chão e a porta desde que tinha entrado ali. Era um quarto simples e pequeno, com apenas uma cama de casal e uma cômoda de madeira.
Pude ouvir Amber gritar algo do lado de fora, mas não estava afim de escutar o que quer que estivesse saindo daquela boca que só sabia reclamar. Me sentei na cama de Jack e fiquei encarando a parede, pensando em tudo que havia acontecido desde aquele pedido estúpido de Sarah. "Destino...me poupe" pensei. Estava perdida em meus pensamentos quando de repente a porta do quarto abriu e Jack entrou com um prato e algumas roupas na mão.
- Hm... Desculpe entrar sem bater, acho que já é um hábito. Eu te trouxe comida. Imaginei que estivesse com fome. - Ele disse e levantou um prato com sopa em frente à seu rosto, logo, o colocou em cima de sua cômoda. Notando meu silêncio, ele continuou. - Eu também peguei algumas roupas da Amber, já que acho que você só tem essas. E... É isso, boa noite. - Dizendo isso, ele saiu de seu quarto. Associei o grito da ruiva ao fato de seu irmão ter pego algumas de suas roupas para me emprestar e ri ao imaginar a expressão em seu rosto. Comi a sopa rapidamente por estar com muita fome, coisa que não havia percebido até ter aquele prato em minha frente e, antes de me dar conta, peguei no sono e dormi.

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