Ter você.

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Jongwoo está imerso na sua escrita, ao que pareceu uma eternidade para voltar a acontecer.

Talvez seja o clima da cafeteria - o fato dele estar em um dos cantos mais afastados, rodeado de livros, incita-o ainda mais.

Inclusive, ele acredita ter passado despercebido pelos seus olhos, já que não se lembra de ter visto esse café no tempo em que passou e voltou por aqui, durante as suas caminhadas ou viagens de táxi - só veio a ser visível para si, ontem à noite. O que é difícil de ter acontecido apenas agora, visto que a única coisa que Jongwoo faz é olhar para tudo ao seu redor.

Mas, bem, não importa.

O lugar é bem atrativo, afinal. Tinha algumas mesas espalhadas na pequena área logo na entrada e, à esquerda, onde ele caminhou após realizar um pedido no balcão central, possuía um espaço mais escondido, aludindo a uma biblioteca.

É óbvio que ele iria para lá. É o local em que o permitiria aprofundar no seu pianista.

Na possível composição de hoje.

Ou no quadro vazio.

"Estava na última apresentação, a que faltava para acabar o mês. Sempre o último da noite, aquele responsável por juntar todo o dinheiro da plateia e saciar a ansiedade acumulada.

Ele sabia que o outro viria, o artista contava com isso.

Os seus dedos queimavam a cada tecla tocada. A cada melodia espremida.

É um antônimo.

Os dígitos deveriam estar gelados - o contato deveria estar.

Como sempre estava.

Por isso, Harper sentia um desejo pelo ardor.

Apresentar-se era a sua paixão. Mas, desde criança, ele sentia que faltava algo. Uma espécie de complemento.

Um colega irritante do fundamental, um dia, preencheu essa ausência sentida e, enforcar, se tornou o seu método.

O calor de mil graus era um alívio para contrastar com o gelado do piano.

Porém, desta vez, o olhar pesado nos seus movimentos suaves, esquenta mais do que qualquer pescoço entupido com veias pulsantes.

Ele decidiu que não o deixaria escapar dessa vez, mesmo que quebre a sua própria conduta implícita.

Os seus olhos o buscam em meio às luzes, obtendo êxito. O pianista deseja que o homem sinta o que ele está tentando demonstrar a ele por essa troca.

Sou eu.

Eu sou aquele por quem vocês tanto procuram."

- Com licença?

Jongwoo é sugado para a realidade. Ele pisca os olhos algumas vezes para se estabilizar.

Certo. O seu pedido.

Ele comprime os lábios e recebe o pequeno prato com as mãos frenéticas.

- Obrigado.

É o mesmo rapaz que estava na recepção. Jongwoo tinha notado que aqui não parece ter garçons propriamente ditos, apenas dois atendentes.

O outro sorri.

- De nada.

O escritor assente, querendo voltar a atenção para a tela com as palavras incompletas e não tão bem organizadas assim, mas o funcionário ainda não se moveu do lugar.

Jongwoo o encara com um visível desentendimento e o moreno solta uma risada sem força.

- Eu amo a escrita, na verdade. Não pude evitar de notar o que você estava fazendo.

Deixe-me cuidar de você. || Moonjo x JongwooOnde histórias criam vida. Descubra agora