Capítulo Dez: O trio em busca da verdade

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Foi a pior noite da minha vida.

Tive um pesadelo tão esquisito que nem sei explicar o que aconteceu, mas meus pais estavam bravos comigo porque eu literalmente tinha virado a princesa jujuba. Meus amigos deram as costas pra mim e eu morava no parquinho porque não tinha mais pra onde ir. Tenho a leve sensação que bati numa porta invisível, pedindo para Taehyun deixar eu entrar debaixo do brinquedo, que era a casa dele, e ele me acolheu...? Ou algo assim, sei lá, fiquei tão perdido.

Foi minha mãe que veio me acordar, preocupada com meu sono nada tranquilo, mas ver ela, logo cedo, tão perto de mim, me deixou ainda mais assustado. Era como se ela pudesse ver todos os meus pensamentos e se ela realmente fizesse isso... Nossa eu tava ferrado. Só não morreria porque ela morreria de desgosto primeiro. No final, o que era pra ser um momento esclarecedor, acolhedor e renovador, se tornou um pesadelo generalizado e eu só queria ir embora o quanto antes. Inventei qualquer desculpa, falando que deu um problema no nosso trabalho, peguei minhas coisas e sai correndo pro ponto de ônibus.

Minha mente agora tá igual aquele meme sobre andar de bicicleta, só que você tá pegando fogo, a bicicleta tá pegando fogo e o chão também tá pegando fogo e eu me sinto no inferno. Será que essa bola de neve (no caso, de fogo) de pensamentos é punição divina? Tô quase começando a acreditar que sim.

O pior de tudo é que, mesmo querendo desesperadamente buscar conforto nos braços de Soobin e Beomgyu, o único que tenho certeza que realmente me entenderia, é Taehyun. Mas não posso simplesmente ir lá atrás dele e pedir para conversar sobre esse assunto e sobre o mundo, muito menos depois de implicar tanto com o estilo de vida dele. Não posso fazer isso... Não agora. Sinto que devo, sim, falar com ele sobre isso, mas também sinto que o devo uma quantidade insalubre de desculpas.

Não que eu ache que meus amigos me abandonariam (mas também não duvido), não acho que eles me julgariam por questionar (mas também não tenho certeza), e sinto que eles tentariam me convencer de que estou errado e meus pais estão certos (o que também não é tão reconfortante, porque eles só falaram atrocidades). Então eu não sei de mais nada. Devo chamar a Jimin pra conversar? Será que talvez uma pessoa um pouco mais de fora seja a melhor opção?

Olho para o vidro no ônibus que agora se mexe conforme passa pelos nivelamentos da estrada e me pergunto quando foi que minha vida virou de cabeça pra baixo desse jeito: será que foi só ontem ou será que ela já vinha se remexendo desde que vim pra cá estudar? Será que foi quando revi Taehyun pela primeira vez? Quando Soobin e Beomgyu voltaram a implicar sobre eu ter pedido um menino em casamento quando tinha 8 anos?

Não sei e nem sei se quero saber também. Talvez queira só explodir e ir pro descanso eterno — o que não me é garantia porque eu passei os últimos anos acordando todas as inseguranças das pessoas à minha volta. Vou genuinamente entrar em combustão espontânea.

Resolvo que quero ouvir alguma coisa pra tentar calar meu cérebro só um pouquinho e, quem sabe assim, dormir um pouco até o meu ponto. Quando abro o aplicativo de música, percebo a bendita canção que Taehyun me dedicou ontem e resolvo ouvi-la só mais uma vez. Agora, encarando o vidro de novo, me sinto preso em diversas memórias da infância com Taehyun e como éramos completamente grudados. Essas lembranças já não me trazem tanto conforto quanto eu gostaria, mas também não consigo calar meu cérebro — estou considerando acertar minha cabeça com um martelo até ela ficar quieta, antes que eu fique maluco de vez.

É quando vejo a entrada da cidade que percebo que passei o caminho ouvindo a mesma canção, sem realmente mudá-la. Mas quer saber? Considerando a quantidade ridícula de sono que tive e minha consciência berrando na minha orelha desde ontem, esse é o menor dos meus problemas.

I'm Just Your Problem | TaekaiOnde histórias criam vida. Descubra agora