MAYA E LUCAS: SEGUNDA CHANCE.

Conhecendo a Maya

Desde que conversei no café com os garotos tive um choque de realidade. E ontem, quando o Lucas veio aqui de madrugada, as coisas ficaram mais claras. Eu preciso encontrar a Maya, preciso me conhecer. E com base nisso, resolvi voltar a desenhar com mais frequência. No começo eu desenhei as pessoas que eu mais amava... Fiquei um tempo admirando minha mãe e o Shawn no shopping comprando roupas para meu futuro irmãozinho ou irmãzinha. O brilho genuíno de felicidade nos olhos deles me deixa na expectativa de segurar essa criança. Quis gravar aquele momento no meu skatbook. O receio desse bebê ocupar meu lugar foi embora, era um sentimento infantil. Agora eu fico me imaginando como uma irmã mais velha. Quero que ela ou ele se sinta seguro quando abrir os olhos nesse mundo. Quero ser a irmã que eu gostaria de ter... Uma irmã que não o abandonaria para ser feliz há quilômetros de distância.

Na faculdade de literatura eu não falava com ninguém. Embora o pessoal fosse bem legal, a maioria era bem privilegiado e sem noção. Preferia não me relacionar com eles e evitar confusão. Por outro lado, no meu segundo curso, que é arte, eu me sentia em casa. Todos eram tão excêntricos e talentosos, mas esse curso  era como um "hobbie" pra mim. Bom, eu sempre afirmo isso para mim e para as pessoas quando perguntam hesitantes se é isso que eu quero pra minha vida. Ninguém espera que alguém consiga se sustentar com a arte, no entanto, a literatura reforça um estereótipo de intelectualidade... e as coisas ligadas à razão são as que normalmente vão gerar algum retorno financeiro. As vezes eu quero abandonar o curso de literatura e a segurança que ele representa para meu futuro. Por outro lado, a arte é tão incerta que me dá medo. Acho que essa é uma das coisas que mais me definem, o medo da incerteza que é querer coisas novas. A arte significa o novo. Coisas lindas, uma viagem à imaginação, ao mundo dos sonhos. O mundo tem tentado corroer esse meu lado. Acho que na busca de quem eu sou a arte sempre vai estar lá para me lembrar.

Hoje vou me reunir com os meninos novamente, dessa vez vamos assistir o jogo de basebol do Zay. Estou feliz do curso de arte ser no horário da noite. Tenho essa tarde disponível para me divertir depois da aula de história grega no fim da manhã. Não nego que estou meio desconfortável com esse encontro, sou a única menina em um grupo de amigos com 3 garotos. Antes eu não ligava pra isso, a Riley era tão meiga e menininha que eu acabava parecendo mais um dos garotos. No fundo queria ter aquela vibe feminina que ela tinha. Com base nisso resolvi vir ao jogo com uma blusa de time, uma saia, e pintei as bochechas com a cor do time do Zay. Quero parecer fofa, mas estou com medo de estar parecendo uma idiota.

Cheguei no local e procurei meus amigos. De longe avisto Lucas e Farkle sentados bebendo refrigerante na arquibancada. Vou até eles, que me encaram com uma expressão surpresa.

- Senhoras e senhores, Maya Hart! - Farkle me olha dos pés a cabeça. - Nunca pensei que te veria vestida assim! Acho que um macacão laranja ou blusas de couro com fivelas eram minha ideia mais próxima de looks que combinam totalmente com você.

- Desculpa decepcionar, mas por dentro ainda sou uma inconsequente! - Respondo dando uma piscadela e sorrindo. - O que achou, Lucas? - dei uma volta.

- Está linda. - ele me olha calmamente com um sorriso de canto e meu coração erra uma batida. Ele percebe que fiquei um pouco constrangida e tosse. - Soube que ela saiu sozinha para uma festa semana passada e ficou bêbada? - Lucas comenta repentinamente e eu o fuzilo com os olhos. Ele sorri como uma criança endiabrada. E pensei que eu beijei os lábios que abrigam esse lindo sorriso.

- Maya, você enlouqueceu? - Farkle começa a me dar uma bronca e eu saio de meus devaneios sobre a boca do Lucas. Olho para o chão esperando ele terminar o discurso.

- Lucas Bateu no filho do prefeito, sabia? - viro o jogo. - até gravaram um vídeo.

- Você não disse que não queria mais ser brigão? - Farkle questiona-o.

- Eu não voltei, eu só estava protegendo essa maluca! O cara estava em cima dela.

- Não estava nada! - provoco.

- Você é uma bêbada esquecida! - ele fala e se voltou para Farkle alterado - faltava pouco, - gesticulou - o rosto dela estava próximo do cara. Ele ia se aproveitar dela. Ela fedia a álcool, parecia um gambá no meio da estrada!

Não sei se estou me iludindo... mas será que incomoda tanto eu ter sido inconsequente ou ele está enfatizando isso porque na verdade eu quase ter beijado outro cara o deixa alterado?

Enquanto Lucas ficava bravo, olhei ao redor para me distrair da conversa que já estava me irritando e gerando questionamentos bobos. De longe ví uma garota bonita e morena, ela já tinha tirado uma foto com Zay há um tempo então me chamou a atenção. Estava acompanhada de um garoto... Rafael? Nossa, aquele babaca está aqui com a namorada? Eles se beijaram, acredito que seja isso mesmo. Um idiota daquele namorando uma amiga do Zay? Coitada. Se Lucas e Farkler virem ele, aliás, vai dar problema... Melhor eu evitar que isso aconteça. Mas estou com uma pulga atrás da orelha sobre essa garota.

- Vocês viram uma garota morena de cabelo liso que o Zay tirou foto no Instagram? - mudo de assunto.

- É a nova namorada dele. Ele ia nos apresentar hoje, por quê? - Lucas comenta desconfiado.

- Nossa! - pisco perplexa e olho para ela com Rafael perto do campo conversando. Acho que o meu espirito de fofoqueira não vai aguentar.

- O que foi, Maya? - Farkle pergunta.

- Zay está sendo traido. Agora! A garota está com o Rafael atrás de vocês. Ela deu um beijo nele. Olhem!

- Rafael? - ele pergunta.

- O filho do prefeito? - Lucas vira sem disfarçar. A expressão de raiva pairava em seu rosto de maneira acentuada.

- Disfarça, Lucas! - e agora Farkle se vira também. Nossa, eles dão muito na cara.

- O que faremos? - Pergunto.

- Alguém vai ter que contar pra ele... Mas depois do jogo. - Farkle responde e eu e Lucas nos olhamos por alguns segundos.

- Vai ter que ser você. - digo.