Little Monster - Gyutaro e Você

01

Você não lembra do exato momento em que veio parar nesse lugar, mas lá estava você lavando o chão do distrito de entretenimento. Não era grande coisa para você, mas está aqui aos dezenove anos e sem nenhum marido deixava a desejar.

Diferente das cortesãs e prostitutas você não tinha uma aparência estonteante, era apenas normal, talvez com alguns quilinhos a mais o que, em sua cabeça, dificultava que qualquer homem decente se aproximasse de você. Era uma mentira muito óbvia. Que homem realmente decente vai em busca de tais companhias? Quer dizer que todos têm a liberdade de se divertir, mas aqui nada estava certo.

Não existia amor verdadeiro, apenas o desejo e a luxúria.

•••

E tudo iria bem até que a primeira morte em muito tempo aconteceu. Você conhecia a garota. Ela era bonita e jovem, talvez um rosto promissor dentro do distrito e perdê-la foi um grande baque para a casa na qual você trabalha, mas se não fosse por isso talvez você não estivesse lá sob o olhar predatório do seu próprio demônio particular.

Aqui estava você limpando o chão mais uma vez, a sujeira não era feita por você, mas quem se importava? Essa era sua posição atual já que não tinha atrativos o suficiente para ser uma das damas da casa de entretenimento e por isso você aceitava tudo o que ela dizia e ofereciam a você.

Era tudo para sobreviver.

Justiça? Isso não existia para pessoas como você.

Varrer, limpar e lavar. Essa era sua vida.

Hoje em especial havia muitos lençóis a serem lavados quando terminar de varrer e foi o que você fez, com uma pilha de lençóis numa cesta você caminhou em direção ao riacho atrás da vila, perto da floresta. Não era um bom lugar para uma moça estar desacompanhada, mas quem realmente ligava para isso? Certamente não seus patrões. Desde que você entregasse todo o material limpo pouco importava o que iria acontecer contigo.

O que era meio triste para falar a verdade.

Sem família ou amigos para se importar, apenas você e seu sonho tolo de encontrar alguém que te tire desse buraco miserável. Mas quem iria fazer isso? Não existia nenhum salvador e suas preces eram levadas pelo vento a lugar algum.

Você estava condenada a este lugar, limpar, lavar e varrer em um ciclo sem fim. Nesse dia em especial, depois de lavar os lençóis você voltou para a casa a qual trabalhava, o sol já havia ido embora e era uma noite escura sem lua. Como de costume você foi pelos fundos para que ninguém te visse.

Era de se esperar que um ou dois bêbados estivesse ali na sarjeta, mas dessa vez o que você viu lhe tirou o juízo. Era aquela garota, a garota nova que estava caída no chão enquanto uma criatura estava em cima de seu corpo esquartejado. O sangue era tanto que o chão de terra não absorvia com a rapidez que fluia do corpo sem vida. A criatura. Um demônio, você presumiu, olhou para você.

Olhos penetrantes e raivosos te miraram quando os dentes afiados pingavam sangue.

Você deixou a cesta de roupas cair e saiu correndo.

Grande erro.

Ele é um caçador e você havia acabado de se tornar a próxima presa.

Num salto sobrehumano o demônio parou no telhado olhando você correr pateticamente, mas antes que você chegasse ao beco onde sairia na rua ele desceu bem na rua à frente.

Seu corpo era num formato estranho, muito magro na cintura, mas braços desenhados com músculos, o cabelo rebelde verde e duas foices, uma em cada mão além das manchas pretas espalhadas pelo corpo e uma calça de tecido era tudo em seu corpo.

— Onde pensa que vai?

A voz da besta era grave, roupa e sofrida. Você até tentou lhe responder, mas não conseguiu, sua garganta travou de medo.

— Uma coisinha bonita como você se sente insultado na minha presença? — sorriu de maneira que beirava a loucura — Não vai me responder? — deu um passo em sua direção e você deu dois para trás.

Seu medo parecia alimentar o demônio de um jeito que você não tinha ideia. Mas então ele parou, ficou sério olhando diretamente para você e então foi embora, pulou pelos telhados e sumiu na escuridão.