Capítulo Dois.: Garoto encontra Anjo

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Eu tinha oito anos quando encontrei o anjo pela primeira vez. Foi no parquinho a algumas quadras da minha casa, era um lugar relativamente amplo para meus olhos de criança, afinal, tudo parecia grande visto de baixo.

Haviam algumas crianças que sempre brincavam por ali... Elas não eram ruins, nem malvadas. Mas eram, tal como eu, um pouco mais tímidas. Então a gente raramente se misturava, raramente se chamava para brincar. Por isso, eu estava sempre sozinho.

Gostava de ir mesmo assim, eu ficava montando castelinhos na areia e podia escorregar em paz... Mas também queria brincar com os outros. Eles já se conheciam, alguns eram irmãos, então eu era o único sozinho. Como sempre.

Eu era Taehyun, a criança que vivia por si só. Que pedia aos céus, todos os dias, por um amiguinho.

Tudo isso mudou naquele dia de sol, quando uma sombra cobriu meus olhos que estavam fechados. Ao abri-los, me deparei com uma criança me olhando tímida. Eu estava no balanço e ele em pé, então estava mais alto que eu, conseguindo tampar o sol. Olhando de baixo, contra a luz, o menino parecia um anjo.

— Oi... — ele diz um pouco tímido e percebo que ele mal consegue me olhar nos olhos. — Você... Ahn... Quer brincar?

E eu sabia o quão nervoso ele tava, não só porque conseguia ver ele tremer e ficar vermelho, como porque eu também morria de vergonha de chegar nas outras crianças. Abri um sorriso e concordei com a cabeça. Ele abriu o sorriso mais lindo que eu já vi no mundo inteiro e mostrou que carregava uma corda de pular.

— Posso chamar minha mãe para bater a corda?

Eu apenas concordo com a cabeça, sorrindo.

A primeira vez que conheci o anjo Kai, mal consegui falar. Toda a minha concentração ia para olhar seu rostinho bonito. Acho que esse foi o primeiro sinal que tive na vida de que, talvez, eu gostasse mais de garotos do que eu imaginava.

Quando a mãe do menino chegou até mim, com o menino do lado, ela sorri para mim e depois me olha surpresa.

— Bem que você falou, filho. Os olhos dele parecem mesmo jabuticabas.

Senti todo meu rosto corar e vejo que o dele também. O menino parece inconformado e a mãe se desculpa por ter dito isso para mim. Ele encara o chão e aperta as mãozinhas uma contra as outras quando tenta falar comigo de novo.

— Qual seu nome?

Eu respiro fundo antes de responder.

— Taehyun. Pode me chamar de Tae.

— O meu é Kai... Vamos pular?

Eu apenas concordo sorrindo, e a mãe do menino começa a girar a corda para nós.

Depois daquele dia, ir para o parquinho nunca mais foi a mesma coisa. Eu sempre tinha alguém para brincar... E não era qualquer alguém. Era o Anjo Kai.

Graças a sua personalidade fofa e tímida, todo mundo queria brincar com ele também. Então, em pouco tempo, todas as crianças do parque eram amigas, brincavam juntas e se divertiam. Quando penso sobre aquela época, sinto como se Kai tivesse me conectado com o mundo que, antes, não tinha coragem de me conectar.

Mas mesmo cheio de crianças juntas, a dupla inseparável era sempre nós dois. Ninguém além de mim conseguiu, durante todo aquele tempo, fazer duplinha com Kai... Porque, como ele mesmo dizia, "desculpa, eu vou com o Tae".

Sempre.

E eu gostava disso.

Ele era uma criança única. Abraçava todas as crianças com carinho, mas especialmente eu. Ele gostava de trazer brinquedos e doces diferentes porque queria que a gente comesse e brincasse, mas especialmente eu. Porque ele sempre tinha algo guardado que só eu ganhava.

I'm Just Your Problem | TaekaiOnde histórias criam vida. Descubra agora