Capítulo Quatro: O anjo que caiu dos céus

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Eu não queria sentir raiva. Não queria mesmo, mas sério, depois daquela apresentação dele, percebi que provavelmente eu já não conheço mais esse cara. É claro, pessoas mudam ao longo do tempo, é o processo natural da humanidade... Mas mudar tanto assim?! Sei lá. Quer saber, não quero pensar sobre isso.

Mordo meu lanche e tento focar unicamente no sabor da massa e do recheio de frango, na busca de encontrar a paz que me foi tirada.

— Você tá me assustando. — Escuto Yeonjun dizer e olho para ele sem entender. — Você tá encarando seu lanche, sem piscar, com sangue nos olhos e mastigando com tanto ódio que parece que o lanche xingou a sua avó.

Solto uma risadinha para tentar descontrair. Fecho os olhos, apoio minhas costas na cadeira e respiro fundo. É só se acalmar, Taehyun. Não deixe isso te incomodar. Tá tudo certo. Abro os olhos e dou um sorriso para meu amigo, só até escutar, novamente, a risada escandalosa do menino que um dia foi meu primeiro amor. Precisa rir alto assim? Eu tô tentando esquecer você existe, caralho.

Sério, como pode esse desgraçado me pedir em casamento com oito anos, falar que me ama, sumir e voltar um almofadinha da família tradicional? E pelo que parece, deve tá fingindo até hoje que não gosta de homem, sendo que nós dois sabemos que foi ele que me beijou, não o contrário.

E o pior é que, de certa forma, eu tô meio que acostumado com esses comentários. Mesmo meus pais e os tios Choi sendo muito legais e aceitarem a gente como somos, tanto eu como o Yeonjun somos ativistas, somos militantes (no melhor dos sentidos da palavra), então o que mais acontece conosco, é encontrar pessoas assim e trocar ideias com elas, argumentar (a maioria das vezes não dá em muita coisa, mas com uma galerinha nova assim, e claramente enrustida, costuma ser mais fácil). Então por que tô me irritando tanto? Eu sei que sou bissexual há tanto tempo, já me menti em cada discussão sem perder o temperamento. Por que com ele eu não consigo? Por que sinto tanta raiva de ver ele assim?

— Você tá encarando. Já já eles reparam. — Meu amigo avisa e só então percebo que encarava os cabelos rosados por cima do meu ombro. Merda.

— Isso tá me tirando do sério. E eu nem sei porquê.

— Porque você nunca superou esse crush, ficava pensando nele a cada dois meses, nunca superou que não fez nada pra se encontrarem de novo e agora você viu que ele virou um merda. Só por isso.

— Eu não tenho um crush nele.

— Claro. Você só ficava lembrando do beijo, do casamento, da cara dele, desenhando ele em todos os seus cadernos, que por sinal você só aprendeu a desenhar pra tentar recriar a lembrança do rosto dele. Mas isso não é ter um crush.

Apenas encaro Yeonjun sem reação. Porra não precisava fazer um rap pra me humilhar, sabe? Tinha formas mais tranquilas fazer um contraponto.

— Eu vou fingir que não te conheço. — É tudo que digo, tentando fugir do assunto.

— É? E daí você vai falar com quem? Com seu maridinho? — Provoca.

— Eu te odeio.

Quando digo isso, sinto que o assunto acabou, porque ele encosta as costas no acento e solta o ar por um segundinho. Mas antes que eu pudesse voltar a desfrutar do meu querido lanchinho, ele responde com um tom brincalhão:

— Também te amo, olhinhos de jabuticaba.

Meu sangue ferve por um segundo e eu tento controlar a altura da minha voz: — Não me chama assim!

— Ai, desculpa. Esqueci que só seu marido pode te chamar assim. — Retruca rindo e eu acabo não resistindo as brincadeiras dele, soltando uma risada inconformada. Ele ri ainda mais e bagunça meu cabelo. — Tô tirando com a sua cara, só queria te distrair um pouco.

I'm Just Your Problem | TaekaiOnde histórias criam vida. Descubra agora