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Não tinha muito o que fazer, essa era a verdade

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Não tinha muito o que fazer, essa era a verdade. Você estava fadada a uma vida miserável onde quer que olhasse. Depois de ficar sozinha no seu cantinho lágrimas teimaram em sair, mas sua expressão ainda era a mesma apática de antes. Ao limpar-se no andar de baixo você via as roupas arruinadas com sangue de pessoas que foram tão cuidadosas com você. Não tinha mais ninguém ali e você passava o pano por sua pele tirando toda a sujeira e sentimentos que dominavam seu coração. Não era fácil ver aquela água ser tingida de vermelho.

Quando você voltou para se deitar e quem sabe aguardar a morte, usando uma roupa diferente e muito bonita que havia sido dada por Daki, o irmão assustador dela estava lá te esperando.

Ele olhou para você e inspirou o ar.

— Ótimo, sem cheiro de sangue, apenas o seu.

— Vai me matar agora?

— Por que eu mataria você?

— Por que me manteria viva?

— Cale-se e vá deitar.

Quieta e obediente você fez o que lhe foi ordenado. Contudo ele não saiu como você esperava, ele sentou ao seu lado e ficou te encarando emburrado. O que ele não entendia era por que você estava tão deprimida. Você deveria estar feliz, agora tinha voltado para casa e estava sob a tutela dele e de sua irmã.

Ninguém nunca, jamais encostar em você novamente, a menos que queria ter as mãos arrancadas e a cabeça decepada.

— Não vai falar comigo? — ele perguntou.

— ...

— Deve estar grata.

— ...

— Agora o sol já vai nascer, descanse, eu vou ficar aqui com você até dormir.

Você fechou os olhos e tentou dormir, mas a presença dele estava quase lhe oprimindo como um animalzinho em defesa. O tempo passou e continuou naquela mesma posição até que se virou de supetão assustando o demônio que guardava seu sono.

— O que quer de mim? — você se atreveu a perguntar.

Ele se assustou olhando para você com curiosidade, é verdade que ele estava querendo fazer contato com você, mas não imaginava que isso ocorreria agora e de forma tão repentina.

— ...

— Diga-me. — você disse.

Ele olhou para baixo quase envergonhado, você diria se isso se enquadrasse dentro de um perfil de um demônio.

Para você um demônio seria vil, cruel, maligno.

Tudo isso se encaixava no que você poderia ver nele, na aura sombria que ele carregava, nos olhos famintos que viam o ser humano como gado a ser abatido e nas mãos que carregam mais sangue inocente do que você poderia contar. Tudo isso descreveria Gyutaro, tudo isso seria plausível, mas por agora ele estava desviando o olhar e em sua cabeça maquinava o que lhe dizer.

— Só... — começou — só quero sua...

— Minha o que?

— Companhia.

— Oh! — aquilo não era o que você esperava, de fato.

Aquelas simples palavras te pegaram desprevenida. Sua companhia? O que é que você tinha para partilhar? A dor de uma vida solitária? De qualquer modo, por algum motivo ele não lhe parecia aquele monstro de antes. Com isso você se sentou e ele se afastou brevemente. Olhando para Gyutaro, sentado ali você disse:

— De todas as pessoas, porque eu?

— Hrrrmm... — ele grunhiu antes de responder — Gosto do seu cheiro.

— Meu cheiro?

— O sangue.

— Ah...

— É doce, — devaneou — doce como aquele dia... Aquele dia. — fechou os olhos em completa nostalgia — como aquela tarde. — sua feição mudou, ficou dura — Mas isso foi há muito tempo.

— Quanto tempo?

— Tempo demais. — se levantou — Vou para meu ninho, mais tarde Daki vai te chamar para servi-la. Não se preocupe, a dona dessa casa não vai tocar ou levantar a voz para você.

Agora sozinha, olhando para a fresta de luz que escapava por entre os pequenos buracos da parede de madeira você viu o dia nascer mais uma vez e então se viu com o coração no batendo rápido no peito pela tristeza dos eventos ocorridos anteriormente e o corpo cansado com a fadiga de uma noite agitada.

Ao voltar a se deitar você ficou quieta ali como se não existisse e orando aos céus que tudo não passasse de um pesadelo mais uma vez.

Que seu demônio particular estaria a um passo de distancia.

Little Monster - Gyutaro e Você Onde histórias criam vida. Descubra agora