DIA DO ASSASSINATO
NÃO CONSIGO TIRAR OS OLHOS DELE.
Não consigo arrancar os sentimentos que esfaqueiam meu coração.
Dor e paixão.
É o que sinto toda vez que vejo Taylor.
Ele desliza os dedos entre as madeiras loiras enquanto ri com os amigos.
O copo recheado de cerveja está enrolado em sua mão, ele não levou a bebida aos lábios durante o tempo que estive o observando.
Diferente de mim. Penso.
Já havia esvaziado copos o suficiente para perder a conta.
Minha visão escurece por alguns segundos, tateio a escuridão em busca de um suporte ao ser atingida por uma onda de tortura.
Agarro firmemente um tecido macio. Meu coração pulsa furiosamente contra o peito, a quase queda havia provocado uma adrenalina por todo o meu corpo.
Ergo a cabeça, pronta para me desculpar. Então, o estranho agarra meu braço e pressiona nossos lábios.
O beijo é desajeitado e faz meu estômago se contorcer.
No entanto, a imagem da minha paixão secreta ainda está fresca na mente, penso que é sua boca na minha.
Imagino um almíscar de hortelã ao invés do gosto de álcool e cigarro que invade a boca.
Não sinto nenhum calor envolver meu corpo, parecia que meu corpo estava beijando o vazio.
Meu primeiro beijo. Um beijo que eu havia guardado para Taylor.
Me afasto.
Observo a silhueta do cara, a escuridão engolia sua imagem; mas reconheci os cabelos que tocam o ombro e o corpo musculoso.
Willian.
O namorado de Andrea.
Abro a boca e depois fecho. Felizmente, ele se perde na massa de pessoas dançando ao redor.
Volto a atenção para Taylor.
Ele ainda está sentado no sofá de couro com os amigos.
A bebida impulsiona meus pés para frente, a timidez deixava meu corpo a cada passo que eu dava em sua direção.
Havia boatos do fim do relacionamento dele sendo sussurrados na internet.
Infelizmente, Lilian chega antes de mim. Não perco o olhar ameaçador que ela me dá antes de envolver seus braços em Taylor.
Ele se afasta.
A satisfação percorre meu corpo. Não tento me aproximar dele de novo, apenas o observo na escuridão.
Evitar cair de amores por Taylor é como segurar a respiração. Não posso fazer isso sem perder a vida.
Lambo os lábios. Sinto o gosto dos lábios de Willian, meu estômago se agita.
Sugo as escadas correndo e entro no primeiro banheiro que encontro. Coloco tudo para fora.
— Que sujeira.
Tiro o cabelo úmido dos olhos e observo a garota no batente da porta. Preciso de um momento para reconhecê-la. Andrea.
Minhas bochechas queimam e a culpa começa a trazer um pouco de sobriedade.
— Eu tenho roupas novas no meu quarto. — Ela continua.
Fico surpresa, Andrea não era conhecida pela generosidade. Na verdade, ela era constituída de desprezo e raiva.
A inquietação começa a rastejar pela minha mente. Algo está errado, mas o álcool correndo no meu sangue não se importou.
A voz da minha mãe ecoa na minha cabeça: o que tiver que acontecer, acontecerá.
O quarto de Andrea é conforme eu esperava: rosa e caro.
— Pra que é aquilo? — Aponto para a faca na escrivaninha.
Ela dá de ombros.
— Ratos. Eles estão por toda a parte, precisam ser eliminados antes de virarem uma infestação.
Franzo o cenho, confusa.
Enquanto Andrea vasculha o guarda roupa, alguém entra.
Lilian.
— Qual é o seu problema?!
Observo o seu rosto vermelho e a respiração ofegante. Além, é claro, do vestido cor de sangue encharcado.
— Eu poderia ter morrido! Eu não sei nadar, você sabe!
Andrea fecha o guarda-roupa calmamente.
— Eu sei que está dormindo com meu namorado. Eu vi.
O medo cintila nos olhos de Lilian, ela parecia saber como aquilo iria terminar.
— Sempre roubando o homem das amigas, não é? Dessa vez você mexeu com a pessoa errada. — Continua.
Dou um passo em direção a porta, o som do salto contra a piso atrai a atenção das duas.
— Alexandra? — Lilian diz, há um resquício de suavidade em sua voz.
Minha garganta aperta.
— Desculpe... Preciso voltar para a festa.
Andrea me impede.
— Taylor passou o fim de semana todo chorando, com o coração despedaçado após receber um vídeo de Lilian com outro homem.
Eu não deveria sentir isso, sabia que não deveria; mas a raiva começa a faiscar no meu peito.
— Eu preciso ir. — Repito.
Andrea me mostra o vídeo do ato pecaminoso, consegui reconhecer seu amante, ele é um dos estudantes da nossa escola.
Fecho as mãos em um punho.
— Qual é o seu problema?! — Vocifero para garota que um dia chamei de amiga.
Lilian parecia um animal recuado, olhando para os lados procurando uma saída.
— Eu... Você sabe que eu amo o Taylor, isso não é verdade.
— Você me enoja Lilian, me arrependo do dia que fomos algo além de estranhos.
Tudo aconteceu rápido, entre suspiros.
Andrea pega a faca e golpeia Lilian no peito.
Vejo seus olhos se arregalarem e a vida deixando seu corpo lentamente.
Eu não faço nada.
Eu vi a pessoa, que um dia foi minha melhor amiga, morrer.
Talvez fosse pela raiva que ainda corria pelo meu sangue ou o choque que atingiu meu corpo.
Eu não a ajudei.
Eu não a salvei.
ASSASSINA.