Capítulo 11

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Carol

Ontem, depois das coisas esquentarem, digamos que eu e Natália ainda ficamos um tempinho em ligação, matando a saudade e desejo, mesmo que indiretamente. Indiretamente também, "estreamos" a nossa cama, depois de uma chamada de vídeo interessantíssima que quase me obrigou a trocar os lençóis.

Eu estava mesmo precisando e merecendo relaxar um pouco, depois de dias tão árduos lidando com a mudança sozinha, minha cabeça estava a ponto de derreter e sair escorrendo pelos meus ombros, ainda mais porque hoje é o meu primeiro dia no laboratório. Quando disse isso à Natália, ela pareceu mais animada do que eu, daí passou longos minutos me listando uma quantidade infinda de motivos para não ficar nervosa, porque sou inteligente, porque sou a melhor do mundo e porque todas as pessoas que ganharam Oscar's de ciência (incluindo Marie Curie, aquela sem talento, como disse ela) só ganharam porque eu ainda não tinha nascido. Em partes, apesar de seu exagero carinhoso, suas palavras me acalmaram de verdade, tanto que eu já nem sentia mais meu coração pular para fora do peito sempre que me lembrava do que viria hoje.

Fui eu quem dormiu primeiro. Algumas horas atrás, depois de desligar o despertador, eu me deparei com algumas mensagens deixadas por ela:

[Natália amor]

"Você é maravilhosa dormindo, eu já disse isso?"

"Senti tanta falta de te assistir assim".

"Você vai arrasar amanhã, meu amor. Mostra pra eles porque você está aí".

"Nunca deixe que ninguém te diga que você não pertence ao lugar onde está".

"Eu te amo. Boa noite".

[00h56]

"Ah e Quebra Tudo (menos a nossa cama, me espera chegar aí antes)".

"beijo beijo beijo beijo".

[01h02]

Eu sorri com sua última mensagem. É quase impossível que alguém consiga ser tão precioso.

Antes de levantar, comecei a repassar a apresentação na minha cabeça. Eu ainda vou levar um tempinho pra começar a pensar em uma outra língua, por isso rever minha fala me ajuda a memorizar e não dizer nenhuma besteira. Fiquei assim todo o tempo, quando levantei, quando tomei banho, vestindo a roupa, tomando café e descendo até a garagem. Bom dia, meu nome é Ana Carolina, ou Carol (pra quem quiser) e eu sou brasileira. Neurocientista, fisioterapeuta e agora chefe de pesquisa.

E revi isso de diferentes formas, com diferentes estruturas e diferentes modos de dizer a mesma coisa. Considerando a distância do meu bairro até o laboratório, tive tempo de rever a mesma frase umas cinquenta e quatro vezes.

O Rosemont, dentre todos os bairros de Quebec, pareceu ser a melhor escolha para morar. E é, de fato, eu escolhi pensando a longo prazo, no silêncio e na natureza bem conservada em volta, em Natália fotografando as árvores enormes do lado de fora de casa quando estivesse nevando, e principalmente em não me preocupar mais com as buzinas frenéticas da avenida onde fica o meu antigo apartamento. Também quando envelhecermos, e, quem sabe, talvez, bem talvez, se quiséssemos uma criança futuramente.

Eu pensei em quase tudo. Se não fosse pela Universidade que fica há mais ou menos vinte quilômetros de casa.

Quando estaciono um pouco depois da calçada do campus é que o nervosismo re-atinge o meu corpo. E então as perguntas começam a pesar na minha mente.

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