4 - Elysium

20 10 11
                                    

Na entrada da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, há um pátio vasto e plano com um certo desnível e uma morbidez demasiada. O chão é forrado com pedras irregulares de um branco opaco quase leitoso, dispostas em arranjos quadriculados feitos com linhas divisórias de granito enegrecido que, de certa forma, não chegam a ser totalmente pretas, mas que — no geral — servem para a função e fazem a entrada mosaico do santuário parecer com um grande tabuleiro de xadrez.

Ao fundo, com seus entornos esculpidos na pedra, a Igreja compõe uma paisagem que falha a modéstia em seu estilo barroco, com um corpo principal de dois pavimentos, ambos com três aberturas e duas torres nas laterais, sendo a torre da direita acabada com uma cúpula semiesférica que está escondida no interior da construção enquanto a outra torre possui quatro pisos: a base com uma porta em arco pleno e, acima, com uma abertura sucessiva: uma porta de arco pleno com balaústre, um óculos simples e uma janela sineira. Esta mesma torre é coroada com uma cúpula com diversos ornamentos e, no topo, uma cruz.

Há mais nos traços arquitetônicos, desde que você saiba enxergar. Muitas vezes — No mar de informações. — O olhar se perde. No breu das horas, minguando no frio da noite, o prédio parece um mausoléu. É aqui, no coração da cidade, abaixo de qualquer suspeita, que os banidos do sol vadiam e confabulam, respeitando a tradição.

In pax vampiricas. — Edgar se anunciou para o arauto que recepcionava todos que passavam pelas portas. Era, para ele, um rosto conhecido. — Mariano!

— Irmão, — Mariano pigarreou. — Peço que mantenha o decoro. Aqui eu sou apenas o Arauto.

— Também estou feliz em vê-lo. — Em outra ocasião, o velho teria o abraçado, mas Edgar, também conhecido como Presas de Prata, se conteve.

— E vejo que não veio sozinho. — O jovem arauto da cidade comentou. — Espero que não estejam com fome.

— Espero que não esteja falando de mim... — Beatrice comentou fora de turno.

— Quieta, criança. Deixe a conversa comigo. — O senhor a repreendeu.

— Espero que mantenha suas convidadas sob controle. — Era de um visual jovem e magricela, o tal Arauto e muitíssimo contundente no seu jeito de falar.

— Eu tenho tudo sobre controle. — O italiano respondeu.

— Nesse caso, não preciso advertir para tomar cuidado. — Mariano encerrou sua fala num tom brando.

O guarda-portas permitiu a passagem da pequena caravana com uma saudação curvada e então fez os anúncios.

— Edgar de Tivori e outros dois convidados.

Apesar de "os convidados", na verdade, se tratarem de duas mulheres, a tradição requisitava que todos os tratamentos coletivos ou hierárquicos se dessem no masculino. Ambas já estavam acostumadas.

Ao entrarem, Edgar e sua prole seguiram para saudar o Prefeito, guardião do Elísio; estavam em solo da ordem cainita agora e essas eram as regras não escritas.

A pequena casa de Edgar, conhecida como Tivori, marchou pelo centro da Igreja com todos os olhares a pousar sobre eles. Já tinham estado ali muitas vezes, mas nunca sob nenhuma grave suspeita. De fato, não estavam lá para serem julgados, mas isso não impediu as más línguas de correrem soltas ao se depararem com suas presenças. Por dentro, Beatrice estava odiando aquilo, Ofélia sabia. Vez ou outra se ouvia um murmúrio ou uma pequena risada de fundo, mas sem perder a classe, eles conseguiam lidar com isso facilmente; ignoravam o deboche com uma firmeza inabalável. Uma postura invejável e necessária, embora, no fundo, eles desejassem socar algumas pessoas.

O Édito VampíricoOnde histórias criam vida. Descubra agora