Capítulo 26 - A sombra de um passado

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Os humanos são condenados a serem livres.

São responsáveis pelas escolhas e ações, sem poder se esquecer dessa responsabilidade que lhes foi dada no início da vida, quando NuWa moldou-os de barro e água.

Entretanto, só o coração de LiMing poderia sentir o que estava acontecendo diante de seus olhos. No caso, algo totalmente diferente de liberdade. Era o total contrário. A total dependência e dominação. E sem que possa fazer alguma coisa para cortá-la.

Se fosse para descrever seria como um pouco de angústia, misturado com medo e tristeza. A angústia, ao ver aqueles olhos de seu Mestre e não o vê-lo mais, causando um desconforto, inquietação e apreensão. O medo era ao notar como, de certa forma, o passado nunca iria se apagar de sua memória. Suas ações, como ser vivo, sempre estariam presas aos seus pés e iriam assombrá-lo da pior maneira possível, tentando tocar onde ninguém mais conseguiria tocar. E, por fim, a tristeza estava recorrente ao observar que, por mais que não fosse HuanGhun, era o rosto dele. O rosto cheio de dores, sombras e mistérios que um dia tentou esconder.

FengHuo arrumou suas vestes, ainda não tirando aqueles olhos ferozes dos do outro, que tentava-se manter estável, mas suas pernas lhe destruíram e mancharam sua pose. Elas estavam trêmulas. Tremendo por ver a criatura que conseguiu estragar sua vida uma, duas e agora, pela terceira vez.

"Não vai falar algo para mim, LiMing?", FengHuo perguntou, cruzando os braços. "Achei que estaria impressionado. Eu atuei muito bem. Poderia ter atuado mais, porém, esse hospedeiro é difícil de controlar."

"A quanto tempo esteve no corpo de HuanGhun?", LiMing retrucou, dando alguns passos para trás, querendo manter o máximo de distância possível. Não sabia qual era o nível de poder físico e espiritual do antigo companheiro nesse estado, no caso, possuindo um corpo de um cultivador que tem uma forte ligação ao elemento do Tao voltado ao ar.

"Desde o final da guerra. Sabe? Aquela que eu fiz questão de destruir todos do nosso antigo vilarejo e que te entreguei a meros humanos. Foi tão...", FengHuo abriu um sorriso catastrófico. Parecia que havia chamas nele. Chamas que queimaram o coração de LiMing em um piscar de olhos pelas antigas memórias que começaram a absorver toda sua consciência. "Satisfatório. Vê-lo tão minúsculo. Vê-lo como um simples prisioneiro a mais e..."

Antes que a criatura de Diyu pudesse concluir seus dizeres, LiMing soltou uma risada debochada, cortando todo o clima de superioridade vinda do maior.

"É impressionante. Você sempre buscou ser melhor do que eu. Em tudo", a raposa branca estava enlouquecendo, parecia que todas as peças estavam se encaixando perfeitamente. "Você quis tentar mostrar isso até agora. Ao se tornar o Assassino tão procurado. Estou certo?"

"Talvez", ele sorriu, mostrando presas afiadas que nunca existiram na arcada dentária de HuanGhun. "Eu não sabia qual era seu paradeiro quando fiz um acordo com esse humano. Pelo contrário, fiz tudo isso para sobreviver. Porém, comecei a me divertir usando-o para minha diversão pós-morte."

"Diversão pós-morte?"

"Exato. Eu teria morrido na batalha contra o irmão mais velho desse paradeiro. Entretanto, as coisas se tornaram insanas e no final, eu ganhei. Novamente."

LiMing estava tentando entender as charadas que FengHuo proporcionava. Porém, a única coisa que seu cérebro voltava-se a pensar era sobre HuanGhun e onde sua consciência estava.

"Está com um rosto preocupado, LiMing", a raposa vermelha comentou, virando o rosto e caminhando aos poucos para ficar próximo ao outro. "Nunca o vi transparecer essa expressão a não ser quando destrocei nossas antigas famílias. O que houve? Os humanos amoleceram seu coração de pedra?"

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