Capítulo 7 - Sozinha

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Durante todo esse tempo em que fiquei na calçada eu não havia dito uma palavra sequer, devido ao fato de estar perdida em pensamentos e por estar demasiada perplexa para conseguir abrir minha boca e formar uma palavra qualquer, então decidi que já estava na hora de dizer algo. Juntei todas as minhas forças para sair do meu estado de choque e falar a quantidade necessária de palavras para Jack e Amber, que ainda estavam lá parados me observando com um olhar tenso.
- Gente, vocês podem ir andando. Eu quero ficar aqui um pouco mais.
- Você está bem? Tem certeza que podemos ir?- Jack disse calmamente.
- Sim, claro. - disse e pude ver a expressão de alívio na cara de Amber.
- Ufa. Garota, eu não aguento mais ficar parada aqui perto dessa barreira. - a ruiva disse.
- Vamos então, Amber. Você sabe o caminho para casa Mackenzie? - Jack me perguntou e a primeira coisa que eu pensei foi "se eu soubesse, já estaria de volta ao meu mundo", porém sabia que ele estava se referindo à casa oculta na loja, então apenas fiz que "sim" com a cabeça e dei um sorriso de lado. Com esse simples gesto, os dois começaram uma caminhada para fora daquela rua.
Fiquei sentada naquela calçada por um bom tempo. Sei que parece algo idiota, mas era muita informação em pouco espaço de tempo, era muito para digerir. Era algo completamente novo e diferente. Por um lado, me sentia presa dentro do muro de Berlim, só que maior, mais grosso e, obviamente, mais fechado, já que aquele muro tão famoso na história do meu mundo não tinha um formato circular que causava uma certa claustrofobia, ele "apenas" dividia as cidades, já essa barreira metálica me dava a impressão de que estava em uma prisão de alta tensão. Por outro lado, eu poderia estar no meio de uma guerra que estava apenas começando e isso me assustava, já que o lado que estava iniciando a batalha carregava uma mágoa de mais de cem anos para com o lado em que eu estava, devido à uma grande e antiga hipocrisia social. Sempre que via aqueles filmes de guerra me desesperava ao ver a dor no olhar das pessoas, pelo motivo de ser demais para mim. Só de pensar em algum combate sangrento já entrava em pânico.
Entre tudo de estranho naquele mundo, havia algo que me fazia indagar mais que tudo, mas não sabia o que era. Alguma coisa naquele lugar me deixava tensa, preocupada, nervosa e com raiva, tudo de uma só vez. Todos esses fatores se agravaram após aquela transmissão de vídeo ameaçadora. "A transmissão" pensei. "O Superior, o líder dos revoltosos, todos devem ficar em estado de alerta, as ameaças, Logan. Oh, Logan, o que você está fazendo aqui?" Comecei a reviver em minha mente tudo que havia sido dito naqueles vídeos, estava claro que algo grande e grave estava prestes a acontecer e que Logan estava envolvido nisso. Tudo bem que ele sempre foi um menino rebelde, mas apoiar aos revoltosos já era demais, até mesmo para ele. Eu o conhecia, sabia que ele não seria capaz de machucar ninguém, pelo menos não fisicamente. Tudo bem, ele sabe lutar boxe, mas é apenas para se defender e para essas lutas que tem de vez em quando, as quais ele participa para conseguir algum dinheiro e as quais eu já havia sido arrastada por Sarah em várias ocasiões. Então sei que ele não começaria uma guerra ou qualquer outro combate sangrento, ele não é tão mau assim. Aposto que ele tem um bom motivo para estar tão perto do líder dos revoltosos, afinal, uma coisa é a pessoa estar daquele lado, outra coisa é essa pessoa apoiar a rebelião. Se bem que é bem provável que a maioria das pessoas daquele lado apoiem a rebelião, mas sei que Logan não participaria de tal massacre. Espera um pouco... Eu estava mesmo pensando nele? NO LOGAN? Tinham tantas coisas naquela cidade que eu poderia estar pensando sobre, tantas dúvidas que eu tinha sobre aquele lugar... E eu estava com a cabeça na pior coisa que se poderia pensar naquela dimensão ou na minha dimensão ou em qualquer outra: no Logan. Que grande desperdício de neurônios. Quero dizer, tem uma grande barreira de metal bem na minha frente que separa uma cidade caótica e ambiciosa de uma cidade moderna e mesquinha, e eu, tola, estava pensando no Logan. Pelo visto quando a pessoa ocupa o seu coração e logo o quebra em pedaços milimétricos, ela passa a ocupar sua mente. Eu queria poder parar de pensar nele, eu queria que eu tivesse parado de gastar meu tempo pensando nele, mas isso era simplesmente mais forte que a minha vontade. Eu tentava e tentava, mas ele continuava vagando em meus pensamentos, até mesmo aqueles que não tinham nada a ver com ele, na verdade, principalmente os que não tinham nada a ver com ele. O pior de tudo era que o destino o havia colocado aqui, o único rosto familiar para mim, o que me fazia pensar mais ainda nele e, por mais que eu odiasse isso, me fazia querer vê-lo. Eu sei que ele me machucou, sei que ele me magoou, mas eu ainda sentia essa necessidade de vê-lo. Ele podia até ser a última pessoa que eu gostaria de ver em qualquer outra situação, mas agora ele era a única pessoa com a qual eu queria falar e eu me odiava por isso. Tinha certeza de que a dor que ele me havia feito sentir era pior do que levar um tiro, já que quando você leva um tiro, ou o médico te socorre e a dor para rapidamente, ou, na pior das hipóteses, você morre e a dor igualmente para rapidamente. Logan havia atirado em meu coração, puxado o gatilho e lançado uma bala que demorou para entrar nesse órgão vital, uma demora ocorrida por uma barreira que eu havia criado, uma barreira maior do que a que havia nessa cidade. Após um tempo, sua bala atingiu o epicentro de meu coração, causando um colapso em todo o resto do meu corpo, principalmente em minha mente, além dos pequenos fragmentos da bala que chegaram ao meu estômago, causando as tão famosas "borboletas do estômago". Mas Logan retirou a bala rapidamente, sem dar pontos, deixando meu coração aberto, machucado. Deixando uma ferida que levou meses para sarar, uma ferida a qual até hoje eu carregava a cicatriz e que até hoje me fazia sentir dor nesse órgão tão especial para os apaixonados. Não acredito que havia pensando nisso, afinal, desde quando um garoto é pior do que levar um tiro? Que coisa mais estúpida! Acho que passei tanto tempo nos últimos anos pensando em coisas estúpidas e em pessoas estúpidas que acabei me tornando uma garota estúpida. Se bem que... Não era qualquer garoto, era o Logan e ele com certeza me havia feito sentir uma dor maior do que a de um tiro. Logan Stevens não é apenas um "bad boy", ele foi meu "bad love", uma poção do amor ruim e falha que de vez em quando surtia efeito novamente, mas havia aprendido a controlá-la, transformando todo o amor que tinha por ele em ódio. Mas esse ódio infelizmente não me impedia de pensar nele, não me impedia de querer vê-lo desesperadamente nessa nova dimensão, não me impedia de querer ficar perto dele. Esse ódio apenas me impedia de entregar meu coração para alguém novamente, me impedia de confiar no amor, de acreditar que exista uma alma gêmea, que estejamos destinados à ficar com alguém. Foi esse mesmo ódio que me fez parar aqui, foi por minha falta de fé de que um dia eu encontrarei alguém que eu esteja destinada a amar que eu vim parar nessa dimensão. Eu culpava Sarah quando, na verdade, era minha culpa. É por minha causa que eu estou aqui, eu tenho total responsabilidade disso e agora que eu pude perceber, já que se eu acreditasse em todas essas besteiras de destino e amor verdadeiro Sarah nunca teria feito aquele desejo. Então, do mesmo jeito que eu havia me metido nessa, eu ia me tirar daqui. Era só eu fazer tudo direitinho e seguir o fluxo, porque em algum momento eu sei que faria algo que agradaria o Destino e, então, ele me tiraria daqui. Todo o peso estava sobre mim, havia influenciado Sarah para chegar aqui e agora só deveria influenciar o Destino para sair daqui. Era só esperar para ver.
Notei que estava escurecendo e que já havia passado muito tempo naquela calçada, então decidi tomar meu caminho de volta para a "casa" do meu grupo de anfitriões antes que a Lua tomasse o lugar do Sol e ficasse ainda mais complicado para que eu me situasse naquela cidade com suas ruas desconhecidas por mim. Comecei a me lembrar das ruas que havia andando naquela cidade e pensei em um possível caminho que me levaria até aquela loja em que eu estava hospedada. Após uns quarenta minutos andando, me perdendo e me situando novamente, finalmente cheguei na loja.
Ao abrir a porta me deparei com Greg deitado no chão do hall de entrada, mas ele logo se levantou ao notar minha presença.
- Estava esperando você chegar, pensei que estivesse perdida. - ele disse preocupado.
- Eu até que me perdi, mas acabei achando o caminho. - me expliquei.
- Entendi.
- Onde estão todos?
- Tony está com a esposa, e Jack e Amber vão passar alguns dias em casa para que seus pais não desconfiem. Eu também vou ficar um tempo em casa, mas fiquei encarregado de esperar você chegar para ter certeza que está tudo bem.
- Eu vou ficar aqui sozinha? Quero dizer, eu posso?
- Sim, claro. Fique à vontade. Qualquer coisa, a minha casa é a mais próxima daqui. Aqui o meu endereço. - ele disse e me entregou um papel que dizia "Rua Govern, casa nº 17".
- Eu posso ligar para lá? - disse e ele me olhou com uma cara de confuso.
- Ligar?
- Sim, sabe... Telefone, celular, número...
- Ah, isso? Não usamos isso faz anos. - Como assim? Eles têm carros voadores mas não tem telefones!?
- Porque?
- Desde que o muro se ergueu, o governo tem tido muito cuidado para que nós continuemos em segurança. Então, eles baniram os telefones da cidade, com medo de que o outro lado consiga invadir nossos sistemas e saber o que fazemos, o que falamos e sobre o que falamos.
- Como hoje que eles invadiram a transmissão?
- Exatamente.
- Oh...
- Bom, Mackenzie, se não se importa, eu já vou embora. Acho que você se vira aqui sozinha e, caso você queira dar uma volta pela cidade, lembre-se: não deixe ninguém saber que você não é daqui.
- Ok. Pode deixar. - disse isso e, logo, Greg foi em direção à porta e saiu da "casa", me deixando sozinha naquele lugar.
Estava cansada, então tomei um banho e fui em direção ao quarto de Jack, que estava sendo o meu quarto nesse período. Pelo visto, passar o dia sentada e pensando é mais cansativo do que parece. Então, ao deitar na cama, fechei os olhos e dormi.

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