Capítulo Oito: Garoto confronta desejo

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Quando falaram pra mim que o melhor jeito de esquecer os problemas é bebendo, eu não devia ter acreditado. Tipo ok, beleza, nos primeiros copos de cerveja eu até que tava me sentindo mais alegre, e porque eu tava focado em tentar aproveitar, não vinha lorota na minha cabeça. Era só 'tuts tuts' e mandar algumas bebidas duvidosas para dentro. Mas vir sozinho pra uma festa da faculdade pra esquecer os problemas não é exatamente efetivo, porque de qualquer jeito você ainda tá meio que sozinho, só que cercado de gente. E sério, estar sozinho com tanta gente é torturante, porque você tá sozinho, mas também não tá. E sua cabeça começa a pensar coisas que não devia, e você começa a olhar pra pessoas (homens bonitos) que não devia e sua mente fica mais leve e meio rodando e fica difícil obedecer a si mesmo. Mas você não consegue conversar sobre isso ou ser ajudado, porque você tá sozinho e... Caraca, tinha alguma coisa errada no meu copo, não tá dando não.

Preciso parar de pensar. Preciso também parar de olhar pra esses homens bonitos, especialmente aquele loiro no canto da festa que tá tirando a camiseta e secando outro garoto, ruivo, dançando até o chão com aquela bunda redondinha que dá vontade de apertar... E...

Meu Deus eu não falei isso não, tá? É invenção da sua cabeça, deleta. Para de olhar pra bunda dele, Beomgyu. Olha pra outra coisa... Tipo o tanquinho daquele-, não, não, isso também não. Meu Deus, por que tem tanto homem nessa festa? Procura outra coisa, Beomgyu, vai.

Começo a andar. É difícil porque eu tô meio zonzo e tem luz piscando para todo o lado, então fica escuro, claro, escuro, claro, vermelho, claro, escuro, vermelho, claro, e isso deixa minha cabeça meio torta. Ou eu tô meio torto, não sei mais. Foco nos meus pés, em andar reto, porque eu consigo andar sozinho, consigo encontrar a cozinha e buscar algo para comer, ou beber.

Ou qualquer coisa. Qualquer coisa que tire da minha cabeça a expressão confusa e meio julgadora dos meus amigos quando mencionei Hora de Aventura. Qualquer coisa que tire a feição meio ofendida do Yeonjun quando falei que era LGBTfóbico, qualquer coisa que não me deixe lembrar do quão transtornado Kai estava quando resolveu voltar pra casa dos pais e passar o resto do final de semana lá, ou do quão esquisito o Soobin tava quando eu saí do apartamento. O olhar que ele direcionou pra mim. Não quero lembrar.

Vou beber e comer alguma coisa, pra ficar melhor, depois vou dançar. Dançar até cansar e pra evitar que o Soobin continue me olhando assim, eu vou encontrar uma mulher que goste de homem meio bicha, vou levar ela pro apartamento que dividimos, e vou transar com ela enquanto imagino que ela como um homem. Daí depois eu vou me sentir um lixo de pessoa, chorar por uma semana, mas nenhum dos meus amigos vai me olhar daquele jeito de novo. Pronto, solucionei, não preciso mais pensar.

Achei a cozinha. É no final do corredor. Eu vou lá, pegar uma bebida e aproveitar. Mas não posso conversar com ninguém. Sinto que se me perguntarem qualquer coisa eu vou responder. E eu não posso. Minhas verdades não condizem com meu personagem. Olho pros meus pés, vou andar em linha reta e não vou derrubar meu copo vazio. No final do corredor vou virar, e achar a geladeira.

Estou quase lá, mas sinto algo batendo forte contra meu ombro e não consigo controlar meu corpo direito. Me sinto um peso morto, então sinto que estou indo direto pro chão. Mas não vou. Uma mão segura no meu braço e sinto meu corpo ser puxado com cuidado de volta pra posição vertical. Tudo parece em câmera lenta porque esse tombo fez meu cérebro chacoalhar demais. Alguém me segurou. Procuro o rosto de quem me segura e o encontro perto demais do meu. Ele me puxa para perto e pede desculpas para alguém que está passando, porque estamos bem no meio da porta.

Agora, ainda mais perto, não consigo tirar os olhos do seu rosto, do seu nariz perfeitamente desenhado e seus olhos cativantes, seu cabelo caído na frente do seu rosto. Olho pra sua boquinha carnudinha e o hábito dele de mantê-la em um biquinho, quase como um convite silencioso para dar um beijo.

I'm Just Your Problem | TaekaiOnde histórias criam vida. Descubra agora