Equilíbrio

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Bem e Mal.
Céu e Inferno.
Prazer e Abnegação.
O equilíbrio rege o mundo.

- Não existe essa coisa de equilíbrio - sibilou o demônio, abrindo outra garrafa de vinho.
- Claro que há equilíbrio - respondeu, então pegou a garrafa e se serviu em uma taça, antes que Samael o bebesse direto no gargalo - O equilíbrio é o que mantém as coisas em ordem.
Como previu, a garrafa - após devolvida - foi direto aos lábios de seu inusitado companheiro, que em grandes goles a deixou pela metade. Era um fato que ele possuía uma resistência muito maior à bebida dos humanos, algo comum aos de sua espécie, que eram muito mais propícios aos prazeres mortais.
- As coisas nunca estão em ordem, cara Miniel, o mundo é um caos, toda a criação é um caos... - O demônio se jogou para trás e uma poltrona apareceu sob seu corpo. Couro vermelho, contrastando com a paisagem morta do desfiladeiro desértico ao seu redor. Até mesmo as roupas pretas do demônio pareciam deslocadas ali - Você acha que existe ordem porque vive no Paraíso, com suas odes eternas e infinita monotonia, mas aqui em baixo tudo é caos.
Um estalar de dedos e uma segunda poltrona surgiu, de frente para Samael, um convite para que o anjo se sentasse. Se a poltrona do demônio possuía um espaldar alto e imponente, a do anjo era muito menor, quase uma afronta à hierarquia angelical, mas Miniel ignorou a provocação.
- Eu gosto das odes... - ela sussurrou ao se sentar, ganhando um revirar de olhos em resposta.
A poltrona era incrivelmente confortável, os apoios tinham a altura ideal, e o espaldar baixo acomodava perfeitamente suas asas. Ao contrário de Samael, Miniel mantinha as asas sempre a vista, um ato vazio de vaidade, já que os humanos não as viam, mesmo que não houvesse humano algum dentro de muitas milhas daquele local.
- Olhe para nós, estamos em lados opostos, e mantendo o equilíbrio.
- Nós impedimos que eles se matem, não chamaria isso de equilíbrio, é mais uma trégua.
- O anjo da morte e o anjo do amor trabalhando juntos, eu chamaria de...
- Não diga essa palavra de novo, Miniel - Pela primeira vez ele pareceu irritado, o que a fez sorrir.
- Anjo da morte? - provocou.
- Anjo, de qualquer coisa - As palavras soaram arrastadas, mais um rosnado do que uma resposta, e o demônio as lavou com vinho, entornando o resto da garrafa.
- Você não deixou de ser um anjo por cair, ainda tem suas asas, não tem? - O anjo o encarou, como se o desafiasse a mostrá-las.
Quando ainda era um anjo, Samael tinha belas asas branco-peroladas, três pares delas, uma das maiores do paraíso. Era admirado e invejado por muitos dos companheiros. Samael fora um dos primeiros a cair, há eras atrás.
O demônio a encarou com olhos vermelhos como fogo.
- Quer que eu mostre minhas asas? - rosnou, selvagem em sua ira.
A repentina apreensão fez o estômago do anjo se rebelar, mas ela assentiu, sem perder o tom desafiador.
Os lábios de Samael se ergueram em um sorriso feral, mostrando as presas que não possuía no Paraíso. Miniel imaginou aqueles caninos em seu pescoço, e sem perceber o anjo apertou o couro vermelho.
O demônio se ergueu da poltrona, jogando nela a garrafa vazia. Era alto, mesmo para um arcanjo, e seu tamanho pareceu ainda mais impressionante quando parou a sua frente. Por um momento Miniel vislumbrou aquele antigo Samael: a imponência e graça daquele entre os sete regentes do Mundo Material.
Samael a olhou de cima, analisando as curvas femininas, o que a fez se sentir quase nua com sua simples túnica de algodão. Mãos fortes seguraram as suas, prendendo-a na cadeira, então se aproximou, o nariz fino roçando seu pescoço, guiando uma mecha de cabelos encaracolados da cor do ocaso para trás de sua orelha.
Ela não precisava de ar, mas pareceu natural cessar a respiração enquanto ele a tocava, aumentando a expectativa.
- Você já foi mais sutil, meu anjo - O demônio sussurrou em uma voz doce como maçã.
Uma mão pesada pressionou seu peito, empurrando-a no momento em que a poltrona desapareceu sob seu corpo e Miniel se viu deitada sobre lençóis vermelhos de cetim, muito mais macios e escorregadios do que o couro que tocava há um segundo.
- Não temos toda a eternidade - disse ela se erguendo nos cotovelos para ajeitar as asas bagunçadas pela queda.
Um sinal de seus dedos e os botões de Samael estavam fora de suas casas, o jeans pendendo frouxo em sua cintura, a camisa aberta mostrando a pele morena de seu torço esguio.
A roupa deslizou para o chão com facilidade, não sem que ele lhe dirigisse um esgar de reprimenda.
- Pelo contrário, temos todo o tempo do mundo, não precisamos nos apressar.
Nu, Samael ajoelhou-se na cama, as mãos deslizando pelas tiras de couro da sandália do anjo, pelas panturrilhas, para baixo da túnica. O tecido leve roçou as pernas dela quando as carícias subiram para suas coxas, em um deslizar suave e apertar firme. Um arrepio percorreu seu corpo, como uma corrente elétrica, obrigando-a a esticar a coluna e as asas, em um leve espreguiçar.
Apesar da sensação agradável do algodão, pareceu a ela o momento ideal de se livrar da túnica, ergueu a mão para dar o comando, mas dedos se entrelaçaram aos seus, trazendo-os de volta para a cama.
- Não tire... - murmurou, contra sua coxa, os caninos roçando a pele sedosa.
A mão dele abandonou a sua para puxar o tecido sobre suas pernas, passou sob sua coxa, abraçando-a por baixo e forçando-a a erguer o quadril para que Samael apoiasse o pé dela em suas costas, onde deveriam estar as asas.
- Ao menos as sandálias...
- Danem-se as sandálias - uma mordida mais forte a fez parar de protestar. Ela teria reclamado, mas a boca dele desceu por sua coxa, não em beijos suaves, mas em uma lambida longa que o levou até o meio de suas pernas, sumindo sob a túnica branca.
A língua quente afastou seus lábios, provocando um farfalhar na ponta de suas asas e um contrair de dedos dos pés, um movimento involuntário que se acentuou a cada vez que o demônio se insinuou ali, sorvendo a umidade de seus lábios como um homem sedento.

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